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Acordo sentindo enjôo e corro para o banheiro vomitar, tem se tornado recorrente esses últimos dias, conversei com mamãe e Nanda, ambas acham que eu estou grávida.
Ouço som de passos e logo Gustavo entra no banheiro.
- Vamos ao médico hoje Alissa, chega de adiar.

- Eu estou bem, eu juro...

- Não você não está bem, vamos tomar um banho e ir ao médico, vem.- Gustavo me ajuda a levantar e entrar no box do chuveiro, sempre me sondando provavelmente com medo que eu caisse ou tivesse um mal estar. - Sua menstruação não desceu esse mês.- Fala após um tempo de silêncio.

- Você acha que, vamos ter um filho?- Olho para minha barriga a qual não demonstrava nem um sinal se quer de uma gravidez.

- É bem provável, mas vamos ao médico para ter certeza.- Concordo com a cabeça voltando a ficar em silêncio.

A ideia de poder estar carregando uma criança em meu ventre me faz ficar animada, mas ao pensar melhor seria o momento certo?
Eu estou pronta para ser mãe? Não, acho que ninguém nunca está até se tornar.

Inúmeras preocupações enchem a minha mente, tais essas relacionadas a um futuro que eu nem sei se é de fato certo.

Desligo o chuveiro e Gustavo me entrega uma toalha.
- Está preocupada?- Faço meu caminho até o closet, coloco uma roupa larga e confortável arrumo meus cabelos em um rabo de cavalo, calço minhas botas e me olho no espelho, Gustavo permanece atrás de mim provavelmente esperando minha resposta.

- Estou. - Falo com pesar, minha cabeça dói um pouco conforme eu me esforço para falar.- Se eu realmente estiver grávida, eu não sei se vou conseguir ser uma boa mãe...

- Você não vai estar sozinha Alissa, eu sou o seu marido, e se você for mãe eu vou ser pai, e eu vou te ajudar em tudo.- Gustavo faz um carinho na minha bochecha e eu preciso me afastar.- O que foi?

- Nós precisamos ir ao médico.- O caminho até a cidade foi uma tortura, as estradas de chão cheias de buracos fez um caminho turbulento, assim que cheguei ao hospital estava ainda mais enjoada do que quando sai de casa.

A emergência estava praticamente vazia facilitando a minha vida, não demorou para que eu fosse chamada.
- Vamos precisar tirar o seu sangue, para os exames.- Fala a enfermeira.- e depois vamos te dar um soro, então se puder relaxe.- A voz da enfermeira era mansa de uma forma que me dava sono, Ela é nova e tem uma aparência cansada, talvez de tanto trabalhar.

- Senhorita, o processo pode demorar um pouco, como está tarde sugiro que durma um pouco, e o senhor.- Se vira para Gustavo que segura minha mão de forma carinhosa.- Nós temos café, e alguns petiscos na sala ao lado.

- Eu adoraria um café!- Falo animada com a Ideia do líquido quente.

- A senhorita não pode, me desculpe, somente água e claro os petiscos.- A enfermeira sai me deixando a sós com Gustavo.

- Nada de café para você.- Fala com um grande sorriso.

- Essa cadeira não parece ser confortável.- Observo a cadeira de plástico.- Porque não fica na poltrona?- Aponto para uma poltrona reclinável de frente para a maca em que estou.

- Muito longe de você.- Da de ombros e então beija as costas da minha mão.

- Não está nem a dois metros...

- Porque não dorme em? Se eu sentir sono eu vou para a poltrona.- O sorriso torto brinca em seus lábios e isso me faz sorrir também.

- Eu não consigo dormir em hospitais, isso desde de pequena, então vai lá, é mais confortável.- Insisto querendo que ele fique bem, e também porque ele trabalha na terra, e precisa estar descansado.

- Deixe de teimosia Alissa

- Mas quem está teimando aqui é você.- Eu não falo ideia do porque mas estou irritada, porque ele só não me obedece?

A porta do pequeno quarto é aberta por uma enfermeira que carrega alguns papéis.
- Senhorita Alissa, temos uma boa notícia.- Fala com um grande sorriso.- Você está grávida!- Meu queixo caí lá nos pés com a confirmação, ainda sem acreditar olho para Gustavo que se encontra do mesmo jeito que eu.- Parabéns aos papais.

- Gustavo?- Chamo ainda de boca aberta, grávida? Eu estou grávida?- Me diz que não é um sonho.- Meus olhos ardem com as lágrimas acumuladas.

- Não é um sonho amor, vamos ter um bebê.- Gustavo me abraça de forma carinhosa e então olha para a enfermeira.- Por quanto tempo vamos ficar aqui?- Pergunta feliz de mais para se conter.

- Só até o soro acabar, aí vão estar liberados, você quer que eu adiante o pré natal e as ecografias?

- Sim doutora!- Falo animada de mais, um neném, eu tenho um neném em mim! Mamãe e papai vão ficar tão felizes, e os filhos de Ananda vão ser os priminhos do meu neném.

- Tá bom então, quando saírem, passem na recepção, é só dizer o seu nome e eles vão te mostrar tudo certinho, boa sorte!- Deseja antes de sair do quarto novamente.

- Tem um neném em mim! - Falo para Gustavo.

- E quem colocou aí foi eu - De seus olhos o orgulho transborda feito uma fonte.

***

Parada em frente a casa dos meus pais, vejo o que um dia foi o meu lar se tornando cinzas, altas labaredas de fogo tomam toda a casa.
Meu desespero se dá ao motivo de meus pais ainda estarem lá dentro.
Gustavo me segura com força enquanto me debato nos braços dele, aconteceu uma explosão um pouco antes de chegarmos para dar a notícia, eu vou ter um bebê...

Mas e depois, eu ainda vou ter pais? Eu ainda vou comer as tortas que mamãe faz? E papai, ainda vai contar as histórias exageradas dele?

A cor, o calor e a espessura do fogo, não me deixam pensar direito, estar sendo privada de ajudar meus pais também não, tudo o que consigo é gritar em desespero.

" não leve eles!" Peço olhando para o céu estrelado.

- Mamãe! Pai!- Grito sentindo minhas pernas moles quando o segundo piso da casa cede.

Meus pais, vão conseguir sair?

Eu AlissaOnde histórias criam vida. Descubra agora