Prólogo

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Seul - Coreia do Sul

Segunda-feira / 5:25 da manhã

Dois anos e sete meses no passado

O celular tocou de maneira desenfreada no bidê ao lado da cama do minúsculo dormitório de solteiro, e Wonbin refletiu duas vezes se deveria ou não tirar os minutos adicionais de sono que geralmente fazia, até recordar com exaustão que sua marmita para o almoço não havia sido preparada na noite anterior.

Logo, não teve outra opção a não ser sentar com agilidade no colchão, com os olhos quase fechando novamente, e calçar os chinelos aquecidos para sair do ambiente chutando tudo o que via pela frente, inclusive um dos caixotes que armazenava diversos sprays de tinta.

A dor que atingiu seu dedão sendo tanta que acabou mancando até a ilha da cozinha, precisando se apoiar no mármore frio para se recuperar da agonia, antes de começar a tirar potes de kimchi, arroz e couve-de-bruxelas da geladeira.

Felizmente Shotaro, seu melhor amigo e colega de apartamento, apresentava um sono pesado o suficiente para sequer dar indícios de despertar.

Segundas-feiras eram os piores dias, então não seria novidade nenhuma que uma forte corrente de azar o acometesse de manhã cedo...

Precisava pegar o primeiro metrô seis horas em ponto, portanto nem poderia ficar se lamentando pelo fato da vida ser tão difícil, quando tal característica acontecia com todos os inúmeros ômegas masculinos de classe média-baixa perdidos no meio da cidade mais populosa da Coreia do Sul.

Pelo menos ainda estava trabalhando... Tratando-se do que costumava repetir para si próprio, visto que o número de desempregados no país só aumentava gradativamente no decorrer dos anos, ao ponto de mais da metade da população conviver com um medo inerente de demissão.

— Você já está saindo? — Wonbin pulou assustado, pois se encontrava prestes a tomar um banho rápido no instante em que o melhor amigo o interceptou, com a toalha e muda de roupa para o serviço em mãos.

Shotaro cruzando o batente da porta do próprio quarto coçando os olhos. O rosto tipicamente fofo amassado pela noite satisfatória de sono.

— Ei, está cedo demais. Volte a dormir. — Era engraçado que, embora fosse o mais novo entre ambos, Park desempenhasse o papel de cuidador.

O outro ômega bufou um pouco, antes de virar de costas e se mover com agilidade até a cozinha, onde o coreano sabia que prepararia uma xícara potente de cafeína para os dois.

— Eu tenho aula mais cedo hoje, de qualquer maneira. — Ah, sim...

Wonbin não decorou direito quais eram os períodos de Osaki naquele semestre, pois vivia chegando em casa tarde da noite, demasiadamente cansado da alta carga horária de trabalho.

Isso porque, apesar de terem se conhecido no campus do departamento de artes da universidade há cerca de um ano e meio atrás, o mais novo acabou tendo que trancar o curso devido a problemas financeiros enfrentados por ele e pelos familiares. Todavia, tal infortúnio jamais mexeria com a dinâmica da amizade, então os jovens ainda conseguiam conviver em completa harmonia.

— Vá tomar banho. Estou passando um café para você tomar antes de sair de casa. — Shotaro praticamente o enxotou, abanando as mãos de forma rápida como um sinal para dispensá-lo.


























— Bom dia, Wonbin-ah.

E não demorou uma hora para Park cruzar o edifício comercial às pressas, como sempre, sendo recebido animadamente por Mujin, o recepcionista do hall de entrada que recém se instalava em seu posto, enquanto apenas acenava para este em troca com um meio sorriso estampado no rosto.

Quebra de condutaOnde histórias criam vida. Descubra agora