No dia seguinte eu acordei bem cedo, normalmente eu perco o horário do café e acabo saindo direto para a escola, porém, se eu disser que consegui pregar os olhos na última noite eu estaria mentindo, a imagem da Carol morta não saia da minha cabeça.
Entrei no banheiro para tomar um banho, liguei o chuveiro e apenas me coloquei em baixo dele, apoiei minhas mãos na parede a minha frente, fiquei cerca de 5 minutos desligada do mundo tentando esquecer tudo que eu vivi na última noite, porém, sempre que eu fechava os olhos, aquele cara... Aquele maldito aparecia nos meus pensamentos, sério, quem é ele?
Me enxuguei, vesti meu uniforme e desci as escadas em direção a cozinha, nossa casa é relativamente grande, os quartos ficam todos no segundo andar, a escada de acesso fica na lateral da sala de estar, andando mais para o lado esquerdo da casa fica a sala de jantar e também a cozinha, ao chegar me sentei ao lado de Joshua, sua faculdade decretou 3 dias de luto devido a morte de Carol então ele ainda não havia saído:
- Quer dar uma volta depois da aula Ju? Podemos ir naquele restaurante que você gosta - Meu irmão tentava me animar porém sem sucesso, na verdade eu mal conseguia escutar as palavras que saiam da boca dele, mas antes que eu pudesse responder meu pai decidiu falar:
- O médico responsável pela autópsia da Caroline, disse que a julgar pela entrada da lâmina, a morte dela foi um suicídio - Meu pai é um cirurgião renomado, normalmente eu quase não o vejo em casa, nossa mãe morreu quando eu tinha 5 anos então não tenho muitas recordações dela, nosso pai nunca deixou faltar nada em casa, sempre tivemos tudo do bom e do melhor, há 6 anos ele se casou com uma historiadora renomada, ela é uma mulher muito boa que sempre nos tratou com carinho, porém, devido ao seu trabalho ela passa a maior parte do tempo em viagens, então normalmente somos apenas nós 3 em casa:
- Quem fura os próprios olhos antes de se matar? - Respondi com certa irritação, meu pai tem o dom de falar sobre assuntos delicados como se não fossem nada, isso me deixa extremamente irritada com ele, Joshua normalmente serve como um equilíbrio pra manter as coisas em ordem, porém ele estava bem abalado com aquilo, afinal Carol era sua amiga:
- Eu não sei, de qualquer forma isso é falta de Deus, essa juventude está perdida mesmo - Meu pai é uma pessoa extremamente religiosa, do tipo que tudo pra ele tem haver com religião, para ele coisas como, depressão e ansiedade, nada mais são do que falta de Deus na vida dos jovens:
- Por que tudo pro senhor tem que envolver religião? A Carol não era uma perdida, era uma garota inteligente com um futuro brilhante, era amiga do Joshua e morreu ontem, ele mesmo viu a cena e você fala disso como se não fosse nada?
- CALE A BOCA! - Antes que eu pudesse terminar meu pai deu um grito tão alto que chegou a fazer eco na casa, eu apenas me encolhi como sempre faço e fiquei parada segurando o choro:
- Você não passa de uma moleca que não sabe nada da vida, malmente estuda e passa seus dias trancada no quarto sem procurar algo de útil, e essa tal de Caroline, até onde eu sei ela vivia indo a festas e usando drogas com seus amigos, isso não é ser uma perdida?! Ou vai me dizer que ela era um tipo de inspiração pra você? Vai querer acabar como ela?! - Levantei e apenas saí correndo, abri a porta e saí rapidamente em direção a escola, ao chegar próxima da floresta eu desabei e comecei a chorar, me sentei na calçada e apenas fiquei ali, chorando tanto que chegava a soluçar.
Após me acalmar eu voltei a caminhar em direção a escola, porém escutei um barulho vindo da floresta, era como um gemido ou gemido de dor, fui seguindo o barulho que me levou até o antigo coreto, e bem no centro do coreto e ao chegar lá, não tinha ninguém:
- De onde veio esse barulho?
- Podemos fazer algum barulho por aqui se você quiser - Um calafrio percorreu a minha espinha ao escutar a voz grave e levemente rouca que estava tem próxima de mim que eu podia sentir sua respiração, ao me virar me deparei com aquele cara, o mesmo que eu havia encontrado da última vez no mesmo local, rapidamente tentei me afastar dele andando para trás porém acabei prendendo meu pé em uma vinha, quando pensei que iria cair fui envolta por um braço grande e levemente malhado que me segurou com uma facilidade incrível, meu corpo não parava de tremer enquanto imaginava as piores cenas possíveis:
- Cuidado, eu não quero que você se machuque... Não agora - Disse enquanto colocava sua outra mão em minha perna e ia seguindo lentamente para a coxa em direção a minha virilha, antes que ele pudesse alcança-la rapidamente o empurrei e tentei retomar minha compostura, porém o medo era tanto que minhas pernas não paravam de tremer:
- Eu te vi ontem a noite, você estava na capela não estava? - Minha voz tremia e eu tinha que me concentrar muito para não acabar chorando novamente:
- Sim, e você interrompeu meu momento, ainda por cima foi embora sem sequer se apresentar, garotas sem educação merecem ser punidas sabia? - Falou com uma voz mais sexy enquanto olhava cada centímetro do meu corpo sem pudor algum, era como se ele estivesse me violando somente com aquele olhar:
- Você era amiga da garota que morreu? Tá tentando bancar a detetive por acaso? - Disse enquanto caminhava lentamente se aproximando de mim, eu dava alguns passos para trás tentando manter distância, sabia que correr seria um erro, com pernas daquele tamanho ele me alcançaria com facilidade:
- E você, por que estava na floresta naquela hora? Vai me dizer que você matou a Carol? - Minha voz tremia assim como todo meu corpo, meu maior medo naquele momento era o quanto aquele cara parecia exalar perigo de todo o seu corpo:
- Você tem uma imaginação bem fértil, eu não matei sua amiga, seria um desperdício matar uma mulher bonita - Falava enquanto levava sua mão ao meu rosto, segurando meu queixo ele aproximou seu rosto ao meu, estava tão próximo que era possível sentir sua respiração contra a minha, sua mão era gélida, parecia congelar meu rosto com aquele toque:
- Quem é você então, oque você quer comigo? - Falei com a voz trêmula, já sem forças nas pernas estava completamente indefesa contra ele:
- Eu sou Kian... Apenas Kian, é um prazer conhecê-la, Jullie Green.
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.Arte conceitual da Jullie:
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Shadow Garden - Ato 1
RomanceAs pessoas sentem raiva umas das outras e eu nunca entendi ao certo o motivo para isso, simplesmente por desconhecer algo, sentem medo e repulsa. Eu sou um pouco diferente, acabo sendo atraída pelo desconhecido, e as vezes até me metendo em algumas...