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Como eu amo meu filho, por ele faria tudo. Se pudesse, eu até iria no lugar dele na arena, mas acho que isso não seria permitido. Sei que hoje é dia de colheita, mas estou tentando me manter tranquila. Tenho muita coisa pra fazer e não posso permitir que a ansiedade tome conta de mim.

Hoje, desejo passar o máximo de tempo com meu filho. Antes dele acordar, fiz um café da manhã especial. Quem tinha mania de fazer isso era minha mãe. Tinha vezes que eu acordava e, ao ir em direção à mesa da cozinha, me deparava com as coisas que eu mais gostava de comer no café.Na mesa não havia muitas coisas, mas  Charlotte conseguia fazer aquilo especial. Ela fazia toda uma decoração, colocava flores, deixava os pratos todos dispostos na mesa, fazia chá. Tinha vezes que eu ainda estava acordando e meu pai falava que, se eu não corresse, ele iria comer tudo.

Com o Charlie, tento passar um pouco das experiências da minha infância; ele ficou maravilhado ao ver na mesa as comidas que mais gostava. Havia ovos fritos, frutas, um pequeno pão de forma e um pouco de geleia. A primeira coisa que Charlie pegou foi os ovos,  ele adorava .Eu vivia indo ao Prego  foi quando, em uma das minhas idas, me surgiu uma oportunidade. Em uma das primeiras barracas,  havia uma gaiola com duas galinhas. Sem pensar duas vezes, fechei negócio, daria algumas roupas do meu falecido marido pelas galinhas.

Quando Benjamin morreu, fiquei tão mal que queria me livrar de tudo que lembrasse dele, mas sem sucesso. De começo, Charlie ficou um pouco desconfiado. Ele já tinha visto galinhas antes, mas dessa vez era diferente. Demorou alguns dias para elas se acostumarem com a casa nova, enquanto meu filho estava morrendo de amores por elas. Tinha vezes que a primeira coisa que ele fazia era ir ver como as galinhas estavam.

Depois que Charlie terminou de comer, fui até um armário e peguei uma caixa e dei a ele. Na caixa, tinha materiais para pintura, alguns que minha mãe costumava usar. Ele gostou da ideia e me respondeu me dando um "joinha".

Nós tínhamos nosso próprio jeito de nos comunicar. De começo, não sabia como iria me comunicar com ele. Na maioria das vezes, eu só apontava para algo e esperava uma reação dele. Foi aí que tentei ensinar ao Charlie um gesto simples com as mãos que usaríamos para se referir que queremos dormir. O gesto é uma mão aberta na orelha e a cabeça levemente de lado. Não demorou muito para ele pegar esse gesto,  e aos pouquinhos fui inventando novos gestos.

O Charlie também criou alguns gestos próprios. Certa vez, estávamos à mesa, e ele fez um gesto com a mão fechada em direção à boca. No início, fiquei confusa, sem lembrar o significado desse gesto. Foi quando ele apontou para uma chaleira . Com o tempo, incorporamos esses gestos à nossa comunicação. No entanto, quando recebíamos visitas, alguns pensavam que era uma brincadeira entre mim e o Charlie. Eu então explicava que era a nossa maneira de  comunicação.

Houve um momento em que considerei a ideia de leva-lo para a escola. Não queria deixá-lo sozinho em casa; era importante que ele interagisse com outras crianças. No dia marcado, conversei com a professora para explicar a situação de Charlie, e ela compreendeu. Assegurou-me que ficaria de olho nele.Ao retornar para casa, aguardei ansiosamente até o horário marcado para buscá-lo.

Quando fui à escola, a professora disse que correu tudo bem. Ela comentou que algumas crianças ficaram curiosas sobre a situação de Charlie e quiseram saber mais sobre ele. Ela falou a verdade, depois que souberam a verdade, algumas crianças foram até ele para brincar.A professora mencionou que, hoje, os alunos fizeram alguns desenhos, e Charlie se destacou, concentrando-se bastante, lembro que no meu tempo de escola me faziam estudar sobre os distritos , sobre a historia dos jogos e também nos ensinavam a cantar o hino de Panem , acho que eles ainda devem fazer isso , bem certas coisas nunca mudam .

A professora me entregou o desenho e tive que me segurar para não chorar. Ele desenhou eu e ele. A gente era apenas um montado de círculos e pauzinhos, isso se não fosse por um detalhe: eles estavam de mãos dadas.

No dia anterior, tinha chovido e era possível ver algumas poças de água espalhadas pelo caminho. Charlie brincava de desviar das poças e quando me vi, já estava ao seu lado pulando as poças, e assim fomos pulando poças até que chegamos em casa.

Em casa, pensei no que a professora disse. Foi aí que decidi ir atrás do material de pintura que minha mãe usava.


Beyond the games : A Jornada no Mundo dos Jogos VorazesOnde histórias criam vida. Descubra agora