Seja bem-vinda irmã Montgomery

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A mais velha das irmãs desce a escadaria da frente do mosteiro desembestada, a barra de sua veste girando em torno de seus tornozelos

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A mais velha das irmãs desce a escadaria da frente do mosteiro desembestada, a barra de sua veste girando em torno de seus tornozelos. Logo atrás vem duas freiras mais jovens, Karine e Ellen. Uma nova irmã acabou de chegar, foi o que ouviram. As únicas informações que as duas moças sabem sobre a nova irmã é que ela veio da França e que seu nome é Carla Montgomery. Estão ansiosas, faz tempo que Roosewalt não recebe freiras novas.
Quando cruzam o portão de entrada o carro que trouxe a nova irmã já está se distanciando, desaparecendo no nevoeiro da manhã, e Marlene a está ajudando com as malas. Poucas delas, e pequenas.
- Seja bem-vinda irmã Montgomery - Karine e Ellen escutam Marlene dizer. - É um prazer tê-la conosco.
Carla sorri, acentuando suas rugas jovens, e se vira para as duas moças que pararam alguns metros atrás. Ellen arregala os olhos por um breve e constrangedor instante quando nota que o olho esquerdo da novata é esbranquiçado, como um globo de cristal recheado de névoa. Ellen sorri amistosamente para a irmã.
- Levem a mala da irmã Montgomery, Ellen e Karine - Marlene estende as malas de tintura opaca e as duas moças as seguram, logo em seguida caminhando na frente.
- Você viu o olho dela? - Ellen pergunta discretamente.
- Não pude deixar de notar - responde Karine, olhando para os degraus que se aproximam, o peso das duas malas que carrega fazendo-a caminhar de modo engraçado.
O corredor principal do convento de Roosewalt está mergulhado numa penumbra azulada e fria como uma pedra. O barulho dos sapatos das irmãs ecoam pelo corredor.
Ellen dá uma olhada sobre o ombro para Marlene e Carla que vêm mais atrás, conversando em um tom baixo.
Iris, uma irmã de mais ou menos trinta e cinco anos de idade passa por elas, como sempre sorrindo bastante. As irmãs contornam um corredor e param diante a uma porta onde a cruz de Cristo está pregada.
- Aqui é seu quarto irmã Montgomery - diz Marlene, se aproximando e abrindo espaço entre Katerine e Ellen, e adentra o cubículo.
Uma cama. Cômoda. E um criado mundo onde repousa uma bíblia.
- Deixarei você a sós, irmã - fala Marlene. - É a hora de fazermos os votos. Pode se juntar a nós quando terminar de se instalar - se vira para Ellen e Karine. - Deixem essas malas aqui.
Ellen e Karine obedecem.
- Irmã - Marlene faz uma reverência e sai.
- Obrigada por trazerem minhas coisas - a voz grave, rouca e carregada de sotaque francês da irmã Montgomery sobressalta Ellen e Karine, que rumam em direção à saída.
Ellen dá um risinho sem graça e sai.

Uma semana depois
Um vulto passa pela fresta debaixo da porta do cubículo de Ellen. Ela fecha a bíblia. Estava lendo em Mateus. Já é tarde da noite. Irmã Marlene impôs um horário para as freiras se recolherem. Quem seria desta vez? Iris? Ela vive perambulando pelos corredores por causa de sua insônia crônica. Ellen se levanta e caminha até a porta, cuidadosamente gira a maçaneta e espia do lado de fora, a tempo de ver a barra das vestes de uma irmã virar o corredor. Ellen franze o cenho.
Um momento de hesitação e curiosidade carregada de culpa e ela decide permanecer em seu quarto, mas rapidamente muda de ideia ao perceber uma gotícula escarlate esparramada no piso.
Ellen veste seus calçados de modo apressado, tombando para os lados e deixa seu quarto, fechando a porta com cuidado. Uma vez no corredor, ela olha de um lado para o outro, e decide ir na direção oposta a da irmã misteriosa. Há mais curiosidade n'O que do que em Quem.
A irmã serpenteia pelo convento, cada vez mais intrigada. Um rastro em gotículas do líquido escarlate se formou pelos corredores, como um rastro macabro de algo misterioso. Tudo está silencioso demais, até mesmo para um convento.
Assim que chega a um corredor sem saída, ela nota que uma porta está entreaberta. Caminha até lá. É o quartinho de limpeza. Está um breu. Tateando as paredes por dentro, Ellen procura o interruptor, e assim que o encontra, acende a luz.
O grito agudo de Ellen percorre todo o convento quando ela vê o corpo ensanguentado da irmã Iris, os olhos entreabertos fitando a lâmpada empoeirada que pende do teto.

O Grito das FreirasOnde histórias criam vida. Descubra agora