— Ele viajou? Mas… Nós acabamos de nos casar — Isabel falou, quase num murmúrio. Então, os olhos dela se encheram de preocupação — Aconteceu algo muito sério, com certeza! Juanita, o que houve?
Juanita nada disse, pois não sabia como entregar aquela notícia à patroa. Sebastián havia viajado porque foi convidado para um jantar em outra cidade. Já estava marcado, mas de todo jeito, a criada achou uma falta de consideração que ele não levasse a esposa.
“E ele já vinha namorando com ela, nada disse…”
Na verdade, ninguém na vinícola sabia que ele iria se casar até dois dias antes do casamento. Ele informou que uma mulher chegaria, deveriam preparar-lhe um quarto de hóspedes longe do dele e que ela, apesar de ter se casado com ele, não tinha autoridade alguma ali. Era como se ela fosse apenas uma pessoa recebendo a caridade dele.
Nenhum dos criados ousou perguntar nada, pois ainda que Sebastián fosse um bom patrão, ele não aceitava ser contrariado em suas ordens. Caso alguém o questionasse, ele ouviria, mas era bom que o argumento fosse plausível, ou ele se irritaria.
— Senhora, gostaria de tomar o seu desjejum? — Juanita perguntou amavelmente. Ela podia ver nos olhos de Isabel que ela era uma mulher boa e a forma como ela se preocupou com o patrão, mostrava o quão inocente a moça estava naquilo.
Isabel sorriu, um pouco tristonha.
— Sim, obrigada.
Ela seguiu Juanita para a sala de jantar, onde a empregada lhe serviu uma xícara de café preto com um pão e ovo. Isabel não estava com muita fome e quis algo muito simples.
A senhora ficou surpresa. Era possível ver pelas roupas de Isabel, pelo cabelo bem tratado, pela pele aveludada, que ela não era uma moça simples, pobre. Mas não pediu nada extravagante. Sebastián havia dito que ela não merecia ser paparicada e nem tratada com requintes, porém, não foi necessário negar-lhe, já que ela nem mesmo havia pedido por tratamento especial.
— O que essa mulher faz aqui? — Rocio perguntou de maneira arrogante. Isabel colocou a xícara de café na mesa.
— O que você quer dizer com isso, Rocio?
Isabel perguntou calmamente, mas Rocio desdenhou com um sorriso de deboche.— Oras, por favor! Você não é ninguém aqui! Só porque assinou um papel e compartilhou da cama do patrão? Você é menos do que qualquer um nesta casa!
Isabel se levantou, e precisou de todo o seu autocontrole para não jogar o café na cara da morena.
“Não vou me rebaixar a isso!”
— Rocio, eu exijo que você me respeite! Ou falarei com Sebastián!
— Pois fale! — Rocio ergueu o queixo — E eu quero só ver a sua cara quando ele lhe disser o mesmo que eu falei. Você não é nada além da puta dele!
Desta vez, Isabel não se aguentou e o estalar do tapa dado no rosto de Rocio ecoou na sala de jantar. Juanita levou as mãos à boca, mas ela não podia culpar Isabel. Rocio tinha passado dos limites.
Rocio, que ficou com o rosto virado para o lado, olhou lentamente para Isabel, os olhos cheios de fúria.
— Você vai se arrepender disso, Isabel!
E ela se retirou dali.
Assim que Rocio já não estava mais na sala, Isabel se deixou cair na cadeira, apaticamente. Ela não podia acreditar nas palavras de Rocio.
— Juanita?
— Sim, senhora? — Juanita perguntou, com pena da moça.
— Sebastián disse algo?
Juanita suspirou.
— Senhora… Talvez seja melhor a senhora falar diretamente com o patrão.
Isabel compreendeu que Juanita não queria lhe dar más notícias. Ela não forçaria a pobre mulher. Mas mesmo sem ter sido rude, as palavras de Juanita deixavam claro que havia alguma verdade no que Rocio lhe dissera.
— Certo. Obrigada. Eu vou ligar para ele nesse momento. Com licença.
— Claro, senhora.
Vendo Isabel se afastar, Juanita rezou para que o patrão mudasse de ideia. Ela conhecia o rapaz há muitos anos, desde que ele era um bebê. Não conseguia compreender o motivo de ele estar fazendo aquilo com a pobre moça. Não era do feitio dele! Por mais rígido que ele pudesse ser, Sebastián era um homem justo e de bom coração.Isabel foi para o quarto dela e pegou seu celular dentro da bolsa, ou melhor, procurou por ele, mas ele não estava lá. Ela olhou debaixo da cama, dentro das gavetas da mesinha de cabeceira e nada. Ao se virar, só então ela se deu conta de algo: as malas dela não estavam mais ali.
Saindo do quarto, Isabel foi em busca de Juanita. A idosa estava saindo de um dos quartos com os lençóis que acabara de trocar.
— Juanita… Minhas malas… — Isabel disse, respirando entrecortado — Você sabe onde estão?
Juanita negou com a cabeça.
— Não, senhora. Eu não entrei no seu quarto.
— Mas… Elas estavam ali quando acordei e agora…
Então, Isabel viu Rocio passando e a seguiu.
— Rocio!
A moça de cabelos castanhos se virou lentamente, com um olhar atrevido.
— O que quer, Isabel?
