Capítulo 05: Sonhos e Lembranças.

5 2 0
                                    

Estava chovendo, quando Kirishima acordou. Em dez dias em que habitava Aurora, era a primeira vez que via um temporal recair sobre o reino; dez dias, pois estava contando, mas sabia que logo perderia a conta. Ali, não se contavam os dias, mas sim as demarcações de acordo com as estações. As aulas com Midoriya estavam fazendo efeito, mesmo que Eijirou preferisse grandemente as saídas e aventuras com Kaminari; ele sabia se divertir, bem mais do que o Feiticeiro que lhe mandava concentrar-se em livros e anotações.

Kirishima se remexeu na cama, mas o barulho não lhe deixou dormir novamente. No quarto enorme, a falta de luz por conta das nuvens pesadas dava um clima não só chuvoso ao início da manhã, como também monótono, sabia que era manhã pois não ouviu muita movimentação pelos corredores. Levantou-se, aprontou-se casualmente e saiu pelos corredores. Toda manhã, Uraraka vinha lhe dar bom dia, mas todo o tratamento especial estava começando a incomodar Eijirou. Ele queria ser livre ali, onde sabia ser seu lar.

Sem perceber muito, Eijirou acabou entrando no conhecido sistema de corredores circulares, que rondavam um enorme jardim, com uma bela cerejeira ao meio. A chuva caía fortemente ali, e Kirishima sorriu ao observar a bela visão, depois entrou no salão de portas enormes de madeira, que sempre ficavam fechadas. Normalmente, a biblioteca não era seu lugar favorito no palácio, mas como não poderia fazer nada sem a companhia adequada, não queria abusar da generosa hospitalidade do Rei.

Ah, o Rei. Kirishima disfarçou os olhares ao pensar nele, mesmo que ninguém estivesse vendo. Caminhou pela biblioteca, até uma plataforma superior, no canto esquerdo. Bakugou, Katsuki Bakugou. Eijirou mal o via, devido a nova rotina para uma nova convivência com tantas diferenças, e pelo fato de que ele não era nada mais, e nada menos, que o próprio Rei. Kirishima pensava nisso com frequência, e sentia-se um incômodo para ele, mesmo que o próprio dissesse o contrário.

A chuva parecia se intensificar. Kirishima não pegou nenhum livro, apenas sentou-se no parapeito de uma das janelas superiores. Sentia-se extremamente limitado; não conseguia ler nada, sem um encantamento especial de Izuku, e mal entendia o que os moradores locais falavam. Apenas os mais influentes entre a Coroa e as Fronteiras possuem runas de comunicação, usadas para que quaisquer línguas não fossem um obstáculo entre contatos com outros reinos.

Eijirou também possuía uma, mas Midoriya explicara que ela precisava de tempo e de convivência o suficiente com o povo para que voltasse a agir; por isso os passeios com Kaminari eram tão importantes, além de serem bem legais. A runa de Comunicação era algo semelhante a um meio sol na horizontal, abaixo da nuca. Kirishima nunca soube o que aquelas tatuagens em seu corpo significavam, já que não tinham o menor sentido aparente; com o tempo, estava descobrindo.

Os sonhos estavam diminuindo, o que não o deixavam feliz. Bem, graças a eles, havia encontrado Bakugou, havia retornado ao seu mundo, mas também eram eles que lhe davam uma mínima esperança de recuperar a memória a tanto tempo perdida; Eijirou não tinha tantas esperanças, como Katsuki parecia ter. Pouco escutou falar de seu passado em Aurora, e tudo que ouviu, era milimetricamente dito, como se nada a mais pudesse ser falado.

Algo não estava sendo contado a ele, Kirishima já entendia isso. Todavia, era melhor que assim continuasse, por enquanto.

De um pouco mais a cima, Kirishima observou a biblioteca, e algo chamou sua atenção; corredores aos fim do salão, com um formato estranho. Ele desceu do parapeito, e tentou não se perder entre os milhares de livros, era difícil, mas não impossível. Em certo momento, Eijirou temeu que tivesse entrado em um labirinto, a qual não deveria se meter tanto. Aquele era o território de Izuku, não dele, com toda a certeza.

Kirishima suspirou aliviado ao encontrar prateleiras que formavam uma meia lua, e logo a frente, acabavam. Caminhou entre elas, e percebeu que o carpete ali era de um carmesim mais escuro; não era um lugar qualquer. Ali, apenas a luz da vidraçaria ao canto direito entrava, o que não era a melhor das iluminações. Eijirou apertou os olhos, mas depois, todo o seu rosto suavizou, em uma expressão verdadeiramente surpresa.

NO CORAÇÃO DO REI; KiriBaku-Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora