16-Rachel é a faxineira

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Chego na parte do acampamento para comer. Morrendo de fome é o que estou.
Como sempre.

Há bastante comida numa mesa que não sei como elas conseguiram carregar. Porque não uma mesinha de acampamento qualquer gente?

Pego presunto, queijo, arroz, vegetais,... e me sento no chão mesmo.
Ao lado de um pequeno lago.

Enquanto como, penso sobre a oferta. Será?
Lúcia vem até mim. De longe só se vê uma massa de cabelos ruivos andando rápido.
Senta-se ao meu lado. Os pés despidos balançando na água. E me olha.
-o que você fez foi corajoso. Tipo, se jogar do penhasco.
-obrigada-respondo com a boca cheia de comida.
-mas também foi muito estúpido.
-acho que queria testar meus poderes.
-admito que são impressionantes. Mas controle-os. Ou pode causar estrago. Experiência própria.
-já teve experiências desagradáveis com seus poderes?
-sim. E você talvez tenha ainda mais.
-como se controla? Tipo, não deixar os poderes te levarem.
-bom, primeiro eu tentei reprimi-los, mas isso nunca dá certo. Depois, tentei exercícios mentais, também Não deu certo. Aí resolvi que não há o que fazer. Você tem que guia-los com o pensamento.
-ooookay...
De repente me ligo de uma coisa, Lúcia é uma menina. Então...
-você recebeu a proposta de Ártemis? -solto.
-estava esperando que perguntasse isso. Sim.
-e o que disse?
-que não deixaria meus amigos e parentes. E que não sou boa no arco.
- eu disse que iria pensar.
Ela olha para o céu e depois para a saída do pequeno bosque para a área das barracas.
-já vou indo, está ficando tarde.
-okay.

E segue para a saída me deixando sozinha.
A ruiva tem razão, não vou deixar minha mais nova família e meus únicos amigos pra entrar na caçada. Embora eu goste de arcos.

Depoid de comer, deixo meu prato no chão ao meu lado e resolvo testar um pouco meu controle sobre os poderes.
Olho para o lago e penso nele seguindo meus comandos. A água sobe em uma linha não muito fina. Imagino-a subindo e as formas na minha mente materializam uma borboleta feita de água. Vejo as árvores distorcidas por trás dela. E a borboleta começa a voar. Em volta de mim, e pousa na grama verde dali. Assim que me desligo de sua imagem ela se desmantela e vira água que é absorvida rápido pela relva.
Eu amo borboletas.
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Sigo de volta ao acampamento das caçadoras e arranjo um esbarrão com Zara, a vigilante. Ela me olha de forma azeda e segue seu caminho.
Mais um motivo para eu não vir a ser caçadora. Não quero virar uma velha chata e amarga no corpo de uma menina de 13 anos. Quero um dia morrer depois de uma vida de verdade. Não depois de viver tanto tempo direto.

Continuo andando até achar Iam e Lúcia em volta de uma fogueira, estão segurando sacos de dormir.
-não vamos dormir em barracas?-pergunto já sabendo a resposta.
-elas não são muito hospitaleiras.-responde Iam.
-certo. Onde estão nossas coisas?
Lúcia aponta para o outro lado da fogueira e lá estão nossas mochilas.
Pego a minha e abro. Ai está meu livro. Estou lendo-o à tanto tempo por causa de meu probleminha com letras que agora sei ser aquela coisa de se conectar com o grego.

Nem tento ler agora. Mas acho meu celular. Nele tem aquele jogo da cobrinha. Além disso, achei biscoitos.
Para minha desgraça, assim que pego meu celular e o ligo, Lúcia arregala os olhos cor de amêndoa e Toma meu telefone das minhas mãos, quebrando-o, jogando no chão, pisando e dando uns pulinhos.
Me irritou profundamente.
-POR QUE VOCÊ FEZ ISSO DIABOO????
Ela se senta calmamente como se nada tivesse acontecido.
-celulares são como um GPS para monstros. É como se você botasse em todas as placas e luzes de Nova York: EI EU ESTOU AQUI VENHAM ME PEGAR!!
-mas eu não podia só desligar?- choramingo.
-não. É Melhor prevenir.
Bufo.
Largo minhas coisas ali e vou até meu saco de dormir.
-a gente vai ter que dormir ao relento mesmo?
-não está tão frio. Dorme logo que amanhã vai ser um longo dia até chegarmos a uma pista do paradeiro daquele objeto.
-que nem sabemos o que é.
Me enrolo e viro. Achei que não ia conseguir dormir, mas assim que fecho os olhos já estou em outra realidade...

Estou denovo no campo, mas agora há três caminhos. Um tem um túnel de árvores distorcidas e grama amarelada e marrom.
Outro é de terra batida e uma casa grande que afinal reconheço. É o orfanato onde eu vivi des de que minha mãe morreu.
O nome dela era Joanna.
O último caminho tem a relva verde e flores com árvores que tapam um pouco da luz do sol. Uma trilha de tulipas guia o caminho.

Ouço uma voz feminina meio mística em meus ouvidos, como se o vento passasse por eles e sussurrasse um segredo:
-escolha!

Bom, não posso ficar aqui mesmo? Ta tão bom aqui.
-não. Escolha.

A voz era maternal e quase me forçava a obedecer. Mas eu não seria tão fácil.
-então quero saber o que são esses caminhos.
E a voz responde claramente:
-ande logo menina! Não tenho o dia todo!!!!!
-ta ta ta.

Pela aparência escolho o caminho das folhas secas. Amo esse tipo de paisagem.
Assim que entro tudo fica meio escuro d há uma leve passagem de luz. O que faz parecer um pôr do sol.
Sigo até encontrar meus amigos dormindo ainda. Estranho, como vim parar aqui?
Mas noto que atrás deles o caminho continua.
Sigo pela continuação até chegar no templo do último sonho. Mas desta vez estou sozinha. Ando até as cadeiras e tronos que estão à volta de uma grande (grande mesmo!) Mesa de bronze. Caramba! Isso deve pesar mais de uma tonelada!!!!!!
Ao chegar bem perto, vejo Rachel limpando e varrendo embaixo da mesa. Estranho não?
Seus cabelos estão milagrosamente presos com perfeição em um coque. E ela usa um vestido e um avental. Sim. Um vestido e um avental. E agora nem parece me notar.
De repente tudo começa a girar e eu ouço um grito vindo de cima. Algo como:
-Margo pare de gritar!!
E acordo.




A Heroína do OlimpoOnde histórias criam vida. Descubra agora