Quando a noite chegou, os ferais agiram.
Fang e Rusth caminharam pela mata densa até chegar à fronteira com o vilarejo. Apenas uma pequena ravina os separava do povoado, que estava em completo silêncio.
- Estamos próximos da meia-noite – disse o lobo enquanto contemplava o céu estrelado. Fang, por outro lado, estava com a atenção direcionada para a pequena casa no fim da rua.
Nesse momento, uma leve brisa soprou na floresta, trazendo consigo o aroma suave de terra molhada e o balançar lento das folhas das árvores. Rusth se permitiu fechar os olhos e curtir o momento, já Fang parecia não se importar com o vento gelado invadindo seu corpo. Seus olhos dourados seguiram firmes, totalmente voltados para o alvo.
- É provável que todos já estejam dormindo - o tigre supôs de repente. - Humanos não lidam bem com o escuro.
Rusth abriu os olhos lentamente e observou o povoado em silêncio.
- Então não vamos perder tempo – o lobo se preparou para correr. – Quanto mais rápido entrarmos, mais rápido saímos. A última coisa que desejo é criar mais problemas com humanos.
Fang também se posicionou para partir em velocidade. Ele flexionou as patas dianteiras e baixou a cabeça para olhar com mais atenção.
- Lembre-se do plano, eu entro na casa e pego a comida; você fica de vigia do lado de fora.
Rusth acenou positivamente com a cabeça, sem olhar para seu parceiro.
- Ótimo. Chegou a hora – o tigre anunciou, dando início à investida.
***
Aubrey procurou deixar Susan o mais confortável possível durante a caminhada. Curiosa, ela o encheu de questionamentos. Quis saber como era a vida em Menestréia; o que um Cavaleiro Real fazia no tempo livre; como era o palácio e o rei William; pediu detalhes sobre a Insurreição Bastarda, entre muitos outros assuntos. Aubrey respondeu a tudo com paciência, sem demonstrar incômodo. Quando as perguntas enfim cessaram, ele aproveitou a brecha para investir.
- E você, como é viver numa província onde existem animais que agem e pensam como nós?
- Não tão interessante quando você pode imaginar – Susan ajustou a posição da tocha em suas mãos antes de dar de ombros. – Sabe, eles não se misturam conosco. Enquanto estamos na área urbana, eles vivem exclusivamente nas florestas. Eu mesma nunca fiquei cara a cara com um feral.
De repente, um profundo silêncio pairou no ar. Aubrey saiu de um caminhar suave para passos mais firmes enquanto ponderava sua próxima fala. Então, com a calma de quem escolhe cuidadosamente as palavras, ele finalmente quebrou o silêncio.
- Desculpe o questionamento repentino, é porque soube que as coisas não andam muito bem entre as duas raças. Entretanto, como fiquei no palácio desde que cheguei, não pude confirmar isso.
- A relação entre nós já foi melhor – ela admitiu sem encará-lo. – Há alguns meses, um soldado da Guarda Provincial foi assassinado dentro da floresta e a investigação concluiu que o responsável foi um tigre feral. Existe uma certa tensão, mas não saberia dizer o nível. Tudo isso teve pouco impacto na minha rotina.
Aubrey cessou repentinamente sua caminhada e estendeu a mão para que Susan também parasse. Ele pensou em pegar o arco preso nas costas, mas logo desistiu. Diante da mudança de postura do Cavaleiro, a jovem logo se preocupou. Percebendo isso, Aubrey buscou tranquilizá-la.
- Não se preocupe, senhorita. Está tudo sob controle.
- Então por que você parece tão tenso? - Susan sussurrou com cautela.
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Floresta Setentrional
FantasyEste livro integra a série As Crônicas de Zordium, mas pode ser lido de maneira independente. A província de Pandorn vive momentos de incerteza. Humanos e ferais - animais dotados de razão - estão próximos de iniciar uma guerra civil. Enquanto o reg...