–Outono de 1994–
                                 Capitulo III=




    
                     Chocolate Quente








Escoro meu tronco na corda que está me sustentando no balanço, ainda mantendo na face minhas sobrancelhas franzidas e boca contorcida em confusão; brava comigo mesma por estar tão mexida e abalada por uma carta tão boba...

Como... como alguém tem coragem de abrir meu armário, e me entregar uma carta tão.. tão... tão idiota!!! Mais que diabos!! Depois que li pela primeira vez no corredor, só faltei cair para trás em tanta surpresa pela audácia da pessoa que escreveu essa carta, e no último minuto, resolveu me mandar ainda sim! Como uma pessoa leu essa carta, e ainda achou uma boa ideia me mandar? Só pode ser algum engraçadinho filhinho de papai.. . Baixo a cabeça novamente, para observar a – mesma que eu não queria– forma esperta pela qual a escrita da carta foi feita, com o possível objetivo de que eu não reconheça quem a escreveu, para começar a lê-la de novo...

"Querida Willow Voss... Ou devo chamá-la de A vadia oportunista?
Em meio a tantos apelidos cruéis a sua pessoa, a única coisa que posso fazer, é eliminar o mal pela raiz, não é, meu anjo?
Todavia, fiquei chateado pela ação sua, de ainda voltar naquele insignificante do caralho e tocar em sua mão, quando nunca ao menos olhou em meus olhos.
Deveria simplesmente eliminar todos que olha, para finalmente olhar para mim?

Não deseje outros caras, Willow, nem ao menos olhe para eles"

         Minhas bochechas coram por algum motivo, começando a me zangar totalmente com essas palavras mais que infantis e... confusas; amassando o bilhete em minha mão, assim que a porta da frente de casa rapidamente é aberta por mamãe, que sai apressada ajeitando seu uniforme azul da delegacia...

— Mãe!

Chamo a mesma, que no mesmo momento que escuta minha voz, para seus passos apressados e vira para mim.
— O que aconteceu?

— Não tenho tempo agora!— me ignorou e continuou a caminhar rápido em direção ao nosso carro. Desço do balanço, começando a correr atrás da mesma, parando em sua frente, querendo saber o motivo de tanta angústia e preocupação.— O filho de Maira Wood foi assassinato nesta manhã...

Engulo seco, abrindo minha boca em tanto choque, sentindo em minha pele arrepiada, diversos chuviscos da chuva fraca que cai repentinamente. O céu parece chorar também com essa notícia. Mamãe baixa a cabeça, ainda abatida com a notícia de que o filho de sua melhor amiga se foi, e passa por mim, entrando no carro, dando partida, saindo pelas ruas... .

Davis... ele... como isso aconteceu? Tudo estava tão bem até ontem... . Ele é um garoto tão bom.. tão gentil... . Mordo meu lábio, tentando reprimir as milhares de lágrimas grossas que querem descer por minhas bochechas contorcidas em tristeza só de visualizar em minha mente, seu sorriso torto amoroso, desviando o olhar para cima, enquanto os pingos do chuvisco anterior, começam a engrossar e molhar minha pele e vestido; fechando os olhos para deixar que as lágrimas das nuvens cinzentas, se misturem as minhas...

* * *

        Saiu de casa, começando a caminhar pela calçada, observando a chuva calma desta manhã nublada, cair sobre tudo que pode molhar; segurando firme o guarda-chuva da cor preto, que me acompanha nesta trajetória até a escola...

        Eu... Eu não entendo... . Por que mesmo depois da morte de Davis, funcionário importante mesmo que temporário da escola, não teve nem o direito de ser respeitado, e pelo menos não ter aula... Mas parece que esse não é o caso... . Sempre quando pessoas relacionadas a escola falecem, mesmo sendo faxineiros, alunos ou até o próprio diretor, nunca tem aula... . Então, por que estão sendo tão desrespeitosos com Davis, que era uma ótima pessoa? São tão mesquinhos e orgulhosos assim? Porra, por que isso foi acontecer logo com Davis... .

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