— Onde estão as minhas coisas?
— Do que está falando, exatamente?
Isabel sabia que a mulher estava sendo sonsa.
— As minhas malas. O meu celular! Até mesmo os meus documentos sumiram!
— Ah… Isso… — Rocio sorriu de leve e caminhou para mais perto de Isabel — Ordens do patrão. Ele disse que você deveria se portar de acordo com a sua nova realidade. Portanto, eu aconselho que vá para o seu quarto, troque-se e vá para a cozinha.
— O quê? O que ele mandou que fizesse… Não, eu não acredito que ele mandou você fazer coisa alguma! — Isabel negou com a cabeça, os olhos cheios de lágrimas e falou com a voz embargada — Eu preciso do meu telefone, para poder falar com ele.
— Não posso entregar nada a você. Se não acredita nas minhas palavras, é problema seu. Mas saiba que quando ele voltar, ele confirmará tudo! — Rocio falou, atrevida — Juanita sabe como ele fica quando as ordens dele são contrariadas… Você não vai gostar.Isabel olhou para Juanita, que concordou com a cabeça.
— Isso não pode ser. Por que ele se casaria comigo? Ele disse… Que me amava.
Juanita sentiu na voz de Isabel como o coração da moça estava sofrendo. Rocio podia sentir, também, porém, ela não se compadeceu nem um pouco.
— Sabe, Isabel, eu estou te dando esse conselho. O único que vou dar a você, de bom grado: obedeça. Obedeça ou ele a fará sofrer dez vezes mais!
Rocio se virou e começou a andar para longe.
— Espere! Eu preciso falar com ele!
— Eu não vou te emprestar o meu telefone — Rocio disse e se foi.
Isabel se apoiou na parede e começou a chorar.
— Senhora… Venha, eu… Eu vou ligar para o patrão.
Isabel olhou para Juanita e enxugou as lágrimas que ainda teimam em escorrer.
— Eu não quero prejudicar você, Juanita.
— Eu mesma falarei com ele. Eu não tenho um celular, mas usarei o telefone da casa. Eu sei o número dele de cabeça. Não confio nesses aparelhos modernos.
Isabel sorriu.
— Obrigada.
As duas foram para a sala e Isabel se sentou no sofá.
— Senhora, não fale nada, tudo bem?
— Sim, sim. Pode deixar — Isabel prometeu, cruzando os indicadores e beijando-os.
Juanita discou o número de Sebastián e esperou. Após três toques, ele atendeu.
— Sebastián Alarcón — O volume do aparelho estava bem alto, para que Isabel pudesse ouvir. Ao soar a voz do homem que ela tanto amava, o coração dela deu um salto.
— Senhor, sou eu, Juanita — Por alguns segundos, Isabel pensou que a ligação havia caído ou ficado muda, pois Sebastián nada disse.
Ele tinha esperanças de que fosse Isabel ligando, quando ele viu o número no identificador de chamadas, mas se recriminou por isso.“Você não tem motivos para ficar esperando contato dessa mulher!”
— Ah, sim, Juanita. Aconteceu alguma coisa? — Ele perguntou, não mencionando Isabel.
— Bom, senhor… É sobre a senhorita que veio com o senhor, ontem.
— O que ela fez? — Ele perguntou e o tom da voz dele mudou completamente. Agora, era gélido.
— Oh, nada, senhor. É que ela quer o celular dela, as malas dela sumiram e… — Juanita olhou para Isabel, antes de continuar — Rocio está dando ordens em todos e sendo grosseira com a patroa.
Sebastián afastou o telefone e suspirou profundamente. Depois, posicionou-o novamente no rosto antes de falar.
— Eu deixei Rocio no comando, Juanita. Sabe que ela é a pessoa que eu mais confio nessa vinícola, tirando você. Mas ela está mais inteirada da administração fora da casa, junto aos capatazes.
— Sim, senhor, eu sei disso, mas… A patroa..
— Ela não é a patroa — Aquelas palavras atingiram Isabel de uma maneira avassaladora — Eu não quero que ela seja tratada como tal. Obedeça a Rocio. E Isabel deve fazer o mesmo. Caso contrário, eu me entenderei com ela quando voltar e ela vai se arrepender!
Juanita olhou para Isabel, que parecia ter ficado com o olhar vazio.
— Eu preciso ir. Ainda tenho algumas coisas a resolver antes do jantar — Ele falou — Não se deixe levar por Isabel. Ela não é esse cordeirinho. Essa mulher não merece o seu carinho e nem a sua consideração!
Ele desligou o telefone e Juanita tomou alguns segundos antes de encarar Isabel.
— Eu sinto muito, senhora.
Isabel riu, se sentindo uma idiota.
— Não, eu não sou “senhora”, Juanita. Sou apenas Isabel. Você não ouviu o seu patrão?
— Ainda bem que já está sabendo do seu lugar — A voz de Rocio foi seguida por panos jogados no rosto de Isabel — Vá se trocar e corra para a cozinha!
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Vingança e Amor - DEGUSTAÇÃO
عاطفيةIsabel acredita ter encontrado o amor verdadeiro, porém, não sabe que Sebastián está apenas em busca de vingança. Ele é um pesadelo fantasiado de sonho. Porém, quando Sebastián perceber que os sentimentos que nutria por Isabel são bem diferentes do...