O nosso dia

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Hoje seria o dia em que Eike e Melissa se casariam, tudo para ele era uma tortura. O vestido dela continuava fechado em uma caixa, ele nunca teve coragem de abrir para olhá-lo.
Organizou todos os presentes em um dos quartos da casa, pegou a caixa com o vestido e o seu terno, olhou com carinho e colocou no closet.

- Eu quero acreditar que um dia você voltará, tudo não acabou.

Ele arregaçou as mangas e limpou cada cantinho da casa, as máquinas que ela tanto amava, junto com seus lápis e papéis onde desenhava os croquis, ganharam um cantinho todo especial, preparado por ele com amor. Tomou um banho, vestiu o seu terno e seguiu para a empresa, fez algumas ligações e tudo estava funcionando perfeitamente na loja de Melissa. Se dividia entre a sua empresa e o que ela mais amava, a The One.

- Quando você voltar quero que encontre tudo como deixou e se não voltar, eu continuarei o seu trabalho, meu amor, para sempre.

Eike tentava tocar a vida e mergulhava no trabalho para que o tempo pudesse passar mais rápido, nunca havia perdido a mania de olhar no celular esperando que ela mandasse uma mensagem carinhosa. Todos os instantes ao lado dela foram valiosos e marcaram um momento de sua vida onde realmente foi feliz de verdade.
Somente as lembranças confortavam o seu coração.

- Oi, algum problema? - perguntou Melissa.

- Você é linda! De onde tira tanta beleza? Me chamo Eike, vou te ligar.

- Você me conhece?

- Não, mas fica com isso para você.

E o celular foi jogado no carro dela, iniciando toda aquela história linda.

- Meu amor, eu fui um louco! Te amei desde a primeira vez e quando você tentava cozinhar era um desastre. Como fui te perder dessa forma?

Enquanto ele catava os cacos que ficaram pelo chão, ela era dopada todos os dias e mal conseguia abrir os olhos.

- Como ela está hoje? - perguntou o médico.

- Doutor Denson, ela abriu os olhos, mas já voltou a dormir. - falou o enfermeiro.

- Tem que diminuir essa medicação, isso está errado. Como vamos saber o seu real estado se sempre está dormindo? Esses remédios são muito fortes, queria examiná-la acordada.

- São ordens do doutor Arthur. - falou o enfermeiro.

- A partir de hoje eu cuidarei dela, não se preocupe.

- Mas e o doutor Arthur?

- Ele só está passando a medicação?

- Isso.

- Então, continue como se estivesse ministrando a medicação e o resto pode deixar que eu assumo.

- O senhor conhece ele?

- Ele?

- Sim, é um homem.

- Um homem?

- Ela era homem e fez a transição, mas agora parece que mudou novamente.

- Espera, ela é uma mulher trans?

- Isso, doutor.

- Eu não fiz um exame completo em seu corpo, ela é muito feminina, não dá para definir somente olhando. Por que as próteses foram retiradas?

- Isso eu já não sei.

- Olhe os seus cabelos, parece que foram cortados de qualquer jeito.

- Doutor, ela chegou aqui dessa forma, a cirurgia de retirada das próteses era recente, está cicatrizando aos poucos.

Eu decidi amar vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora