Pós-Enterro

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Ellen deixa sua rosa branca cair sobre o túmulo de Iris

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Ellen deixa sua rosa branca cair sobre o túmulo de Iris. Claudette toca seu ombro, lhe lança um sorriso carregado de pesar e ruma para o mosteiro de dois andares que está ao longe.

Aos poucos as freiras vão saindo de perto do túmulo, deixando para trás Ellen e Marlene.

- Por que você mentiu? - a voz de Ellen chega aos ouvidos de Marlene, que comtempla o túmulo de queixo levantado.

- Menti sobre o que?

Ellen se vira para a irmã, horrorizada.

- Sobre a morte de Iris - e solta um bufo de indignação. - Você sabe que ela não morreu de ataque cardíaco. Ela foi brutalmente assassinada. Marlene!

Marlene se volta para Ellen, as sobrancelhas arqueadas, um que de algo desconhecido, mas fatal em seus olhos castanhos.

- Não sabe o que diz - E se vira para caminhar em direção ao convento de Roosewalt. - Iris era cardíaca minha irmã. Peça perdão por dizer que a pobrezinha foi... Assassinada. Em Roosewalt não há assassinatos - e ruma para o convento.

Ellen a observa se distanciar por cima do ombro. Algo cresce dentro dela. Como assim Iris não foi assassinada? pensa Ellen. Ambas a viram no armarinho da limpeza, ensanguentada. O que Marlene acha que está fazendo? Ellen está confusa e conturbada. Tudo virou de cabeça para baixo tão repentinamente que ela não está conseguindo acompanhar. Mais alguns minutos contemplando o túmulo e Ellen volta para dentro.

Mais tarde, naquele dia, Ellen caminha por um corredor estreito do convento, rumo à capela, onde fará uma oração. Não está se sentindo bem. Sente como se vestisse uma roupa muito pesada. E suja.

Quando chega a capela, abre a porta dupla, como sempre bem limpa e fria, e para de supetão ao ver a irmã Carla agachada em frente ao púlpito. Ellen sente um arrepio. Desconfia que ela esteja metida com a morte de Iris.

Pensando melhor, decide não entrar. Se distancia da porta.

- Irmã Ellen, venha aqui querida - uma voz chama.

Ellen se vira para um lado e vê a cabeça de Claudette coberta pelo véu despontando de uma porta.

Ellen caminha até lá.

É uma salinha pequena e apertada, cheia de gabinetes e armários, e cheira a chá e biscoitos.

- Amanhã é dia de vender os biscoitos - Claudette organiza as caixinhas brancas e beges que outras irmãs confeccionaram para pôr os biscoitos. - Irmã Mary está muito doente, temo que seja pneumonia. Você terá de ir no lugar dela.

Claudette vira seus grandes olhos verdes para ela, as poucas e juvenis rugas se pronunciando. Ellen concorda com a cabeça.

- Uma pena não é? - Claudette comenta de repente, voltando a empilhar as caixinhas.

- O que?

- A morte de Iris! - e se vira novamente para Ellen. - Parece que sabia que ia morrer. Passou o dia todo rezando quase, e disse que eu era a freira preferida dela aqui de Roosewalt. Morreu sozinha.

Piscando repetidas vezes e balançando a cabeça, Claudette volta ao trabalho.

Ellen suspira. Anseia em contar tudo a Claudette. Ela olha para a porta, uma parte do corredor. Ninguém.

- Irmã Claudette, posso lhe contar uma coisa?

- Uhum - responde a irmã, sem tirar os olhos das caixinhas.

- Ontem, quando eu estava em meu quarto...

Alguém pigarreia e interrompe Ellen. A jovem se vira, e vislumbra o rosto de Carla, seu olho esbranquiçado fitando-a.

- Estava em seu quarto... - instimula Claudette.

- Nada não - fala Ellen por fim, atrapalhando-se, e sai da salinha.

No corredor, para e respira. A presença de Carla lhe causa arrepio. É algo muito esquisito, como se ela trouxesse consigo um agouro de azar ou até mesmo de... Morte.

À noite, Ellen caminha em direção a seu quarto a passos curtos e pensativos, olhando através das janelas. O corredor está vazio, e tudo está silencioso. Como naquela noite. Às vezes pondera se ter se tornado uma freira foi uma boa decisão. Sua vida é tão monótona, e às vezes até sem graça.

- Ei, irmã Ellen - grita Karine, e corre até a amiga.

- Ah, olá irmã Karine - sorri.

- Você está bem? - pergunta Karine, acompanhando a amiga. - Não te vi o dia todo, só hoje no enterro da pobre Iris.

- Ah... Sim, estou bem sim - responde, sem encarar a irmã. - Só estou meio cansada sabe. E deprimida. Coisa de mulher.

Karine cutuca a amiga.

- Também sou mulher, esqueceu? - e ri.

- Sim, desculpe.

- Bom, preciso ir para o meu quarto. Estou quase terminando de ler a bíblia. Pela quarta vez.

Ellen sorri e a amiga se precipita na frente.

Passando por uma grande janela no corredor, Ellen olha para o lado de fora, que está mergulhado na noite. Ela para ao ver duas figuras caminhando na escuridão. Aproximando-se mais do vidro e estreitando os olhos, Ellen percebe que se trata das irmãs Marlene e Carla.

Ellen entorta a boca com amargura e ruma para seu quarto.  

O Grito das FreirasOnde histórias criam vida. Descubra agora