II

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Depois do que aconteceu, prometi a mim mesma recomeçar a minha vida e colocar uma borracha no que tive com Takashi. Iria me esforçar para encontrar um trabalho melhor, mas enquanto não conseguisse, viveria como dançarina.

Não vejo Kashimo desde aquele dia, ele me fez um chá de camomila, falou poucas palavras e cuidou dos meu machucados. Quando retirou-se da minha casa, o silêncio do ambiente me fez voltar a realidade e a tristeza que estava guardada dentro de mim se sobrepôs.

— Que babaca... tomara que ganhe um chifre que não consiga passar por nenhuma porta.

Olho para o meu guarda roupa procurando minha roupa de trabalho. Pego cada peça e coloco na mochila, as mensagens do meu chefe chegavam a todo instante tentando me apressar a sair de casa. Solto um suspiro pesado e caminho até a minha moto.

Antes de sair em direção ao local, dou uma última olhada na casa do meu vizinho e percebo as luzes apagadas. Dou de ombro e coloco o capacete, fazia um tempo também que ele não realizava suas festas estrondosas, talvez a polícia tenha o deixado sem escolha após a última denúncia.

Durante o percurso eu acelerava minha moto e não dava a mínima para as leis de trânsito, sendo sincera, não ligava nenhum pouco para a minha vida. Vejo que a moto bateu 100km/h, ao notar um pista completamente reta e sem nenhuma curva aparente, resolvo brincar e aumentar a velocidade.

Quebra de tempo

Ao chegar no local, vejo vários clientes à minha espera na área vip e sem demoras eu caminho até o meu camarim. Visto minha roupa personalizada e coloco a máscara, com os cabelos presos em um coque frouxo vou caminhando até o palco, geralmente ele se solta durante a dança e causa uma sensualidade maior. Minhas apresentações eram para um certo público que aceitava pagar mais caro, então não era qualquer um que o meu chefe aceitava.

Ao me posicionar no centro do palco, meus olhos se arregalaram por trás da máscara. Engoli um seco percebendo que dentre todos aqueles homens velhos, Hajime estava ali pela primeira vez junto com outros rapazes. Tento ignorar a presença dele mas os olhos do mesmo pareciam me devorar, o coração palpitava e antes que eu inventasse qualquer desculpa pedindo substituição, as luzes se apagaram e a minha música começou a tocar.

Church - Chase Atlantic ecoava pelo local e cada passo que eu dava era muito bem pensado, apesar das pernas bambas. Não podia olhar para a plateia pois sabia que iria me desconcentrar, mas graça a máscara eu conseguia dar a impressão de que encarava cada um e estava tudo bem. Alguns cochichavam, outros mexiam no celular, mas apenas um eu conseguia sentir que mantinha seu olhar fixo em mim.

Escorregando por aquela barra de ferro fria, meu corpo queimava. Algo dentro de mim queria que essa dança fosse somente para ele, que ele continuasse a me olhar com desejo e pudesse tocar em meu corpo.

Quando a música terminou, agradeci aos cliente e caminhei para me retirar, entretanto, Hajime se levantou dizendo que pagaria por mais uma dança. Não era como se ele precisasse disso, seria apenas um intervalo entre uma dançarina e outra, logo eu estaria de volta... Se não desistisse. Mas pelo jeito ele não aceitou outra e seus amigos concordaram em pagar também, meu chefe com um enorme sorriso aceitou e os demais homens que não aceitaram se retiraram. Ficou apenas eu e os três.

Minha segunda música começou a tocar, Renegade - Aaryan Shah. Caminhei até o enorme ferro preso no chão e voltei a coreografia que eu já tinha decorada de trás pra frente. E novamente senti aqueles olhares em mim, principalmente o dele, que tinha um sorriso enorme e frequentemente passava a língua pelos lábios. Prendi por um momento minha respiração pedindo aos céus que meu coração se acalmasse, ele não sabe quem sou eu, mas e se souber? Minha reputação na vizinhança iria piorar.

Os minutos se passaram e ao finalizar mais uma dança, eu escuto seus aplausos. Minhas pernas estão bambas e meu corpo deseja sair dali o quanto antes, mas assim que passo por eles, minha mão é segurada.

