Capítulo 4

0 0 0
                                    

A dor me acordou no meio da noite. Devo ter tentado rolar e meus músculos protestaram ruidosamente. Ainda meio adormecido, bati no outro lado da cama, tentando acordar Gabriel. Só quando minha mão não encontrou nada além de lençóis frios é que me lembrei que Gabriel não estava mais aqui. Meu coração doía junto com o resto do meu corpo, então foi meio combinado, eu acho.

Saí da cama com muito cuidado, soltando um longo — aaaiii! — Enquanto me levantava. Indo até o banheiro como se tivesse noventa anos, tomei um pouco de Advil e com medo da minha cara, não me olhei no espelho. Eu não conseguia lidar com o quão patético me sentia. Eu não precisava ver isso na minha frente.

Todo o meu corpo doeu. Minhas pernas, braços, peito, costas, em todos os lugares. Voltei para a cama, ainda surpreso ao vê-la vazia, o lado que Gabriel dormia, e senti a pontada de saudade e solidão em meu coração aumentar, o que fez todas as minhas outras dores parecerem insignificantes.

Acordei antes do alarme, olhando para o teto e tentando não me mover. Eu nem precisei me mover para saber o que doía. Tudo doía sem tentar. Hoje seria um inferno. Eu não tinha como saber se tomar banho ontem à noite ajudou em alguma coisa, e tive que me perguntar como me sentiria se Felipe não tivesse me dito para fazer isso. Mas sabendo que mover e alongar suavemente os músculos, junto com um banho quente, ajudaria, me obriguei a levantar.

— Meu Jesus Cristin.

Eu gemia alto a cada passo até o banheiro. E se eu pensasse por um minuto que estava dolorido ontem, hoje era um nível totalmente novo de dor. Alcançar a torneira do chuveiro doía, a água quente doía, tentar lavar o corpo doía, secar doía, se vestir doía. Calçar os sapatos e amarrar os cadarços foi um feito digno das Olimpíadas Masoquistas.

Tudo doeu. Cada caralho de célula.

Engoli dois comprimidos de Tylenol com o meu café e de alguma forma consegui dirigir para o trabalho. Andei como se a minha cueca fosse feita de arame farpado. As pessoas me olhavam de forma estranha, mas eu sempre ficava quieto no trabalho, mais reservado, então ninguém no hall de entrada falava comigo de verdade. Quer dizer, trabalhava lá durante seis anos sob o comando da atuário-chefe e, de alguma forma, consegui ativar meu filtro cérebro/boca, ou raramente falava. Era mais seguro assim. Acho que a maioria das pessoas pensava que eu era inacessível ou até mesmo mal-humorado, mas isso permitia uma distância profissional que era realmente o melhor.

A única pessoa acostumada com minha diarreia verbal era minha assistente pessoal, Paloma Wang. Ela era uma jovem especialista em matemática, a filha mais velha de pais chineses, com uma mente brilhante para os detalhes. Ela tinha cabelos pretos e lisos na altura dos ombros, óculos estilo John-Lennon, uma queda pela música pop coreana e mangás japoneses. Ela sabia que eu era gay, nunca pestanejou e sabia que eu estava solteiro recentemente. Eu tinha sido um zumbi em estado de choque na quinta e sexta-feira passada, após minha desastrosa iniciação de volta ao status de solteiro. Aparentemente eu parecia muito pior hoje.

Ela deu uma olhada para mim, e esqueceu os papéis em sua mão. — O que diabos aconteceu com você?

— É uma longa história. — Passei por ela e entrei no meu escritório e me sentei lento e dolorosamente na cadeira da minha mesa. — Você fecha a porta pra mim, por favor?

Ela fez o que eu pedi e se sentou à minha frente. Sua preocupação estava clara em seu rosto. — Você está bem?

Eu balancei minha cabeça. — Não, na verdade não. Gabriel me deixou.

Ela franziu a testa, mas havia confusão em seus olhos. — Sim, eu sei.

— Basicamente me disse que eu era gordo.

O Peso de Tudo (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora