Rhysand
Após uma breve troca de palavras no arco do que agora eu descobri ser uma espécie de acampamento, Amren e eu estávamos em uma estranha sala com paredes de madeira. Eu estava sentado em uma poltrona clara um pouco gasta e Amren estava de frente para mim, em um sofá verde-musgo. Minha imediata segurava um copo de chá fumegante em suas mãos, ao que parecia desconfortável demais para avisar o centauro - descobrimos que era assim que a espécie dele se chamava - que não bebia nada que não fosse vermelho-sangue.
O centauro voltou para a sala, dessa vez sentado em uma cadeira deslizante.
– Cadeira de rodas, é como chamamos aqui. Fica mais fácil de se locomover na Casa Grande, o teto não é alto o suficiente para comportar meu traseiro. - Ele disse de bom humor. Amren trocou um breve olhar comigo e continuou em silêncio.
– Agradeço a hospitalidade…- Eu disse.
– Quíron.
– Quíron. - Acenei. - Deve estar curioso para saber o porquê aparecemos aqui.
– Desconfio que tenha algo a ver com a Profecia de Prythian, acertei? - Quíron sorriu. Servindo-se de uma xícara do escuro chá que havia feito, ele pigarreou - Há milênios a Oráculo Phoebe profetizou sobre uma terra de magia esquecida pelos deuses. Uma terra em que grandes guerreiros de orelhas pontudas e dotados da magia viveriam em harmonia. Até que…uma guerra assolaria a terra, tão perigosa que poderia causar uma ruptura no equilíbrio entre as dimensões e trazer severas consequências para cá. Dizia a oráculo que os filhos da deusa da magia estariam condenados a buscar essa terra e restaurar o equilíbrio e ordem natural das coisas. Vejo que vocês têm orelhas pontudas.
Apesar da seriedade em seu tom de voz, a ruga do sorriso nunca deixou seu face. Eu havia simpatizado com o centauro. Naquele momento decidi que deveria deixar a máscara de Grão-Senhor da Corte Noturna de lado e contei-lhe tudo: minha história, as cortes de Prythian, a vinda de Amarantha e os anos de submissão que vivemos, a separação entre os humanos e feéricos, a ascensão de Hybern. Quíron ouvia atentamente. O relógio pendurado na parede era o único som a preencher a sala além da minha voz. Amren encarava a parede atrás de mim.
E então foi a vez de Quíron falar. Nos contou sobre a criação do mundo, sobre a origem dos seus deuses, o panteão, a disputa entre os poderes, as guerras até o presente momento. Quando terminou, o sol dava seus primeiros sinais no horizonte. O chá havia esfriado e, pela primeira vez, Amren piscou seus olhos.
– É difícil de acreditar. - minha imediata disse contrariada.
– E mesmo assim sabe que é verdade. - Quíron rebateu com um breve sorriso.
– Os deuses, é claro, não tocam neste assunto. É delicado, ainda mais agora que a Mãe Natureza foi contrariada. - Ele suspirou. - Ainda estamos colhendo os efeitos do último embate.
– Não viria até aqui se não soubesse que esta é a nossa única opção. - Eu disse colocando a xícara na minha baixa à minha frente.
– Sim, sim, eu entendo. É inevitável. - Quíron concordou. - Há um ano um de nossos melhores campistas saiu em uma missão para recuperar um cálice perdido. Nicholas Storm, filho de Hécate, a deusa da magia e das encruzilhadas. Os Storm são conhecidos aqui no Acampamento Meio-Sangue, há gerações eles descendem dos deuses, são fortes, há muito sangue divino e poder correndo por suas veias. Nicholas não era diferente e, assim como o pai e a irmã, tinha um certo sexto sentido para profecias…ele desapareceu. O último registro que se tem dele foi em uma cidadezinha entre o Reino Unido e a Irlanda, segundo uma ninfa.
Amren franziu a testa.
– Isso é…? - ela perguntou.
– Sim, é onde Prythian está localizada. - O centauro respondeu.
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⭐️ Violet Eyes ⭐️- Rhysand
FantasyLucy não aguentava mais sofrer perdas. A morte de seu pai, o descaso de sua mãe e, agora, o sumiço de seu irmão, causaram danos profundos na jovem semideusa. Em mais um dia qualquer no acampamento meio-sangue, Lucy é convocada até a Casa Grande para...