Seguindo em frente

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O ônibus seguia para longe, ela tinha apenas algumas roupas, um pouco de dinheiro e muita vontade de recomeçar.
Havia decidido enterrar a Melissa de uma vez por todas e assumia o seu antigo nome, Reny Bianchi. Estava usando calça jeans, camiseta e boné, continuava linda de todas as formas.
Ela desceu durante a parada do ônibus e seguiu ao banheiro e como de costume, quase entrou no feminino.

- Moço, o banheiro masculino é o outro. - disse um rapaz que passava.

- Obrigado, me confundi. - falou Melissa.

Ela se olhou no espelho, tirou o boné e lavou o rosto, tudo parecia ter mudado. Olhava para os seus seios e era torturada pelas lembranças.

- Me mataram sem que pudesse me defender, amava tanto a Melissa, mas agora ela morreu e você voltou a vida, Reny, espero que pelo menos assim eu seja feliz.

Comeu batatas recheadas com carne, tomou um suco e subiu novamente no ônibus, a viagem ainda seria longa.

- Tenho que economizar esse dinheiro que o doutor Denson me deu, recomeçarei com ele.

E o ônibus viajou a noite inteira, quando estava amanhecendo, ele parou numa cidadezinha pequena, parecia pacata, era tudo o que ela precisava.

- Que lugarzinho legal, quem sabe se eu tentasse?

Ela desceu e esticou o corpo, abriu um sorriso e naquele momento só queria arriscar.
Andou pela cidade, parou numa lanchonete e pediu um café.

- Um café, por favor. - disse Melissa.

- Você é novo aqui na cidade? - perguntou a garçonete.

- Sim, acabei de chegar.

- Qual o seu nome?

- Me chamo Reny e você?

- Meu nome é Rita.

- Prazer, Rita. Você sabe de alguma casa para alugar? Preciso de um lugar para morar.

- Você está com sorte, aqui perto tem uma casinha pequena, será perfeita para você.

- Sério? Pode me passar o endereço?

- Lógico! Vou pegar o endereço e trago o seu café.

Tudo parecia começar bem, eram apenas os primeiros passos para uma nova vida.

- Seu café e o endereço.

- Muito obrigado, Rita, está me ajudando muito.

Ela se dirigiu até o local e avistou a casa, era super simpática e por incrível que pareça, tinha uma vidraça enorme que lembrava uma loja.

- Meu Deus e essa vidraça? Posso fazer roupas e expor para que sejam vendidas.

Ela fechou com o dono e alugou a casa, precisava de uma grande limpeza e os móveis poderiam ser aproveitados.

- Meu Deus, a limpeza terá que ser pesada, mas que bom, será meu novo lar e posso aproveitar esses móveis. Obrigada, meu Deus, eu vou vencer, sei disso!

E a faxina começou, aspirou tudo, jogou água e esfregou o chão, deu bastante trabalho, mas ao final, ficou um charme. Colheu flores no jardim, colocou num vaso e enfeitou a sala.

- Nossa, que diferença, eu amei! Agora preciso comprar alimentos, uma máquina de costura e tecidos, tenho que economizar até o último centavo.

Ela foi ao supermercado e fez compras, olhou os anúncios no jornal e encontrou uma máquina usada, passou em uma loja de tecidos, comprou alguns cortes e costurou a noite inteira.
No dia seguinte, saiu cedo e entrou num brechó, eles estavam vendendo alguns manequins que já eram bem velhos, mas na mão de uma estilista de sucesso eles seriam perfeitos.

- Muito obrigado, vocês podem entregá-los hoje? - indagou Melissa.

- Sim, já estamos levando, me passa o endereço, por favor.

Pouco tempo depois os manequins chegaram, ela deu aquele toque, vestiu as roupas e colocou em frente à vidraça da sala para que as pessoas pudessem vê-los.
Algumas mulheres passavam, olhavam e Melissa estava ansiosa para receber a sua primeira cliente.

