Capítulo 14

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Segunda-feira já havia chegado e eu não estava preparada para voltar para escola. Ainda mais depois das fotos vazadas na internet. Ja estava até vendo a quantidade de garotas que vão querer me matar dentro e fora da escola.
Mesmo depois de um coquetel de remédios, eu ainda estava um pouco resfriada. Eu até tentei inventar que não estava bem para não ter que ir para escola, mas mesmo gripada, meu pai não cedeu e eu tive que ir para escola na força do ódio.
Como já sabia que iria virar o foco das fofocas e dos olhares de julgamento assim que pisasse na escola, preferi ir separada dos meninos, para ver se assim eu chamo menos atenção. Pedi que Pietro me desse uma carona, já que ele era um dos únicos que ainda acreditava que eu não era uma vadia que entrou no time só para dormir com os garotos.
Assim que ele estacionou o carro na frente de casa, entrei em seu Audi preto.
— Bom dia puta do time. — diz Pietro com seu sarcasmo de sempre
— Dá um tempo Pietro! — digo fechando a porta do carro
— Que foi? Só estou te treinando para os comentários hoje na escola. — diz ele rindo
— Não tem graça! Não quero nem ver como vai ser hoje! — digo
— Relaxa! O máximo que podem fazer com você é te afogar na piscina da escola.
— Pô! Isso me animou, valeu pela ajuda! — digo sarcasticamente
Nós estávamos nos aproximando cada vez mais da escola. Pedi para que o motorista de Pietro parasse o carro bem longe das pessoas. Logo que ele estacionou, senti um calafrio instantaneamente. Queria ficar mais tempo lá dentro do carro, sem encontrar ninguém, mas sabia que, quanto mais eu evitava, pior iria ser. Assim que entrei na escola, tentei agir como se os olhares mortíferos e os cochichos não fossem para mim. Mas a cada passo que eu dava, mais difícil ficava. Acho incrível que as pessoas não fazem nem questão de disfarçar que estavam falando da minha pessoa. E quando achei que as coisas não podiam piorar, elas pioraram. Pietro foi chamado na sala dos professores por conta das olimpíadas de matemática. Ou seja, eu estava sozinha andando naqueles corredores que pareciam uma selva cheia de predadores.
Não levou muito tempo para começarem a pegar no meu pé. Quando Pietro estava ao meu lado, as meninas não tinham coragem de mexer comigo, mas logo que ele saiu, as coisas foram de mal a pior. Um grupinho de garotas que eu nunca tinha falado na vida, esbarrou em mim me empurrando contra os armários. Logo em seguida uma outra garota que também nunca tinha nem visto "acidentalmente" derrubou meu celular no chão.E quando cheguei na sala, as meninas que sentavam no canto colocaram o pé para eu tropeçar.
— Ops! Foi sem querer! — diz ironicamente a garota que colocou o pé na minha frente após eu me desequilibrar
Se elas acham que eu vou ficar chorando pelos cantos por um tropeço, elas estão muito enganadas. Pisei com tudo no pé da mesma garota que me fez tropeçar.
— Ops! Foi sem querer! — digo com as mesma ironia
Ela e o grupinho de quatro amigas ficam frustradas e fecham a cara.
Lembrando! Todo esse caos por causa de um garoto! UM GAROTO! O psicológico dessas meninas devem estar muito destruído para elas fazerem tudo que estão fazendo por causa de homem. Estou vivendo o que? Uma série coreana que tem na Netflix?
Vou direto para minha carteira e deito minha cabeça sobre a mesa, mas obviamente não iria ter paz naquele lugar. Sinto uma bolinha de papel amassada batendo em mim. Finjo que não percebi e continuo de cabeça abaixada. Logo em seguida jogam mais um bolinha mas eu ainda me mantenho no mesmo jeito até que eu ouço um "O puta do time, não tá vendo que tamo te chamando!" de uma voz masculina complementada com risos de mais uns três garotos. Levanto minha cabeça e abro uma das bolinhas de papel amassada.

"Quanto é para dormir com a puta do futebol?"

Logo em seguida ouço as risadas do grupinho de machos heteros que tem a síndrome de superestrela.
Amasso o papel novamente, me levanto e vou em direção dos garotos que me incomodavam.
— Uau! Não é atoa que Nick Jones quis ficar com você! — diz um dos garotos quando me aproximo
— E aí gatinha! O que eu preciso para dormir com você também? — diz o outro garoto me puxando pela cintura
— Para começar, noção! — digo dando uma cotovelada na sua barriga — Vocês estão no que? No quinto ano? Pega essas bolinhas de papel e usa para tapar sua boca para não ficar mais falando merda por aí! — digo enfiando as bolinhas de papel na boca do garoto
Me viro para voltar para meu lugar e o terceiro garoto tenta bater na minha bunda mas eu seguro sua mão antes que se aproxime. Aperto com força o pulso do garoto deixando-o surpreso com a minha força que pelo visto não esperava.
— Deixo te falar uma coisa! Uma ligação e você é expulso dessa escola. Isso é assédio! Não te ensinaram isso não? Faça isso de novo comigo ou com qualquer outra garota que eu quebro esse seu braço de princesa! — digo apertando com mais força ainda
Me viro novamente e volto para o meu lugar.
— Machona! Só que se aparecer! — diz uma garota cochichando para a outra
É sério isso? Eu fui assediada, defendi as garotas e eu realmente tenho que ouvir isso? Qual é o tamanho do cérebro das garotas daquele colégio? Parece que eu tô vivendo em outra realidade, não é possível! Por isso que nossa sociedade continua sendo extremamente machista, um assédio no meio de todos e ninguém faz nada a respeito. Cansada de tudo aquilo eu me levanto, pego minhas coisas e saio da sala.
Começo andar sem direção dentro daquela escola enorme e procuro algum lugar que eu consiga ficar sozinha, sem meninas malvadas pegando no meu pé, sem caras escrotos me assediando, apenas eu. Depois de andar por uns 15 minutos, acho uma escada de emergência do lado de fora do prédio onde não havia sinal de uma alma viva.
Sento-me em um dos degraus. Meus olhos começam a se encher de lágrimas involuntariamente e aos poucos elas iam se escorrendo no meu rosto. Posso até parecer durona, que consegue ligar modo foda-se para tudo, mas continuo sendo apenas uma adolescente que quer ser aceita no ensino médio. Finjo não ter medo na frente dos caras, mas me assusta saber que algum deles pode me assediar a qualquer momento. Desde que mudei para aquela escola, minha vida se tornou um inferno. As lágrimas não paravam de cair, me sentia fraca, vulnerável e principalmente, sozinha.
De repente ouço barulho de alguém descendo as escadas. Rapidamente limpo o meu rosto.
— Relaxa, sou eu. — diz Nick sentando do meu lado
— Ah, oi! — digo com a voz falhando de tanto chorar
— Desculpa, tudo isso que está acontecendo é por minha causa.
— A culpa não é sua, você não fez nada de errado, nós não fizemos, e mesmo que tivéssemos feito. O problema seria nosso, não da escola inteira. Que raiva! Não aguento mais essa escola! — digo começando a chorar de novo — E qual é o grande problema de eu querer jogar futebol? Não é uma coisa normal no século XXI? Porque continuam implicando tanto comigo por isso? E porque eu preciso ser uma vadia pra isso?
— Respira! — diz Nick pegando em meu rosto e virando ele, me olhando no fundo dos olhos
Fica um silêncio, apenas ele me olhando.
— Vem comigo! — diz ele pegando no meu braço e me puxando

Eu cresci, vocês mudaram!Onde histórias criam vida. Descubra agora