⊱𝐵𝑂𝐴 𝐿𝐸𝐼𝑇𝑈𝑅𝐴⊰
Kirishima não se lembrava de quando sua vida havia começado a ser tão entediante. Na verdade, ele não lembrava de muita coisa.
Era impossível se lembrar, quando em sua cabeça, estava apenas vivendo o cotidiano. Era normal se sentir tão perdido daquela forma? Com certeza não era. Por mais que procurasse ajuda, seu reflexo no espelho e os seus próprios pensamentos lhe diziam para fugir, escapar daquele lugar. Daquela vida que não era sua. Não era como se não pudesse sentir felicidade, conforto. Mas na maioria das vezes, Kirishima estava atônito, pensando porque aquele pesar em suas costas existia e nunca desaparecia, não importava o que fizesse ou sentisse.
Gostava de pensar que havia sido sequelas do acidente. Afinal, acordar um dia e não saber mais nada sobre sua própria vida é arrancar alguém de sua realidade com facilidade. Quando acordava, Kirishima sempre repassava tudo o que sabia sobre si próprio, por puro pânico de voltar a ser um cadáver sem alma pelo mundo. Fora explicitamente assim que se sentira naqueles primeiros dias; ninguém se importava, nem mesmo si próprio se importava se um dia poderia acordar ou não.
Kirishima não tinha motivo algum para continuar respirando. Nenhum amigo próximo, familiares, nem mesmo uma pessoa amada que lamentaria sua perda. Estava literalmente apenas existindo, mas sem ter certeza se assim gostaria de continuar fazendo, por muito mais tempo. Kirishima Eijirou era solitário, pois o mundo não era o seu mundo.
"As vezes, temos que estar no lugar certo, mesmo que na hora errada."
Kirishima abre os olhos. Em toda a sua vida de cinco anos, nunca soubera o brilho flamejante que paira neles nos primeiros instantes em que os abre. Eles somem então, tão rápido quanto seu sonho perfeito, a única linha do tempo em que sente um total conforto interno. Que não se sente um intruso em sua própria vida.
Junto com as lágrimas aflitas, vem a saudade matante, que Eijirou daria de tudo para não sentir. Saudades de algo que não existia.
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-Bom dia, Eijirou -A terapeuta sorri com educação, como sempre sorria- Posso perguntar se está melhor hoje?
O ruivo sorri, o mesmo sorriso que dava todas as vezes. Falso e vazio, mas sincero para quem o via. Exatamente como o próprio Kirishima.
-Estou sim, mas se estivesse totalmente bom, não estaria aqui!
Ela ri baixinho, se confortando na poltrona, na frente do outro.
-Todo mundo precisa de terapia em algum momento, todas as pessoas desse mundo.
"E por isso ele não é o meu mundo, eu odeio isso"
Kirishima concorda, assentindo e ainda sorridente. Quando firmava aquela máscara alegre, era impossível de qualquer outra pessoa quebrá-la. Mantinha-se firme nela, exatamente nela, para que não se desfizesse totalmente e que calharia com uma crise existencial que sabia que nunca poderia sair. As coisas só ficavam cada vez mais confusas e mais difíceis de serem compreendidas para que Eijirou pudesse ainda explicar o que sentia.
Era como se estivesse se afogando. Era isso, se afogar. Na maré que você sabe que não vai voltar.
-E como tem andado os sonhos, Kirishima?
O ruivo abaixa minimamente a cabeça.
-Ainda sonho com frequência.
Ela ainda mantém o caderninho na mesinha ao lado, mas Eijirou sabe que ela não irá demorar a usá-lo. Odiava o maldito caderno.
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NO CORAÇÃO DO REI; KiriBaku-Livro 1.
FanfictionKirishima é um homem que não tem a maioria de suas memórias, e por cinco anos, sonha com um lugar que sabe que deveria voltar, mas que não se lembra de conhecer. Sua vida definha com a dúvida e a saudade, mas em um quase acidente, o desconhecido que...