- Será que alguém vai gostar? - disse Melissa.

- Olá, eu adorei esse vestido. - falou uma moça que olhava a vitrini.

- Oi, entra, ele é lindo, vai ficar ótimo em você.

A garota entrou, experimentou o vestido e comprou, o coração dela parecia não acreditar.

- Muito obrigada, vou te indicar para as minhas amigas, seu trabalho é lindo.

- Volte sempre. - disse Melissa.

- Qual é o seu nome?

- Me chamo Reny.

- Reny, você é muito talentoso, parabéns! Vai fazer sucesso aqui na nossa cidade.

- Muito obrigado, será sempre bem vinda.

E assim tudo começava novamente, lá de baixo, num lugar pequeno, mas o talento dela jamais poderia ser questionado, era uma verdadeira estrela, elas jamais perderão o seu brilho.

- Alô, a paciente que a senhora trouxe sumiu, não sabemos como, mas aconteceu. - disse o doutor Arthur.

- Vocês deixaram aquela aberração fugir? Incompetentes! Se ela ousar chegar perto do meu filho eu mesma vou acabar com tudo! - falou a mãe de Eike.

- Se antes disso ela não fizer uma denúncia, eu vou desaparecer enquanto ainda posso.

- Covarde, incompetente!

Como podia existir tanta maldade em um único coração? O que o filho sentia nada significava, mas ações sempre terão consequências, mesmo que demorem à chegar.
Os dias se passavam e Melissa conseguia vender todas as peças e a noite costurava outros modelos, aos poucos via a sua vida se transformar naquela cidadezinha, bem longe do seu grande amor.

- Acho que já tenho várias peças, vou descansar um pouco, desde que cheguei só trabalho. Como será que o Eike está? E a The One, será que fechou? Nem quero pesquisar sobre nada, vou deixar tudo para trás, estou tão feliz. - disse Melissa.

Como ela poderia estar feliz se sempre foi ao lado dele que viveu os seus melhores momentos e os mais bonitos?
A loja que Melissa deixou para trás estava sendo tocada por Eike, que sempre analisava os traçados das estilistas para que elas se aproximassem ao máximo dos que Melissa criava.

- O que achou, senhor Eike? - perguntou Aninha.

- Ficou bom, mas a verdade é que eu só queria ela aqui.

- Quase seis meses que ela desapareceu e nenhuma pista.

- É nesse fio de esperanças que me prendo, Aninha.

- Mas ela jamais abandonaria o senhor, tinha muito amor dentro daquele peito, a história de vocês é sobre conexão, algo mais profundo.

- Eu ainda consigo sentí-la.

- É porquê ainda existe amor, busque por ela, senhor Eike.

- Onde, Aninha?

- Pare e sinta, o que o senhor procura, também te procura na mesma intensidade, ainda não acabou.

Ele abraçou Aninha bem forte e saiu da loja, entrou no carro e seguiu até a praia, resolveu andar pela areia, só queria pensar um pouco.

- O que eu procuro também me procura, mas onde, Eike, onde?

Ele fechou os olhos e parecia se conectar à Melissa, ela sentiu uma aflição, aquele aperto no peito, parecia que algo chamava por ela.

- Eike, que vontade de abraçá-lo.

Ela largou os croquis e se dirigiu à praia, aquele mar parecia trazer todas as respostas.
Os dois olhavam as ondas e pensavam um no outro e o quanto se amavam e se queriam.
O amor dos dois era tão forte, que as energias pareciam se conectar, sentiam a presença mesmo estando afastados.

- Meu amor, volta! Onde está? - disse Eike.

- Aqui, meu amor, vem me abraçar, eu só te peço isso. - respondeu Melissa.

E as lágrimas rolavam de seus olhos, demonstrando que o sentimento nos conecta à pessoa que amamos até quando estamos separados.

Eu decidi amar vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora