Quarta-Feira

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Em seu quarto escurecido, Sayori fitava o teto, perdida em um turbilhão de pensamentos sombrios. A fome era um eco distante, uma necessidade física negligenciada diante da tormenta emocional que a consumia. A garota se perguntava quando foi a última vez que realmente se permitiu desfrutar de uma refeição, quando as cores da comida não eram apenas uma ilusão para esconder a escuridão que permeava sua mente.

O estômago roncava, uma advertência suave que ela persistia em ignorar. Era difícil distinguir se a sensação de vazio vinha da fome física ou daquela que parecia corroer sua alma. No entanto, o simples ato de se levantar e encarar a cozinha parecia uma jornada monumental.

Na sala silenciosa, o brilho pálido da geladeira iluminava o ambiente, destacando a tristeza em seus olhos. Sayori hesitou, uma batalha interna se desenrolando diante do campo de batalha da cozinha. A decisão de abrir a geladeira foi uma pequena vitória contra a escuridão que a envolvia.

Entre os restos solitários e os recipientes vazios, ela encontrou algo que poderia ser chamado de refeição. Uma maçã solitária, negligenciada em sua busca por respostas. Ela a pegou, olhando-a como se fosse uma peça rara em um tabuleiro de xadrez.

Ao morder a maçã, um sabor familiar dançou em sua língua, mas a alegria fugaz foi rapidamente obscurecida pelos pensamentos sombrios que persistiam. A fome não estava apenas no estômago, mas também na alma faminta por algo mais do que simples nutrição física.

Sayori, em sua solitude alimentar, percebeu que a batalha contra as sombras não seria vencida apenas com a ingestão de alimentos. A verdadeira refeição que ela ansiava estava nas conexões humanas, na compreensão e no apoio que, por enquanto, permaneciam fora de alcance.

Ao saborear a maçã, os pensamentos de Sayori flutuavam entre o gosto adocicado e as sombras que pairavam em sua mente. Era como se cada mordida trouxesse consigo a dualidade de sua existência, uma luta constante entre a busca por prazer momentâneo e o peso duradouro de sua tristeza.

Os olhos cansados fixavam-se no nada, enquanto a maçã se desvanecia lentamente em suas mãos. A solução para a fome física não era suficiente para acalmar a voracidade de sua alma em busca de algo mais, algo que escapava à compreensão mesmo nas pequenas alegrias do dia a dia.

Sayori ponderava sobre a natureza fugaz da felicidade, como se tentasse segurar areia em suas mãos. Às vezes, a maçã era apenas uma maçã, mas outras vezes, era um lembrete do vazio que persistia mesmo em meio às coisas aparentemente simples.

Ainda assim, enquanto ela se afundava na contemplação, uma pequena faísca de esperança tentava romper as nuvens escuras. Uma voz sussurrava que talvez, só talvez, houvesse um caminho para além da escuridão que a envolvia. Seus olhos, embora cansados, carregavam a esperança de que os raios de luz pudessem penetrar o véu de tristeza que a aprisionava.

Em meio ao silêncio de sua casa, Sayori percebeu que a verdadeira jornada não estava apenas em alimentar o corpo, mas em nutrir a alma com as conexões que, por um breve instante, ela acreditou ter perdido. A maçã, agora apenas um símbolo transitório, era um lembrete de que mesmo nas sombras, a promessa de um amanhã mais brilhante persistia.

Sayori suspirou enquanto as palavras ressoavam em sua mente, um diálogo interno entre o lado que buscava a luz e o lado afogado na escuridão.

— Por que é tão difícil, afinal? — murmurou, questionando a si mesma como se pudesse extrair respostas do eco vazio de seu quarto.

— Porque é uma jornada, Sayori. Às vezes, as coisas ficam difíceis antes de melhorar. — respondeu uma voz tímida, uma centelha de otimismo tentando romper as amarras da tristeza.

Nuvens de Chuva | Sayori!Onde histórias criam vida. Descubra agora