Perigo Iminente

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Castiel


Escuto sua saliva descer áspera pela própria garganta e me pergunto se sou capaz de me afastar agora, mesmo desejando abraça-la e dizer a ela qualquer meia palavra bonita que pudesse afagar seu coração, mas nada seria capaz de lhe trazer conforto num momento como esse.

— Desculpe Kate...não queria te deixar desconfor... — Sou interrompido pela sua voz ríspida e alvoroçada.

— Está tudo bem  — Ela diz, quase suplicando para que eu calasse a boca.

Me afasto de seu corpo chocando minhas costas contra a porta do banheiro. Desespero-me ao imaginar que Kate poderia pensar que de alguma forma eu não a respeito, devido nossa proximidade ardente.

— Devemos sair do banheiro? — Pergunto e seus olhos me queimam outra vez, como um julgamento tão acurado que me sinto humilhado pelas suas sobrancelhas arqueadas.

— E você ainda pergunta? — Engulo seco quando sua resposta me atinge,

— Certo...Vou sair primeiro então...E você vêm logo em seguida — Digo girando a maçaneta entre minhas costas e a porta esbranquiçada. Mas quando me viro para ir embora, evito prosseguir ao escutar sua voz me chamando, dessa vez mais macia e encolhida.

— Castiel... — Observo seus olhos baixos e o semblante tímido, exatamente como ela fazia quando me pedia algo vergonhoso.

— Não quer sair daqui? — Pergunto mas ela não me responde.

— Não...Eu...Queria te fazer uma pergunta — Ela diz, ainda carregando consigo os mesmo olhos temerosos.

— Pode fazer, tenho todo o tempo do mundo — Me esgueiro na madeira da porta, sabendo que nas seguintes circustâncias, não temos nem mesmo meio segundo de tempo, considerando o perigo que corremos. Mas isso não importa, qualquer coisa fora do espaço em que estamos não é de meu interesse agora.

— Como é o seu relacionamento com a Debrah? — Não consigo conter em meus lábios o riso que escapa da minha garganta. Kate se afasta envergonhada, apesar disso, não pude evitar a gargalhada.

— O que?Como assim? Que pergunta estúpida é essa? — Pergunto e ela revira os olhos.

— Responde logo idiota, é uma dúvida séria.

— Primeiro preciso saber suas intenções com essa pergunta -Cruzo os braços à sua frente.

—Quero me comparar — Kat responde.

— Se comparar? — Arqueio uma sobrancelha

— Sim, quero comparar meu relacionamento com o seu — Gargalho outra vez ao ouvi-lá dizer.

— Não acha que está tentando se auto-sabotar, Kate?

— Pode ser que sim, mas isso não é da sua conta, hm? — Sorrio ao perceber seu jogo de grosseria, mas talvez eu conheça esse jogo melhor do que ela.

— Meu relacionamento com a minha namorada também não é da sua conta, hm? — Como costumeiro, seus olhos reviram novamente, dessa vez mais forte do que as outras vezes.

— Vamos sair então, nossa conversa acabou — Kate me atropela com os ombros ao tentar passar por mim, mas eu seguro seu braço antes que realize o ato.

— Para de ser teimosa, foi só uma brincadeira-Sussurro próximo ao seu rosto e ouço ela arfar.

— Eu sei, mas você ainda não respondeu minha pergunta, e não tenho paciência para esperar sua boa vontade — Me dou por vencido e permito que ela se solte de minhas mãos que a seguram próxima a mim, posicionando meus braços a altura de minha cabeça como forma de rendimento.

— Meu relacionamento com Debrah é perfeito, mas não há nenhum segredo, nós simplesmente nos damos bem — Digo e ela me observa, não permitindo que eu decodifique seus pensamentos.

— Eu me lembro... — Percebo seus olhos fitando meus pés, como se estivesse buscando em sua mente lembranças muito distantes.

— O que  você lembra? — Pergunto

— Lembro que não nos dávamos bem — Seu lábio forma um sorriso enquanto fala- Brigávamos o tempo todo.

— Isso não é verdade, nos dávamos bem sim, éramos apaixonados um pelo outro.

— Mas brigávamos — Ela diz quase me interrompendo, afirmando com certeza a parte menos importante do nosso passado.

— Por motivos que não estavam em nosso poder, sua mãe me odiava, eu era só um garoto, e você também — Seu cenho se cala, não esboça sequer emoção nenhuma.

— Eu sei, mas ainda bem que deu errado, tivemos oportunidades de construir algo na vida, você se deu bem tanto quanto eu — Engulo seco por não saber como responder sua afirmação, porque apesar disso, para mim foi uma pena não termos dado certo.

— Não foi tão gratificante quanto parece.

— Mas porquê estamos falando sobre isso? Como você mesmo estava dizendo, eu só estou me auto sabotando, não somos psicólogos e não vamos resolver as questões do passado, elas já estão resolvidas — Repentinamente, entramos de novo em uma onda de desequilíbrio e Kate parece se envolver em sua armadura de proteção contra a delicadeza do assunto. Ela não sabe voltar ao passado sem se sentir vulnerável.

— Tanto faz então... — Digo e ela parece perceber o desinteresse em meu tom de voz.

— Vamos sair logo desse banheiro, por favor — Ela me pede.

— Nossa, sim...estamos presos aqui a muito tempo.

Enquanto ela se apressa para sair do banheiro, permito que ela me atropele para ninguém suspeitar que estávamos sozinhos juntos, mesmo que isso pareça impossível visto que o tempo naquele cubículo, passou como a velocidade da luz.

Kate caminha até a escada e desaparece entre ela. Decido continuar por mais alguns minutos no andar de cima, como uma forma de desvincular aos convidados, a possível ideia de que estaríamos sozinhos a mais de meia hora.

Quando desço para o andar posterior, o ambiente parecia mais ameno, todos os convidados comportavam-se como se a pequena discussão entre Dake e Kate não tivesse acontecido a poucas horas atrás, isso de alguma forma confortava meu coração.

Todavia, mesmo que todo o alvoroço tivesse passado, ainda havia algo dentro de mim que confrontava meus pensamentos, há desordem iminente quando estou ao lado de Kate, como se eu pudesse sentir o perigo se apossando do conforto que sinto quando a encontro casualmente.

Mas afinal, se não há nada em completa desordem de fato, porquê me sinto tão errado?

Reencontros - Castiel Amor doce +18Onde histórias criam vida. Descubra agora