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"Você precisa ser forte", era isso que minha mãe, Charlotte, costumava dizer. Inicialmente, achava que essa frase era direcionada a mim, mas com o tempo percebi que ela a repetia para si mesma, quase como um mantra.

Eu não sabia como lidar com a situação de meu pai, que nos deixou para trás. Ele nunca deu indícios de que não gostava de sua vida aqui no Distrito 7; pelo contrário, parecia uma pessoa bastante satisfeita. No entanto, meu pai nunca foi o tipo de homem que expressa o que está sentindo; sempre foi muito reservado.

Quando era pequena, adorava esperá-lo chegar do trabalho. Como não sabia as horas com exatidão, minha mãe me explicou algo:

── Está vendo ali, sim? ── Ela apontava para um grupo de árvores. ── Está conseguindo ver a sombra delas?

── Sim, mamãe.

── Então, Rose, conforme o tempo passa, a sombra delas vai se tornando maior. Você vai saber quando Thomas tiver chegado quando a sombra das árvores estiver bem grande.

Mesmo depois de mais velha e com um filho, ainda olho para as árvores para ter uma noção de quanto tempo se passou.

Antes de meu pai chegar, eu me posicionava, e quando ouvia barulho perto da porta, eu já me preparava e saía correndo. Ele entrava na brincadeira, correndo atrás de mim. Algumas vezes, até me pegava e me carregava direto para casa. Na primeira vez que fiz isso, Rose ficou sem entender nada, assim como Thomas. Ao me ver correndo, meu pai achou que minha mãe queria me bater.

Lembro de uma vez que ficamos eu e meu pai em casa. Ele tinha algumas tarefas a fazer, e lembro que ele me pediu para ajudá-lo. Concordando em ajudá-lo, começamos. Parecíamos duas crianças que não sabiam o que estavam fazendo; estávamos mais bagunçando do que limpando. Meu pai então decidiu que era hora do intervalo e acabou me levando para dar uma volta.

Fomos até o prego, onde passamos por algumas barracas. Meu pai, Thomas, era conhecido por ali. As pessoas acenavam para ele e sorriam, e eu sentia um certo orgulho ao andar ao seu lado.

Thomas parou para conversar com alguns conhecidos. Ele me apresentou para cada um deles, e eu, ainda criança, acenava timidamente. Era um daqueles dias em que o prego parecia mais animado; as conversas e risadas ecoavam pelas vielas estreitas.

── Rose, este é o Senhor Jenkins. Ele tem as melhores maçãs do Distrito 7. Talvez possamos levar algumas para casa ── disse Thomas, apontando para um senhor idoso que sorria gentilmente.

── É um prazer conhecer você, Rose. Seu pai sempre fala com tanto carinho de você ── disse o Senhor Jenkins, estendendo a mão.

Apesar da timidez, sorri e apertei a mão dele. Aquelas apresentações pareciam fazer parte de um ritual que eu ainda estava aprendendo.

Continuamos nossa caminhada, parando em barracas que vendiam desde peças de roupa feitas à mão até utensílios domésticos improvisados. Thomas sempre encontrava tempo para conversar com as pessoas, compartilhar histórias e ouvir suas preocupações. Por fim, meu pai decidiu me levar para sentarmos em uma grande árvore, nela tinha o entalhe de um coração e duas letras.

── Foi aqui que conheci sua mãe, Rose.

Em resposta, dei meu melhor sorriso para ele.

Ficamos ali vendo o sol se pôr, quando nos lembramos das maçãs que compramos no prego; elas estavam com um visual lindo, pareciam ter acabado de ser colhidas. Eram maçãs verdes, e eu estava acostumada com as vermelhas. Quando mordi, senti o gosto suave de um sabor azedo.

Lembro até hoje da experiência que foi passar aquele dia com o pai, lembro de cada cor, cheiro e palavra dita naquele dia. Sinto que a qualquer momento ele pode voltar, e as coisas vão voltar a ser como eram antes.

Beyond the games : A Jornada no Mundo dos Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora