Dr. Love! | 1. Um encontro, várias despedidas

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Ainda no Dia dos Namorados.

As ruas movimentadas de Gangnam possuíam muito mais glamour e encanto. Estavam iluminadas, as propostas de comércio eram atrativas e sinfônicas, o trânsito pacífico, um brilho de prata que se esticava pelo mar. A boemia se estendia por cada esquina daquela região, dançando e consumindo com fervor. Em rara ocasião, os bares abrigavam risadas e brindes daqueles que possuíam uma alma arreliada.

Era uma noite muito agradável e bonita para casais. O céu não parecia visivelmente poluído, uma coisa rara. Estava com uma cor quente, acendendo as chamas alheias.

Uma pena que a descrição a seguir é sobre Minju e Chaewon; não saíam nem míseras faíscas dessas duas.

— Olha essa fila! — Minju sinalizava com seu dedo indicador. A outra mão estava ocupada em dirigir o volante do seu carro. — Caramba, Chaewon...

Frustrada, apontou para a multidão que se acumulava do lado de fora do Roses Are Rosie, um restaurante metido a besta de comida australiana. Óbvio que aquela não era a única opção de cardápio estrangeiro em Gangnam. E também estava longe de ser a melhor, vale mencionar. Entretanto, as pessoas costumavam comprar sua reputação supervalorizada, acreditando que aquela é a verídica culinária australiana de luxo.

— Nós vamos ficar duas horas nessa fila, no mínimo. Você não teve tempo de fazer reserva? — disse Minju, bufando após. Não ficou nem um pouco impressionada com aquele lugar.

A fim de preservar um inocente fio de esperança, o cérebro de Chaewon negociava com a situação: Não é sobre o lugar ou a comida de lá. É sobre a companhia, o tempo, a conversa. Estou fazendo o favor de pagar um lugar legal para o nosso proveito. Você reconheceria isso se não fosse uma imbecil apática, pensava ela, fechando a expressão. Em contrapartida, a inconsciência, orgulhosa, ansiava pelo lugar mais chique pelo qual a carteira poderia pagar.

— Me esqueci disso — expiava baixo ao admitir, mas mudava o tom para justificar: — É que a minha cabeça está cheia. Fiquei o dia inteiro peneirando o conteúdo para a publicação dessa semana. Eu tinha que garantir que mantivéssemos tudo aquilo que é realmente relevante para a nossa equipe editorial. Foi difícil encontrar espaço no meio de tanta inserção de anúncio.

— Mas isso é uma coisa boa, Chae. — Havia um cativante sorriso que inspirava a outra. — Maiores quantidades de inserções indicam que as pessoas estão interessadas em divulgar através do nosso veículo.

— Eu sei disso. — Se fez de difícil e bufou. — Mas é muito difícil comunicar nossa mensagem quando se é calado e censurado pelas vozes da publicidade. A partir do momento em que você deixa o jornal com aspecto de um catálogo de compras, você está decaindo como a televisão.

— Credo. Nada é empurrado goela abaixo de ninguém. É só marketing, não '1984' — respondeu Minju, provando que analogias são a sua paixão.

— E você leu '1984' por acaso? — Cruzou os braços.

Minju riu. Era tão linda sorrindo que reduzia Chaewon a imbecilidade. Ela se rendia fácil demais. E antes que o consciente teimoso percebesse, ela já estava rindo também, antecipando alguma resposta idiota que não tardou a vir:

— Não, mas é assim que eu imagino que seja!

De frente para o restaurante, Chaewon ignorou aquela fila centenária para observar cada centímetro daquela fachada. Analisava ao seu gosto e receio de grande investimento, lógico, mas mais usava aquilo para se imaginar com Minju e devanear sobre o que quer que seja deste jantar e o que pode acabar sendo daquele jantar. O restaurante em si mais parecia uma casa interiorana da Austrália cuja temática foi influenciada por bandas de rock e pelos filmes do Crocodilo Dundee, o que até deixava confortável.

Dr. Love! | PurinzOnde histórias criam vida. Descubra agora