Cap 2

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Tédio.
Puro tédio.
Essa era a palavra  que definia o meu sentimento agora. Várias garotas vestidas com suas roupas de escoteiras, várias mães babando em suas voltas e algumas pessoas comprando simplesmente por acharem as meninas fofas. Embora eu gostasse pouco de crianças, preferia que elas mantivessem uma certa distância de mim.Preferi ficar sentada em um dos bancos da praça, não muito longe de onde as garotas estavam, perto o suficiente para acompanhar a segurança de minha querida sobrinha, que estava super animada com as vendas de suas preciosas barras de cereais.

Escuto o barulho estridente de meu celular e vibrava em meu bolso. No segundo toque o atendo.

- Dulce? Como estão as coisas por ai? - A voz de Maite ecoa do outro lado do aparelho.

- Sabe Maite, estou me perguntando por que diabos estou sentada em um banco de praça, enquanto sua filha vende míseras barras de cereais a alguns metros de onde estou. Sabe, pensei que já não fosse o suficiente cuidar dela dentro da minha casa, ainda tive que sair às pressas porque ela tinha compromisso. Me diz, será que hoje além de babá virei Uber infantil ? - Cuspo meu humor ácido para cima dela.

- Ah, você sempre um amor de pessoa, só tenho a agradecer Dulce, vou ficar de devendo. Fico feliz por saber que está tudo bem por aí - Maite diz com aquele sorriso culposo no rosto, eu podia sentir.

- Saiba que essa foi a última vez que fico de babá... Sabe que tive que desmarcar todos os compromissos da manhã para poder ficar de babá... Da próxima vez arranje uma de verdade a tempo! - Digo nervosa, eu sei que estava sendo chata, mas Maite sempre aprontava uma coisa dessas, dos irmãos ela sempre foi a mais imatura. Não é atoa que foi mãe jovem.

- Tudo bem, tudo bem... Obrigada novamente, agora tenho que ir maninha, tchau e beijos - Diz desligando, suspiro frustada.

Olho em direção a barraca das meninas, e não avisto Lupita. Me levanto e vou em direção ao aglomerado de pais e pessoas, procuro entre as garotas mais não encontro a garota.

- Não tô acreditando que essa pestinha sumiu ! - Meu desespero se inicia.

Começo a olhar em volta e nada, até que avisto uma cabeleira preta ao longe. Caminho apresada em direção, apenas ao ponto de escutar a conversa de Lupita com o casal.

- Olha garotinha porque não volta pro seu bando de amiguinhas da caridade em - A mulher loira fala com desdém.

- Deixa de ser assim Belinda! - o homem a repreende.

- Que foi, vai me dizer que está afim de sair sustentando caridades agora.

- Com licença, se não tem dinheiro pra comprar, não atrapalha minha venda senhora - escuto a voz da pestinha falando. Meu sangue congela, apenas alguns segundos e ela é capaz de tudo.

- Olha aqui garota !

- Lupita ! - grito seu nome e a mesma me olha com um sorriso culposo no rosto. Igual sua mãe - Porque você não está junto das garotas sua pestinha, já falei pra vc se comportar...

- Olha aqui Senhora, sua filha é muito mal educada! Devia lhe dar umas correções - A loira diz, seu rosto vermelho de raiva.

- Ela não é minha filha, é minha sobrinha, e eu sei o quão pestinha esse ser pode ser, mas pode deixar que direi a mãe dela. Vamos Lupita - Digo pegando sua mão.

- Bom mesmo, ninguém merece ter que suportar essas crianças de nível inferior - Diz baixo, porém audível.

- Olha, acho que quem precisa mesmo de educação é a senhorita, não sei se seus olhos enxergam bem, mas ela não passa de uma criança, e se é uma pestinha é porque tem saúde. Então por favor da licença e segue sua vida - digo me virando para seguir meu caminho, mais tive que voltar.

- Ah então toda essa má educação é de família, classes inferiores sempre demonstram seus traços por meio de seus comportamentos. É comum ! - Ela tenta me rebaixar.

Me viro e caminho até ela solto a mão de Lupita por um instante. Paro de frente para a loira, levanto meus óculos escuros e a encaro.

- Pode ter certeza, que até as classes inferiores se comportam melhor que a senhorita! Lamento muito se sua vida é tão medíocre ao ponto de se sentir superior a outra pessoa por conta de status, mas eu não tenho culpa da sua falta de maternidade! - sorrio e coloco meu óculos novamente - Lamento pela namorada que você escolheu ! - digo para o cara que estava ao seu lado, mas foi inevitável não olhar por mais alguns segundos para ele. A loira idiota podia ter uma má educação, mas tinha bom gosto.

Pego a mão de Lupita e a puxo para longe dali, mesmo escutando os argumentos baixos da loira que agora havia ficado para trás.

- Mas uma furada que você me põe em pestinha! - digo e Lupita sorri envergonhada.

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