Ventos do Leste

O Contraste

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O sol brilhava através das frestas da velha janela de madeira, lançando raios dourados sobre o ambiente enquanto os galos ao longe anunciavam o nascer do dia com seus cantos melodiosos. Madeleine, ainda sonolenta, bocejou e tentou se acomodar melhor na cama, buscando uma posição que amenizasse a dor em seu corpo. Cada movimento parecia incomodá-la, como se seus músculos protestassem contra o esforço do dia anterior. Com um suspiro, ela se obrigou a se levantar, esperando que a dor diminuísse.

Ainda sonolenta, fechou os olhos por um momento, mas o som dos passos de Eileen no antigo piso de taco a fez abrir os olhos novamente, temerosa de estar atrasada e enfrentar a fúria de seu patrão. Rezou silenciosamente para não ter perdido a hora e se apressou em se levantar, afastando os panos desgastados que a cobriam. Dirigiu-se rapidamente ao baú onde guardava suas roupas, enquanto as palavras de Eileen sobre os horários ecoavam em sua mente.

Ela lembrava-se claramente de que Sebastian não tolerava que seus funcionários acordassem com o canto do galo. Eileen afirmava que essa regra era aplicada em todas as casas, não apenas naquela em que trabalhavam.

Sem pentear os cabelos, Madeleine saiu do quarto vestindo seu uniforme, torcendo para que seu patrão não ficasse muito furioso naquela manhã. Ajeitou-se como pôde, passando os dedos pelos fios desalinhados, já que não havia um espelho disponível.

Apressada, dirigiu-se à cozinha sem prestar muita atenção ao seu redor. Felizmente, o atraso não foi significativo. Eileen a chamou, anunciando que precisava de sua ajuda, consciente de suas responsabilidades.

Eileen seguiu pelo corredor após deixar Madeleine para trás. As criadas desceram a escadaria abaixo da cozinha. Ao entrar na cozinha, o suave cheiro de camomila chegou às narinas de Madeleine, que respirou fundo para apreciar aquele aroma delicioso. Ela amava o doce perfume daquele chá, assim como seu patrão.

A velha criada informou que precisavam se apressar, pois o patrão receberia uma visita importante. Madeleine piscou várias vezes e franziu o cenho, desconcertada por não entender o pedido de Eileen, pois estava distraída. Foi necessário que Eileen intervisse:

— Pare de sonhar, temos muito trabalho a fazer.

Eileen pegou a vassoura encostada atrás da porta e a entregou a Madeleine, ordenando que limpasse as prateleiras após varrer a sala. Madeleine concordou e respirou fundo, se preparando para a próxima tarefa.

Com um suspiro, afastou-se de Eileen e partiu rapidamente para a sala. Sabia que isso ainda lhe causaria problemas um dia, especialmente porque seus reflexos não eram tão bons quanto gostaria. Se alguém surgisse inesperadamente em seu caminho enquanto caminhava tão rapidamente, não conseguiria parar a tempo. Sua única esperança era que a pessoa não fosse importante para seu patrão, pois isso resultaria em punição para ela.

Finalmente, chegou ao seu destino após percorrer um longo corredor. Olhou ao redor, admirando cada móvel, tapeçaria e quadro. Tudo era tão belo que seus olhos brilhavam. Já havia passado por ali quando Eileen a mostrou a casa, mas naquele momento a porta estava trancada, impedindo-a de apreciar toda aquela beleza que se escondia atrás.

A sala era um lugar perfeito para passar a tarde lendo um bom livro. Suspirou tristemente ao pensar nisso. Sabia ler, sua mãe a ensinara. Com um leve balançar de cabeça, tentou afastar os pensamentos que a deixavam triste.

Ela parou, olhando ao redor para decidir por onde começar. Comparada aos outros cômodos da casa, a sala era pequena, mas não menos bela. Sofás e poltronas de tecido azul macio convidavam ao descanso, enquanto as paredes revestidas de madeira talhada à mão ostentavam um ar de requinte rústico. Uma imponente lareira escura dominava um canto, prometendo aconchego em noites frias. Estantes embutidas, repletas de livros, ocupavam o fundo da sala, como um portal para um mundo de conhecimento e fantasia.