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O problema de lembrar do passado é que você acaba preso nele. Eu não queria sair dali, não naquele dia; queria poder congelar aquele momento, mas nem tudo é como queremos.

Juntando o máximo de coragem que consegui, fui preparar as coisas para o dia de hoje, tomando cuidado para não fazer barulho e acordar o Charlie. Comecei dando uma varrida no chão, e devo admitir que esse chão já teve dias melhores, marcas de um lugar desgastado pelo tempo, marcas que faziam parte da minha história aqui no 7.

Eu tive uma infância normal, igual a outras crianças; isso era o que eu queria que tivesse acontecido. Quando mais nova, vi todos meus amigos sendo mortos, e aos poucos fui me isolando do mundo, a fim de não ter que passar por essa dor da perda novamente.

Achava que se eu ficasse apenas em casa com meus pais, seria poupada de passar por mais dores, mas estava errada. Até que um dia, já era tarde da noite, e meu pai Thomas ainda não tinha chegado. Ele nunca foi um homem de se atrasar. Resolvemos esperar.

Os segundos se tornaram horas; as horas se tornaram dias. De fato, esperar não fazia mais sentido. Eu e minha mãe Charlotte começamos a fazer buscas e perguntar às pessoas se elas sabiam de algo. Foi quando uma pessoa nos informou que viu Thomas conversando com um pacificador.

Aqui nos distritos, não é algo comum vermos civis conversando com pacificadores; eles estão em um nível hierárquico maior que o nosso. O máximo que podemos fazer é baixar nossas cabeças. Se não bastasse os jogos, ainda temos que nos preocupar com os pacificadores. De começo, achava que eles estavam ali para nos proteger de perigos externos, mas com o tempo percebi que o único perigo ali somos nós, os cidadãos do 7.

Charlotte começou a busca atrás do tal pacificador, e eu estava com receio do que poderia acontecer. Ouvimos muito sobre abuso de poder a respeito dos pacificadores, e só de pensar só que eles podem fazer conosco já me deixa enjoada.

O pacificador que foi visto com meu pai se chamava Bill; era um sujeito alto e forte. Estava sem seu uniforme quando nos deparamos com ele, estava sentado na varanda de uma casa bebendo algo que parecia ser água ardente.

Lembro da reação dele ao nos ver parando em frente ao que era sua casa. Ele nem se importou com o fato de estarmos ali em frente à sua casa, não falou uma só palavra, deixando que para nós ter que começar a conversar.

 ── Eu não quero tomar seu tempo senhor,apenas queria saber se você tem alguma informação sobre meu marido
── Marido ??
── Sim parece que você foi a última pessoa com quem ele conversou antes de sumir
Bill coçou a barba tentando colocar os pensamentos no lugar
── Você diz o homem que mandei para o 9?
── Calma então ele está vivo , mas como assim no 9 ?
── Certo vamos do começo , certa vez seu marido veio até mim fazendo umas perguntas de como era ser um pacificador, de começo achei estranho, achei que poderia se tratar de um rebelde querendo informação sobre a capital, mas eu estava errado sobre isso , fui contanto a rotina de um pacificador e seu marido pareceu gostar , lembro de ouvir ele falar que daria tudo pra estar nessa vida

                   Nesse momento minha mãe disse que estava satisfeita e agradeceu ao homem

Ela começou a andar com passos largos e eu fiquei sem entender nada , o porque dela está fazendo isso

Até que tomei coragem e resolvi perguntar
── Mãe , o que aconteceu?
── Rose minha querida,agora seremos só nos
── Mãe mas e quando ao papai
── Ele decidiu traçar seu próprio caminho
── Mas...
Nesse momento minha mãe explodiu, era como se ela estivesse negando a realidade e só percebeu a gravidade da situação agora
── ELE NÓS DEIXOU QUERIDA, SEI QUE VOCÊ AMAVA ELE , MAS ELE DECIDIU QUE QUERIA TRILHAR SEU PRÓPRIO CAMINHO SEM NÓS...
Lágrimas começaram a cair dos olhos de Charlotte e a única coisa que consegui fazer foi abraçar ela , senti ela me trazendo mais para perto e  aos poucos senti seus braços em volta de mim.

Foi um abraço diferente dos outros, quanto mais as lágrimas caiam mais nos nós abraçamos  , ficamos assim por um tempo

Até que nos soltamos e minha mãe estendeu a mão pra mim e assim voltamos para casa , para um novo começo

Beyond the games : A Jornada no Mundo dos Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora