Felipe. Claro que o nome dele era Felipe. Ele era um gigante – porque ele era realmente do tamanho de uma geladeira – mas eu não disse isso em voz alta. Ele era o que eu imaginava que todos os viciados em academia seriam: nem um grama de gordura e radiante de saúde e vitalidade. Sua pele era impecável, não muito bronzeada, mas de um jeito que minha dieta era mais natural do que o bronzeado dele. Seus olhos eram brilhantes, seu sorriso era amigável, seus dentes perfeitamente retos. Ele poderia ter sido o cara do pôster “Benefícios de estar em forma e saudável” no consultório médico para o qual eu sempre revirava os olhos.
— Venha e sente-se — disse Felipe. Ele pegou uma prancheta no balcão e foi até um dos sofás da sala de espera. Eu tive que me perguntar: para que uma academia precisa de uma sala de espera? Servem café e bolo aqui? Eu esperava que sim, mas como era uma academia, acho que não. Era aconchegante o suficiente, embora as revistas na mesinha de centro fossem uma mistura de musculação e culinária sem gosto.
Olhei para a revista principal, minhas papilas gustativas devidamente ofendidas. — Você já comeu couve? — Perguntei. — É horrível.
Felipe sorriu quando se sentou. — Não é tão ruim.
— Claro. Da mesma forma que a gastroenterite não é tão ruim — eu disse. — Ou uma infecção fúngica nas unhas.
Ele se sentou, olhando para mim, claramente divertido. — Você não é um fã, presumo?
— Por que comer algo que não é tão ruim? — Perguntei. — Eu sempre disse que a vida é muito curta para café ruim, comida ruim e Sex… — Contei esses pontos nos dedos, mas parei no número três, embora, pela maneira como Felipe sorriu para a prancheta, eu tinha total certeza de que ele sabia a que palavra que começa S eu estava me referindo. — Sapatos… — terminei sem muita convicção. Embora agora que pensei nisso, bons sapatos eram tão agradáveis quanto um sexo bom.
Deus, eu realmente sou um homem velho.
Sentei-me no sofá com um desabafo e um suspiro. Felipe deixou a prancheta em seu colo e olhou para mim preocupado e franziu a testa. — Quem é Gustavo?
— O quê?
Ele ergueu a mão como se estivesse parando o trânsito. — Você acabou de dizer: ‘E é por isso que Gustavo me deixou.’
Ah, merda. Eu falei? — Gustavo… Gustavo é o novo Voldemort. Não falamos mais o nome dele em voz alta.
O olhar de preocupação de Felipe logo se transformou em um sorriso. — Oh. — Ele assentiu sabiamente. — E este é o Voldemort que você quer de volta?
— Sim. Bem, talvez. Receio que seja preciso mais do que reunir algumas Horcruxes. A menos que você possa chamar de Horcrux correr em uma esteira.
Felipe piscou lentamente. — Um o quê?
— Uma Horcrux. Você sabe, de Harry Potter?
Ele pareceu genuinamente surpreso. — Na verdade, nunca vi os filmes ou li os livros. Embora eu saiba quem é Voldemort.
Eu olhei para ele e então me inclinei como se fosse ultrassecreto. Minha voz era apenas um sussurro. — Então, é você?
— Eu sou o quê?
— A única pessoa no planeta que não viu os filmes nem leu os livros.
Felipe riu dessa vez. — Sim, acho que sou eu. — Ainda sorrindo, ele ergueu a prancheta. — Então, tenho que fazer algumas perguntas pra você.
Recostei-me e suspirei. — Isso inclui uma isenção caso eu caia morto no StairMaster? Porque, só para você saber, provavelmente deveria, porque provavelmente eu caía morto nele.
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O Peso de Tudo (Romance Gay)
RomansaDepois de ser abandonado por seu namorado de longa data por estar acima do peso, Júlio Matarazzo decide fazer algumas mudanças drásticas. Numa tentativa vã de recuperar o namorado, Júlio faz a coisa mais absurdamente assustadora que consegue imagina...