Capítulo 7.

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"Eu te ajudei muito e na primeira oportunidade você me abandonou"

"Mas eu não abdico daquilo que você fez por mim"

"Fica ai então, achando que tem uma vida própria, achando que é dona de si e não sabe fazer nada direito"

O diálogo que acabara de ter com sua mãe, repetia incontáveis vezes na mente de Luana, o bastante para que suas pernas travassem em sua cama e sua coluna não permitisse que ela fizesse o movimento para se levantar.

Ainda segurava o celular que tinha acabado de desligar, logo depois de sua mãe dizer o quão ingrata Luana era, e mesmo que ela tentasse, não conseguia desacreditar das suas palavras.

Quando seu coração começou a acelerar, e os olhos se marejaram, Luana já sabia do que se tratava, ninguém melhor para provocar suas piores crises de ansiedade.

Luana deixou que as lágrimas rolassem e que a tristeza a envolvesse profundamente, pedindo para que a cama a confortasse, mas não confortou, tudo aquilo estava parecendo nada para ela, ela estava se sentindo o nada.

A dor é como se você estivesse desaparecendo aos poucos, como se nada mais importasse porque na verdade não importa mesmo.

O corpo formiga por cada centímetro, a respiração se torna cada vez ofegante e ela já não sabe o que faz parte da sua imaginação e o que faz parte da realidade.

Luana olha em volta e a única coisa que vê é um borrão, não conseguia enxergar nem o sol que invadia seu quarto pela janela,.

Em meio a dor incessante que invadia seu corpo por conta do formigamento, Luana se arrastou da cama para o chão, onde se deitou em posição fetal e só deixou que sua crise acontecesse.

Socos vindo de suas próprias mãos atingiam sua cabeça, tudo que Luana pensava no momento era o quão inútil e despreparada ela era, e ela queria afastar esses pensamentos de si.

Mas tudo se parece tão difícil quando o peso do mundo parece estar em seus ombros.

Ouviu a campainha tocar e apenas encarou a porta de seu quarto, que mesmo estando a passos de distância, pareciam km.

Não se mexeu.

A campainha tocou mais duas vezes, e logo depois seu celular.

Era Matheus.

- Vai embora - ela disse assim que conseguiu alcançar seu celular e atender.

- Como assim, vai embora? - Matheus estava colado no portão encostado na parede com o dedo indicador na campainha - Eu sei que você tá em casa, eu to vendo seu chinelo.

- Matheus, vai embora - sua voz estava fraca, a ultima palavra quase não saiu de sua boca.

- Lu, você ta bem? - antes que ela pudesse responder, Matheus escutou seu choro vindo do outro lado da linha - Luana, o que aconteceu?

Luana colocou o celular ao seu lado e chorou mais, choro daqueles que doem, na alma.

- Luana - Matheus chamou novamente - deixa eu te ajudar, Lu, abre aqui.

- Eu não posso.

- Como não pode? Tem alguem ai?

- Não... - cambaleou com a cabeça - não consigo.

- Claro que consegue Luana, se você não abrir eu vou pular o portão - ela seguiu chorando, e não levantou, não porque não quis, ela realmente não conseguia, sua mente não a deixava - foda-se, to entrando.

E desligou, logo depois ela escutou os passos pelo corredor de fora da casa, e Matheus já estava na sua janela.

Ele pulou a janela e se sentou ao lado dela no chão.

Luana que ainda não tinha olhado para ele , olhou assim que sentiu a mão dele encostar em sua perna.

- Eu estou aqui - Matheus olhou no fundo de seus olhos, e a partir dali Luana percebeu que sim, eles eram amigos e ela podia confiar nele.

Em um gesto que nem ela sabe como, ela se sentou ao lado dele e encostou sua cabeça em seu ombro, Matheus a abraçou.

Seu choro foi cessando aos poucos, seu corpo se acalmou e seus pensamentos ruins foram desaparecendo.

- Me fala?

- Minha mãe provoca isso, quando ela está em paz até demais ela me liga para me lembrar como sou um nada...

- E você permite que isso te atinja?

- Tem como não permitir? Ela é minha mãe, e me diz coisas, eu devo aceitar sem perder minha razão - Luana buscou refúgio para o seu olhar, evitando que mais lágrimas caissem, em vão, assim que fechou seus olhos, as lágrimas rolaram.

- Eu não sei quem te disse isso, mas essa pessoa ta errada, se ela tira a sua razão, você não tem que manter por perto.

- Foi por esse motivo que eu sai de casa, Matheus - ela secou seu rosto.

- Mas ainda deixa isso atingir você - puxou um dos cachos de Luana, que voltou como uma mola - você é uma pessoa incrível, Lu, você tem uma luz magnifica, alma boa, você tem muito significado e não pode deixar que nem sua própria mãe diga o contrário.

- Tá bom - respirou fundo - eu não queria ficar nesse estado.

- E tudo bem estar, eu jamais te diria o contrário.

- Obrigada - eles seguiram juntos um do outro, abraçados ali encostados na cama e olhando para um ponto fixo, sem dizer nada e tentando não pensar também.

- Que tal ludo? - Matheus levantou para que Luana o olhasse.

- Vamos, vai ser legal.

Pegaram duas cadeiras, algum lugar onde pudessem apoiar o tabuleiro e sentaram no corredor de fora da casa.

- Bebe um pouco de água- ele veio da cozinha com um copo e uma garrafa.

- Obrigada Matheus, de verdade, eu não ia cometer nenhuma loucura, mas muitas coisas poderiam ter acontecido... Por que veio aqui?

- Eu não sei, eu só tava passando e pensei em te chamar... e não precisa agradecer - ele lhe entregou o copo com água.

- Agradeço de qualquer forma.

- Somos melhor amigos a partir de agora - ele se sentou - sempre, eu digo sempre, a qualquer momento que você precisar de mim, pode me chamar, eu paro tudo o que eu estiver fazendo pra te ajudar.

- Não vou te incomodar com toda essa merda - ríspida.

- Não, Luana olha pra mim - pediu e ela obedeceu - Qualquer momento!

- Ok.

- Luana, você é incrível! - sorriu.

Vista do alto da favela - Mc Don Juan.Onde histórias criam vida. Descubra agora