YOUR HEART STOPS

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Catarina

Observo parada no corredor pela janela do quarto seu corpo fragilizado na cama do hospital. O rosto belo era uma lembrança do passado, o câncer tinha tomado tudo dela principalmente sua beleza que tanto se preocupava. Seu semblante é triste, a boca cinza e os olhos fundos eram difíceis de encará-lo.

— Não vai entrar? — Tom perguntou, marido de minha mãe.

— Estou tomando coragem. — murmuro, abraçando o meu próprio corpo. — Sinto que ela não quer ninguém com ela nesse momento.

— Você nunca se importou muito com o que ela queria. — ele disse, em tom de voz irônico.

Não respondo. Ele ao menos conhecia a nossa família.

Tudo o que eu fiz todos os últimos anos foi se importar com a opinião da minha mãe. Se estava bonita o suficiente para casar com alguém, no peso ideal, namorando pessoas importantes para manter nosso nome na sociedade, nunca falar de tênis em eventos para não tirar a atenção dela. Sempre foi sobre ela.

Entrou no quarto deixando o homem sozinho que não demorou muito para sair do hospital correndo igual uma criança perdida.

Puxo a cadeira ficando mais perto da portuguesa, assisto seus olhos se abrirem com dificuldade. Ela não esboçou nenhuma reação ao me ver.

— Eu queria que fosse mais fácil assistir você ir embora. — digo, coçando a garganta. — Todos acham que é. Acham que te odeio. — digo, soltando uma risada fraca. — Eu não consigo te odiar. Tudo o que eu faço até hoje é sobre você. Sempre quis de alguma maneira te orgulhar. — murmuro, sentindo as lágrimas caírem sobre o meu rosto. — Queria que você tivesse percebido que esse era só o meu sonho e sonhasse comigo. Que tivesse notado que o Joaco é a razão de estarmos bem, que ele é o lar que sempre procurei em você e sempre me negou. Até na sua morte você me tortura. Mas eu te amo demais para não estar aqui.

Levanto meu rosto limpando as lágrimas, desviando do seu olhar ao perceber que ela também chorava em silêncio.

— Não mereço seu perdão. — ela murmurou, com dificuldade por causa dos aparelhos.

— Mas eu te perdoo. — digo, segurando suas mãos trêmulas. — Muito antes de você estar aqui.

Catarina... — uma voz mais forte me chamou. — Cate, cariño. Acorde!

Abro os meus olhos encarando o jogador que segurava o meu corpo com seus braços. Analiso suas expressões faciais nitidamente preocupado, me sento na cama com a sua ajuda sem entender o que tinha acontecido.

— Está tudo bem, corazón? — ele perguntou.

— Só uma lembrança ruim. — digo, segurando sua mão fortemente para amenizar a dor que estava sentindo no meu coração.

— Imaginei. — ele disse, passando sua outra mão no meu rosto em toque singelo. — Depois da noite passada, fiquei preocupado, por isso passei aqui no seu quarto para saber se precisava de algo e quando percebi que estava se mexendo e suando demais.

Estava tendo muitas lembranças sobre minha infância. Todos os traumas que ela tinha me causado por todos aqueles anos e até a sua morte passando como se fosse uma navalha em minha pele.

— Obrigada. — única coisa que consigo dizer.

Uruguaio ainda me olhava com tamanha preocupação, pelo seu olhar sabia muito bem com quem estava tendo lembranças.

O meu coração se tranquiliza, de alguma forma a presença do jogador me deixava mais calma em momentos assim.  Sentia que o meu corpo nunca tinha esquecido do jogador, o seu toque era reconhecido, como se fosse necessário para me manter viva.

— Posso fazer um chá para você descansar melhor, cariño. — ele disse, colocando a mão que tinha soltado agora na minha perna.

— Não precisa, Jo.

— Kika. — ele murmurou, repreendendo minha tentativa de afastá-lo.

Levanto a minha cabeça encarando seus pares de olhos verdes. O jogador também manteve o seu olhar sobre meu corpo, procurando respostas.

— Por que tenho que reviver os meus piores momentos com ela? — pergunto, fazendo ele engolir seco.

— Sinto muito por você ter que reviver tudo isso novamente, mas não precisa passar por isso sozinha. — ele disse, seriamente. — Da última vez passamos por isso juntos. Estou aqui mais uma vez com você.

— Eu te contei sobre tudo o que ela me fez, certo? — pergunto, ele assentiu com a cabeça. — Eu estava me tornando ela, né?

— Não. — ele disse, rapidamente. — Nunca diga algo assim novamente.

— Mas eu estava. Aos poucos voltando a conversar com pessoas da alta sociedade, tentando te enfiar em eventos insuportáveis. Procurando uma solução para meus problemas em casa com aquelas pessoas horríveis. — digo, ele segurou a minha mão por cima da cama entrelaçando nossos dedos. — Querendo uma aprovação deles.

— Não sou nenhuma vítima nesta história. — ele disse, dando os ombros. — Eu me afastei de você. Não estava mais indo em nenhuma partida sua, não te apoiava como antes, achava que você não precisava mais de mim.

— Eu precisava. Ainda preciso.

— Me odeio tanto. Não tenha um dia que não me sinta culpado. — ele murmurou, com a voz trêmula. — Se eu não tivesse sido tão cruel na noite de natal, nada disso teria acontecido. Você não estaria enfrentando tudo isso novamente.

— Talvez. Mas eu precisava me lembrar o motivo de estarmos juntos. — digo, sentindo as batidas do meu coração falharem. — A razão pelo qual eu te amo.

— Nós dois precisamos. — ele disse, inclinando sua cabeça grudando na minha. — Eu fecho meus olhos e ainda consigo ouvir o barulho dos aparelhos do hospital, quando olho em seus olhos ainda consigo ver o seu rosto sem vida. Seu coração parou por segundos. Eu quase te perdi para sempre.

— Estou aqui agora, amor. — sussurro, pegando sua mão e colocando no meu peito para sentir o meu peito batendo. — Sente ele batendo, você não me perdeu.

— Mas eu não te mereço, cariño. — ele sussurrou, com certa intensidade.

— Joaco. — digo, abrindo meus olhos observando seu rosto se desmanchando em lágrimas. — Não chegamos até aqui para desistir.

— Também não podemos fingir que aquilo não aconteceu por minha causa.

— Você sempre diz que as coisas sempre acontecem de alguma por uma razão. Não temos controle nenhum sobre a vida.

Me afasto do seu corpo para que pudesse abraçá-lo. Seus braços fortes cobrem o meu corpo com um sentimento único, a sensação que estive procurando a minha vida inteira e sempre esteve bem na minha frente.

— Eu te amo tanto, Jo.

— Eu te amo muito mais. — ele disse, com a voz abafada.

— Então parei de luta. Essa é a linha final, você não me perdeu.

YOU'RE LOSING ME - JOACO PIQUEREZOnde histórias criam vida. Descubra agora