Capitulo 4.

177 19 5
                                    

Luana não tinha apenas os seus dias de glória, apesar de toda sua luta, ela não estava totalmente recuperada do trauma.

Foram séries de acontecimentos, mas ainda sim o que mais a perturba em sair de sua cidade nem sempre é o incêndio.

Sentados na calçada, Matheus a pergunta o porquê dela estar com blusas de frio no calor que fazia.

- Não to bem.

- Por que?

- Por que você virou um merda igual esses cara?

- Para de voltar as coisas pra mim, já te disse que eu não tenho nada pra te contar, eu mudei pra cá e minha vida é essa que você tá vendo - Matheus dizia isso com um sorriso no rosto, Luana reparava muito nos seus detalhes, mas era uma pessoa convincente.

- Olha, eu só não acho que queira ficar ouvindo eu falar esse tipo de coisa.

- Se você não me disser, você não vai saber.

- Tá, mas se você disser isso para algum dos seus amigos, eu vou te matar 1 Matheus apenas revirou os olhos - Lembra do Augusto?

- Aquele que era da minha sala?

- Esse mesmo, bom, a gente meio que tem um lance faz uns 3 anos.

- E é só isso?

- Bom... Não era nada demais, a gente se encontrava, ficava e depois ele ia embora, mas depois não era só isso,  a gente passava horas deitados conversando sobre nós, eu sentia que era amor, que ele gostava de mim, que ele era a primeira pessoa a realmente gostar de mim... mas parecia que ele tinha vergonha da minha pessoa.

- E por que ele teria vergonha de você?

- Não sei, era o que me parecia - deu de ombros.

- Continua - Matheus acendeu o baseado, dando uma longa puxada.

- Af, já cansei dessa história - Luana pegou o baseado das mãos de Matheus e ele apenas arregalou os olhos a vendo fumar.

- Você é folgada pra caralho, tua sorte é que eu gosto de você - ele tomou uma pedra do meio fio e a atirou no meio da rua - mas agora que você começou, você vai terminar.

- Ai Matheus, caralho... - ele sorriu - depois que a casa onde eu morava pegou fogo, eu passei pouco mais de um mês na casa da minha mãe antes de vir embora, o Augusto foi lá pelo menos duas vezes na semana, mas na última vez que ele apareceu, eu o contei que estava de mudança e ele surtou...

*Flashback*

- Mas por que você tá falando que vai embora? assim, sem mais nem menos?

- Augusto, você viu o que aconteceu com a minha casa? eu quero mudar de vida logo, já que eu fui obrigada...

- Mas você pode recomeçar aqui, poxa.

- Eu não tenho mais estruturas para aguentar esse lugar, Augusto, eu não tenho mais nada, eu não tenho nada que me prenda aqui.

- Você tem eu!

- Desde quando? - Luana sentiu seu olho encher de lágrimas - olha para nós dois, estamos nus enquanto discutimos, acabamos de nos amar nessa cama, mas é só nessa cama, o que te faz me prender aqui além disso?

- Eu gosto de você, eu amo você...

- Mas isso não é o suficiente! - ela apontou o dedo na cara do garoto - o amor não te exclui, o amor não te usa, ele não te esconde, não tem vergonha de você...

- Eu não sinto vergonha de você, Luana, caralho...

- Então por que você finge que não me conhece quando tá na rua? Quando você anda com outras garotas além de mim? Por que estamos 3 anos fazendo essa mesma merda de sempre? POR QUE?

- Eu não sei! PORRA, eu não sei! - Augusto procurou suas roupas no chão e as juntou em cima da cama, colocando peça por peça - eu não vou insistir pra você ficar, você deve viver o caralho da sua vida do jeito que você quiser...

- Não era você o motivo de eu continuar aqui?

- Eu não sou, você me disse que não sou...

- Augusto... você...você sabe que é só você me pedir, você sabe.

- Fica? - Augusto a puxou pela cintura a mantendo perto dela.

- Não assim... pede...

- Eu não vou fazer isso, Lu, não posso.

- Não pode ou não quer?

- Não... só não - ele colocou seu boné na cabeça e abriu a porta do quarto.

Luana saiu feito um furacão, abriu o portão com uma raiva absurda de Augusto, e esperou que ele pegasse sua bicicleta para sair.

- Você vai voltar para se despedir?

- Quando vai?

- No início da semana que vem.

- Eu volto...

*Flashback*

- E ele não voltou, depois disso enviei um texto para ele no ônibus ainda, implorando para que ele tivesse consideração pelo meu amor, e o quanto eu o amava, mas que estar vivendo aquilo estava me machucando... E agora eu estou aqui, contando a história para uma pessoa que eu odeio.

- Ainda nessa de odiar?

- Faz parte - ela deu risada dando um tapa no ombro de Matheus.

- Pelo menos você já está rindo - ele sorriu - você fez o certo, Lu, se algo não cabe a você, ou não é o suficiente pra você, o melhor é a distância.

Luana permitiu que sua cabeça descansasse sobre o ombro de Matheus, o fazendo sorrir e ela também. E permaneceram assim por mais alguns minutos.

- Sei de uma coisa que vai melhorar seu dia, espera ai um pouco - ele levantou e foi correndo para virar a esquina, em minutos voltou com uma moto que parecia ter acabado de sair da concessionária.

- Hahaha, onde vai me levar?

- Sobe ai, prometo que vai ser da hora.

- E o capacete?

- Sobe logo, minha filha, sobe!

Luana obedeceu e logo Matheus deu partida, subindo a favela onde eles moravam, até chegar no fim de um beco.

- Vem, agora é só subir essa escada.

No ultimo degrau, Luana já não se lembrava mais nem como era respirar, mas a sua recompensa estava logo a frente, uma vista linda, luzes por todos os lados, dava para ver pelo menos mais da metade de São Paulo dali.

- Foda! - comentou.

- Demais! Agora esse lugar é seu, sempre que se sentir mal, te dou toda a permissão de vir para cá e fazer o que quiser, só não esquece nunca de apreciar a vista e lembrar muito bem de mim!

Vista do alto da favela - Mc Don Juan.Onde histórias criam vida. Descubra agora