— Uau, você é incrivelmente linda no palco e tem uma energia incrível. Poderia me dizer o seu nome e... — Recolho meu braço dele e balanço a cabeça negativamente. Meu chefe se aproximou de nós dizendo a Hajime que não podia tocar nas dançarinas e ele tentou se justificar sem êxito.

Fui até o meu camarim para retocar a maquiagem por trás da máscara que estava se desfazendo por conta do calor. Mas quando vejo o local que o garoto de cabelo ciano tocou em meu corpo, lembro do pequeno choque que senti.

— Que droga.

Depois que avisei meu chefe que não iria permanecer dançando mas que iria até o bar ajudar nos drinks, o mesmo me contou que nenhum cliente vip quis pagar para as outras dançarinas. Olho para o local e noto Aiko mexendo em seu celular despreocupada aguardando alguém aparecer.

Dou de ombro e caminho até o barman. Já usava uma roupa adequada, a maquiagem já tinha sido retirada e meu cabelo estava amarrado em um coque. Hajime estava com seus amigos sentado em alguns bancos em frente ao local de drinks, respirei fundo indo até o meu posto ao lado de Sato que sorriu para mim.

— Vizinha ? — Ouço a voz dele ecoar meus ouvidos enquanto seus amigos me analisam, meu corpo petrificou — Trabalha aqui ?

— Não está vendo ? — Forço um sorriso com um copo em mãos e com o outro uma garrafa de vodka. Vejo uma garota se aproximando pedindo uma garrafa de água e deixando as coisas no balcão eu jogo para ela uma garrafa gelada. — O que vão querer?

— Já fizemos os nossos pedidos ao seu amigo.

Dou de ombro e pego outros pedidos de clientes que se aproximavam. Enquanto eu fazia as caipirinhas e misturas, peguei Kashimo me olhando algumas vezes e me questionei se ele havia notado quem eu era. Por sorte, um de seus amigos começou a puxar assunto comigo e logo a resposta da minha pergunta apareceu.

— Já que você trabalha aqui, sabe nos dizer o nome da dançarina da máscara?

Sato me olha e eu retribuo o olhar com um sorriso ladino. Ele vira as costas enquanto eu entrego seus pedidos, limpo minhas mãos no pano e coloco uma mão na cintura.

— Porque querem saber? O patrão não gosta de expor ninguém e muito menos gosta de curiosos.

— Digamos que o meu amigo criou um interesse nela — O rapaz de fios arroxeados deu um tapa nas costas de Kashimo que o xingou imediatamente — Só que a mesma fugiu dele.

— Ela fez certo — Suspirei pesado pensando em uma resposta para os olhares curiosos deles — Não é uma garota interessada em relacionamento, para dizer a verdade, acho que a mesma esteja com medo de se machucar.

— São amigas ? — Hajime questionou e eu apenas fiz uma careta

— Pessoas quebradas tendem a se entender — Sorri para ele e o mesmo entendeu o recado — Porém, não posso revelar o nome dela a vocês. Voltem um outro dia e tentem ganhar a confiança da dançarina.

Ouço os três suspirarem frustrados e solto uma risada. Coloco um pouco de bebida em seus copos e com uma piscada sussurro.

— Por conta da casa.

— Gostei de você — O terceiro rapaz me olha levantando seu copo — Me chamo Kokichi Muta.

— S/n Ishikawa

— Kinji Hakari — O outro rapaz levantou a mão se apresentando.

Concordei e logo meus olhos se encontraram com o aquele que parece o líder deles. Revirei os olhos escondendo o sorriso e ele fez o mesmo.

— Pelo jeito não é tão desocupada quanto pensei.

— Vai irritar outra pessoa, Kashimo.

Rimos juntos e me afastei para atender os demais clientes enquanto eles conversavam.

𝑇𝐻𝑈𝑁𝐷𝐸𝑅 - 𝐻𝑎𝑗𝑖𝑚𝑒 𝒦𝑎𝑠ℎ𝑖𝑚𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora