Maçã do amor

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Castiel

Quando foi a última vez que estive aqui?As lembranças boas e ruins desse quarto parecem em conflito dentro da minha cabeça, e me nego a pensar que realmente pertenço a Marseille, tanto quanto ela me pertence.

A ironia de minhas palavras vieram à tona agora, porque a 7 anos atrás, esse com certeza seria o último lugar onde eu desejaria estar, por isso, sinto que não sou mais o mesmo garoto, pelo menos não com as mesmas convicções.Mas independente disso ainda é bom recordar da época que eu almejava ser um músico em ascensão e quem sabe ter uma banda que me fizesse crescer.

E eu consegui.

Mas depois de ter estado tão longe da minha cidade natal, é questionável as reais intenções que me fizeram voltar.

Sarai, a baterista da banda, depois de muito tempo sem ver os pais e a irmã que moram em Penier, convenceu eu e os outros integrantes a morarmos em Marselha durante o tempo que conseguíssemos fazer parcerias e shows pela cidade, mas eu, mesmo negando minhas origens e a família que deixei anos atrás, concordei que seria certo voltar por ela, ao contrário de Debrah que parecia ter muitos motivos para questionar minha decisão.

Organizando minhas malas e caixas no meu antigo quarto, percebo o quanto minha madrasta manteve o ambiente exatamente como era antes após a morte do meu pai. Lembro do quanto eu a odiava quando mais novo, mas agora me sinto livre desse sentimento vendo sua cautela em preservar o passado, provavelmente aguardando a minha volta.

-Vamos dormir juntos em uma cama de solteiro?- Debrah me questiona ao perceber que a única cama presente no meu quarto não caberia nós dois.

-É só por um tempo até eu comprar uma de casal.-Coloco as caixas com os CD's das minhas bandas favoritas no lugar mais alto do armário, encontrando no fundo dele uma caixa rosa e empoeirada, escrito "Memory Box"  com letras grandes em azul, mas decido abri-la em outro momento.

-Quando eu concordei em vir pra cá, achei que pudéssemos nos hospedar em um hotel, não no seu antigo quarto adolescente- Algumas vezes evito contrariar as vontades de Debrah, mesmo que eu não tenha intenção de cumpri-las. Com o passar do tempo aprendi que ao lado dela o silêncio é uma virtude.

-Poderíamos, mas vamos ficar aqui, Mary arrumou a casa para nos receber, seria muito rude fazer pouco caso do esforço dela.

-Que seja, vou colocar os instrumentos no estúdio, não esqueça de guardar minhas coisas no armário também.-Ela se retira do quarto, aparentemente disposta a me ajudar a organizar nossa nova casa, mesmo não tendo gostado muito da idéia.

Apesar dos seus defeitos marcantes e um temperamento forte, Debrah esteve comigo durante toda minha carreira, até mesmo no começo quando eu não era nada além de um garoto sem expectativas e descrente do próprio futuro. Seu incentivo me fazia enxergar além da tristeza de ter perdido um grande amor e da dificuldade que eu enfrentaria para seguir meu sonho.

Sei que devo muitas coisas a ela, e tento retribuir todos os dias sendo um bom namorado.

                              _

O relógio marca 1:00 da manhã em ponto.

Entre a agitação dos meus pensamentos e o desconforto de dividir o aperto de minha cama com Debrah, decido tentar escrever qualquer coisa que me venha a cabeça.

Mesmo que essa ansiedade que estou sentindo agora tenha tirado meu sono, me sinto criativo e disposto a acrescentar minhas idéias no papel. Me vejo inspirado com toda a essência do passado que esta casa carrega.

Independente de ser bom ou ruim eu sei que deixei algo aqui, deixei uma história junto do meu pai e agora escrevo sobre o quanto eu queria que ele estivesse vivo.

Será que ele se orgulharia de mim?

Pergunto e escrevo, mas rasgo o papel.

Escrevo também sobre Kate,

Sobre o quanto internamente eu clamo baixo pelo seu perdão, sabendo que nunca terei a chance de olhar em seus olhos e me livrar da culpa de tê-la feito sofrer.

Apesar de termos nos conhecido jovens e inconsequentes, lamento tudo aquilo que lhe causei por falta de maturidade e de cuidado quando eu era mais novo.Confesso que no processo de crescimento do Crowstorm apaguei Kate da minha memória por longos anos, mas seu rosto e a sua voz voltaram em um súbito momento de lucidez que essa casa e claro, Marseille me trouxeram.

Acho que minha recusa a voltar para o meu lar parece mais esclarecida agora, visto que me sinto péssimo por me forçar a lembrar  e sofrer com coisas que já aconteceram e não podem ser concertadas.

Ora, Castiel sempre com sua péssima mania de arrependimento tardio.

Muito tardio.

Rio com minha afirmação ao defeito que carrego comigo, mas quando o sono me bate novamente, decido levantar do sofá e voltar para o quarto checar como Debrah está  antes de dormir. Entro de fininho e vou em direção ao armário pegar um cobertor e um travesseiro para que eu possa passar a noite no sofá da sala - Que pelo que parece será minha cama até que eu compre uma descente pra nós dois.

Mas quando tiro o cobertor do armário , a caixa rosa que eu havia visto hoje mais cedo chama a minha atenção muito mais que o sono, a coberta e o travesseiro.

Passo alguns instantes olhando para a caixa em minha frente, as marcas desordenadas de pincel entregavam que  ela foi pintada caprichosamente mas com tintas e pincéis baratos, e por mais marcante que sua cor e características sejam, não consigo me lembrar se eu a pintei quando mais novo ou ela foi dada pra mim a muito tempo atrás.

Decido abri-la e sanar logo minha curiosidade.


"Querido Cassy, não sei ao certo como começar  a escrever essa carta, visto que tenho tantas coisas a dizer mas é difícil expressar com palavras corretas e conciliar meus sentimentos na escrita de uma forma que você entenda o que eu quero dizer.

Não que pessoalmente seja mais fácil, claro, mas acredito que olhar diretamente em seus olhos seria mais inspirador do que escrever sozinha em meu quarto enquanto tento escolher cuidadosamente as palavras certas pra te fazer ficar.

Então considerando isso, só por favor fique.

Sei que você não tem muitos motivos para isso, quando estamos juntos não fazemos nada além de brigar e quando estamos distantes eu sei que você sofre com a morte do seu pai e a desaprovação da sua mãe com a música.

Sei que se sente pressionado com a minha família e a forma como você é tratado quando estamos todos juntos.

Uma vez você me disse que não tem nada a perder, e eu acho que é verdade.

Mas eu vou perder você se for embora.

Então por favor não vá, deixe que eu ainda me lembre de tudo que tivemos juntos, por favor não vá embora.

Não quero me esquecer de você,

Então apenas fique aqui."

ass.Kate

Dobro o papel colocando-o novamente dentro do envelope, não sabendo ao certo oque pensar e nem como distinguir os meus sentimentos no momento em que dobro a folha e termino sua carta.

-Se ao menos eu soubesse que esse envelope existia, talvez eu tivesse ficado por você Kate.

Reencontros - Castiel Amor doce +18Onde histórias criam vida. Descubra agora