Poema de Sangue

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A irmã Marlene é a primeira a chegar

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A irmã Marlene é a primeira a chegar. Ellen está em choque, ofegante. A expressão sem vida de Iris está carimbada em sua mente da mais horrivel maneira.
- O que está acon...
Irmã Marlene se interrompe ao vislumbar o corpo ensanguentado de Iris. Ela levanta os olhos para Ellen, horrorizada.
- Eu... Eu não fiz...
Antes que Marlene consiga dizer alguma coisa, as outras irmãs logo começam a invadir o corredor, um falatório indagador se aproximando. Irmã Marlene se precipita a fechar a porta do armarinho de limpeza. Se põe na frente dele.
- Voltem para seus quartos irmãs, não é nada de mais - Marlene bloqueia a porta com um sorriso cínico estampado na face.
- Ouvimos um grito - diz irmã Claudette, uma coroa de lindos e grandes olhos verdes.
- Nossa companheira, irmã Ellen, se assustou com um rato - Marlene sorrri ainda mais. - Foi só um susto.
Irmã Claudette desvia seu olhar para Ellen, com o cenho franzido. Ellen está sem expressão, pálida como um fantasma, lágrimas presas nos olhos, as mãos e pernas trêmulas.
- Você sabe sobre o regulamento irmã Ellen - ralha Claudette.
- Ela será punida - fala Marlene, precipitando-se para as companheiras. - Agora... Voltem para seus quartos e saiam de lá apenas às cinco da amanhã, para os votos. Vão.
Lançando um olhar de desaprovação a irmã Ellen, Claudette e as outras se dispersam, indo para seus quartos.
Quando a última desaparece, Marlene se vira para Ellen.
- Me desculpe... - começa irmã Ellen, chorosa.
- Vá para seu quarto - irmã Marlene fala, seca. - Não comente nada com ninguém até eu dizer alguma coisa. Agora vai.
Ellen dá uma última olhada na portinha do armário de limpeza e ruma em direção a seu quarto. Está perturbada, aflita e possivelmente nunca mais dormirá da mesma forma, não depois de ver um cadáver assassinado a seus pés. Começa a chorar silenciosamente. É só no meio do caminho que percebe que irmã Carla não apareceu para ver o que tinha acontecido.

Na manhã seguinte, Ellen acorda no alvorecer. Senta-se na beirada da cama, fitando o nada por um tempo, e ergue a cabeça rapidamente quando se lembra de Iris.
Ajeitando o véu na cabeça, Ellen percorre os corredores do mosteiro em direção ao armário de limpeza. Assim que chega ao corredor, para. Engole em seco.
Ela o fita por um breve momento. Iris não está ali, pensa consigo mesma. Hesitante, caminha até a portinha, e repousa sua mão pálida sobre a maçaneta. Tem medo de abrir e ver o corpo de Iris ali outra vez. Mas ela precisa ver. Precisa saber que providências tomou a irmã Marlene.
Tomando coragem e respirando fundo, Ellen abre a porta com determinação. Vazio. Nenhum vestígio de Iris. Nenhum vestígio de sangue.
- Irmã Ellen, Madre Marlene da Trintade quer dar um recado - a voz fria de irmã Carla chega aos ouvidos de Ellen. Sua nuca se arrepia.
Madre Marlene da Trintade. Ellen não a chama assim faz muito tempo.
- Ah... Sim. Só estou... É que...
- Ela nos quer reunidas na capela - e o eco de seus passos vai se distanciando.
Ellen dá uma última olhada no interior do armário, e então o fecha.

Irmã Marlene está parada atrás do púlpito de madeira marrom, enquanto duas dúzias de irmãs estão sentadas nos bancos polidos. Ellen é uma das últimas a chegar.
Assim que irmã Marlene percebe que todas estão no local, começa a falar.
- Muito bem irmãs, tenho uma notí...
- Desculpa interromper irmã Marlene, - começa Claudette. - mas irmã Iris ainda não está aqui.
- É sobre ela que irei falar - e esboça um triste sorriso. - Sinto em lhes informar, mas irmã Iris está morta.
Imediatamente os murmúrios enchem a capela. Algumas freiras logo se poem a chorar. Ellen sente um laço frio apertar seus órgãos.
- Encontrei o corpo dela hoje de manhã - Explica irmã Marlene, e lança um breve olhar a Ellen, que diante da informação franze o cenho. - Ataque cardíaco. Que ela descanse em paz na casa do Senhor. Por isso peço que façamos uma oração.
Os murmúrios da oração logo preenchem a capela. Ellen não consegue se concentrar, apenas fica curvada diante do banco, o terço enrolado na mão, fitando a madeira envernizada.
Ao fim da oração, Ellen sai da capela, causando um barulho indesejado com a porta ao sair.
A irmã corre pelo corredor, chorando. Irmã Marlene está mentindo. Iris não morreu de infarto. Foi brutalmente assassinada. Ellen para diante de uma janela e fita o jardim, iluminado pelo sol prateado que nasce no horizonte aos poucos. Fita um grande vaso velho repleto de flores bem cuidadas.
Minutos depois, irmã Claudette e irmã Piper, uma negra de cabelos volumosos surgem ao fim do corredor. Ellen enxuga as lágrimas rapidamente.
- O que deu em você? - pergunta Claudette, em tom de desaprovação. - Sair daquele jeito da capela...
- Desculpe.
- Iris vai ser enterrada em nossos domínios. No cemitério dos fundos. Hoje às três horas - e acompanhada de Piper caminha em direção a outro local.
Ellen vislumbra o jardim mais um pouco, agora bem mais claro, e decide voltar para o quarto antes de iniciar os afazeres do dia. Ela só percebe a mensagem na parede quando fecha a porta e se vira para o interior do cômodo. Solta um gemido.

"Fria como gelo
Você deixou Iris morrer,
Tenha medo
A próxima será você"

A mensagem é claramente escrita a sangue.

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