Kirishima logo entendeu que não teria uma nova aventura todos os dias. Algumas dessas aventuras eram monótonas, calmas e chatas; eram as mais desafiadoras. Consistiam em horas que corriam lentamente, enquanto se encontrava sentado na enorme biblioteca, com livros e mapas empilhados em torno de si, como fortalezas que o aprisionavam ali. Não tinha para onde escapar.
Eijurou não se lembrava de sua época escolar, e agora, se perguntava se teria a tido mesmo, quando menor. Bakugou lhe contou que havia nascido no mundo humano, levado para Aurora quando era muito pequeno, e criado ali; então não, certamente ele não teve a educação formal dos humanos. Mas o que estava tendo ali era muito semelhante, exceto pelo fato de ser o único aluno de um professor rabugento e irônico.
Midoriya, é claro. Kirishima ainda aprendia sobre o povo local, suas várias espécies... mas certamente, Åurio era sua maior dificuldade. Depois do incidente entre a discussão do Rei, a língua pareceu sumir de si novamente; não, ela ainda estava ali, deveria estar. Agora, Izuku lhe mostrava um conto fantasioso infantil, tentando ajudá-lo a aprender a fala do zero, como se alfabetizasse uma criança. Isso estava estressando Eijirou profundamente.
─Isso é cansativo... ─Ele resmungou, esfregando os olhos com as palmas das mãos─ Não podemos fazer outra coisa? Qualquer coisa!
─É importante que você consiga entender o Åurio...
─Eu sei, mas estou ficando com sono ─Kirishima fez biquinho e jogou os cabelos carmesim para trás─
Izuku revirou os olhos, mas fechou o livro que tinha em mãos. Pensou um pouquinho, e então se levantou.
─Você acredita em algum Deus?
A pergunta pegou Eijirou desprevenido. Com as sobrancelhas levantadas, ele encarou o feiticeiro mover gentilmente os dedos. Rapidamente, os livros levitaram e foram aos seus respectivos lugares nas prateleiras gigantescas. Os mapas se fecharam e voltaram para os jarros repletos de papéis antigos e cheios de coordenadas.
─Bom, não...
Midoriya fez um movimento sutil com a cabeça, como se o certificasse que havia entendido.
─Eu sei que no seu mundo, a religião é bem diversa ─Um livro levitou de uma prateleira mais próxima até a mão pálida do rapaz─ Aqui, é um pouco diferente... é do seu interesse?
Kirishima apoiou o rosto em uma das mãos e assentiu, com um sorriso no canto da boca. Nunca havia sido religioso, mas estudar tais assuntos e compreender o quão diversificados eram os seus ramos sempre foram coisas que deixavam Eijirou repleto de curiosidade. Ali, ele ainda não conhecia nada do religioso ou místico.
─Vou te contar o que a maioria de nós, Åurios, acreditamos. ─Midoriya sentou-se e abriu o livro, abrindo juntamente a palma da mão; uma caneta tinteiro foi até ela, e ele começou a escrever algo. Kirishima entendeu depois que ele não leria nada, por aquele momento─ Mas saiba que não são todos. Assim como no seu mundo, alguns acreditam no que estudam, outros, no que vêem... e nos outros reinos das fronteiras, é a mesma coisa.
Kirishima assentiu, como uma criança que esperava uma bela história de terror, antes de dormir. Isso fez Midoriya sorrir de canto.
─Você conheceu o lago de vidro, não é?
Kirishima assentiu novamente.
─As lendas mais antigas dizem que nossos deuses vieram de lá. ─Midoriya levantou as mãos, sinalizando duas coisas diferentes. Em cada palma, o vento fresco da biblioteca formou duas formas humanóides pequenas, em cima dos dedos do Feiticeiro. Kirishima arregalou os olhos─ Os gêmeos foram deixados debaixo da árvore, quando nada ainda era formado, e só existiam as sombras, a escuridão e o infinito.
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NO CORAÇÃO DO REI; KiriBaku-Livro 1.
FanfictionKirishima é um homem que não tem a maioria de suas memórias, e por cinco anos, sonha com um lugar que sabe que deveria voltar, mas que não se lembra de conhecer. Sua vida definha com a dúvida e a saudade, mas em um quase acidente, o desconhecido que...