A Sombra da Escolha

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VERANEIO DE 1891

O crepúsculo encobria a paisagem com seu manto negro, enquanto as brisas primaveris acariciavam as árvores nas campinas verdejantes. À distância, a pequena propriedade dos Morgan brilhava sob a luz das tochas, onde viviam em troca de trabalho para o benevolente proprietário da terra.

Naquela tarde chuvosa, após um encontro com Sebastian Mclachlan, o patriarca da família, Isaac, inquieto, torcia as mãos. Através da janela aberta, ele contemplava o pôr do sol enquanto o aroma delicioso de pato cozido se espalhava pelo ar.

Um sobressalto o atingiu quando a porta se abriu. Para sua surpresa, sua esposa, Eleanor, ergueu a mão ao peito e suspirou suavemente.

— Querido, você parece preocupado. Aconteceu algo?, perguntou ela, enquanto sua mão delicada repousava sobre o ombro dele, como se quisesse acalmar seu coração agitado.

Antes que Isaac pudesse responder, Madeleine apareceu na porta, segurando um cesto com verduras que ela havia colhido na pequena horta a pedido de sua mãe. Isaac apenas balançou a cabeça em negação, sentindo-se velho demais para expressar suas preocupações.

Madeleine sorriu gentilmente para os pais. Ela observou sua mãe, Eleanor, terminando de colocar os pratos na mesa, enquanto a mulher limpava as mãos no avental preso em sua cintura.

A jovem entrou na cozinha com o cesto de verduras recém-colhidas, seus passos suaves ecoando no ambiente. Seu rosto, iluminado por um sorriso caloroso, revelava a satisfação de cumprir a tarefa que lhe fora confiada.

Cuidadosamente, depositou o cesto sobre a mesa de madeira envelhecida.

— Mãe, o cheiro do cozido está simplesmente maravilhoso! — exclamou Madeleine, sua voz carregada de genuína admiração.

Eleanor exibiu um sorriso satisfeito enquanto observava a mesa cuidadosamente arrumada. Madeleine tomou seu lugar à mesa, enquanto a pequena Alice estava de costas para eles, envolvida em suas brincadeiras infantis.

Quando Isaac voltou-se para a mesa, avançou em silêncio, segurando entre as mãos o velho chapéu retorcido que há tanto tempo o acompanhava. Antes de se sentar, ele dedicou um gesto afetuoso, acariciando os cabelos loiros de sua filha caçula.

Após servir o marido, Eleanor repetiu o ato delicado com a pequena Alice, enchendo seu prato com cuidado e atenção. Enquanto isso, Isaac, imerso em seus próprios pensamentos, tocava nervosamente a mesa de madeira, inadvertidamente criando uma trilha sonora involuntária para o clima tenso que pairava sobre a refeição.

O som de seus dedos inquietos ressoava no ambiente, uma expressão audível das ansiedades que permeavam o ar naquela noite carregada de presságios.

— Você quer nos contar algo?— indagou Eleanor, franzindo a testa enquanto seus olhos examinavam a face de Isaac. — Você nem tocou no ensopado que coloquei em seu prato.

Isaac desviou seus olhos castanhos para um canto da sala, como se procurasse por respostas no próprio silêncio. Um murmúrio ininteligível escapou de seus lábios, revelando a complexidade de suas emoções.

Eleanor voltou sua atenção para Madeleine, e a jovem rapidamente entendeu o sinal de que era o momento de deixar os pais a sós. Ergueu-se da cadeira e, com a mão firme de Alice na sua, iniciou a retirada da sala.

Enquanto isso, Eleanor pegou o tecido do seu colo e, com movimentos metódicos, limpou os lábios, mantendo seus olhos fixos no marido por um instante, buscando compreender as sombras que pairavam sobre ele.

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