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09h35 da manhã.

O som ensurdecedor e gritante do despertador ecoava nos meus tímpanos, me dando a sensação de estar sendo esfaqueada nos ouvidos.

Afundei meu corpo dentro dos cobertores na tentativa de me esconder daquele som infernal, o que foi em vão, já que ele continuava berrando no silêncio do quarto. Escorreguei minha mão para fora da cama e tateei, procurando pelo despertador, tentando o desligar com um toque rápido, entretanto, não encontrei o botão e fechei minha mão em punho, esmurrando o que parecia ser o despertador com ódio, até que o barulho parasse.

Funcionou, o que propavelmente indicava que eu o havia quebrado. Mas assim que vi o horário, me dei conta de que estava atrasada.

Atrasada para minha própria exposição.

Após correr em direção ao banheiro e tomar um banho rápido, escovando os dentes no meio desse processo, corri em direção ao quarto novamente e vesti o que parecia ser mais fácil na minha frente, um vestido vinho longo que era justo desde a gola até a cintura, e ia se alargando na saia aos poucos, saia essa que chegava abaixo dos meus joelhos. Prendi meu cabelo com pressa, apenas para disfarçar o emaranhado e deixei a franja ondulada solta, dando um ar despojado, diz-se com descuido por ser irresponsável.

Quando vi que cheguei no mínimo de estar com uma aparência apresentável, calcei os sapatos e passei pela cozinha pegando um pão doce e as chaves do apartamento, que ficavam junto com as do estúdio.

Numa corrida desenfreada e o mais silenciosa possível pelo corredor do prédio, cheguei ao elevador e o chamei, desesperadamente. Por que eu ainda insistia em morar no último andar, hein?! Desisti do elevador e me arrisquei a descer as escadas correndo, quase tropeçando no último degrau em três andares seguidos. Até que cheguei ao térreo, e tive que correr mais até a estação de trem.

Ghost's

Depois de dois dias enfurnado dentro de um quarto de hotel, resolvi que era hora de sair um pouco, não podia ficar dentro do quarto só esperando alguma ligação ou mensagem do trabalho. Assim que saí do quarto, tateei o rosto para ter certeza de que a balaclava estava  o cobrindo e quando senti o tecido sobre meu rosto, finalmente pude sair, descendo pelo corredor, não tendo pressa nos meus passos.

Haviam alguns poucos pontos da cidade dos quais me lembrava, não faria mal que eu tentasse relembrar alguns deles para me distrair pelo menos um pouco.

Segui de fora do hotel até a estação de trem mais próxima e comprei uma passagem com alguns trocados, esperando alguns minutos até que o trem chegasse e eu entrasse, refazendo antigos caminhos pela memória, lembrando-me de lugares a cada estação que o trem parava.

Meus olhos seguiram um trajeto rápido entre as ruas, minuciosamente, até que se fixaram em uma galeria que estava rodeada por gente do tipo mais esquisito e exótico possível. Hippies, góticos, emos, todos reunidos em frente as portas de entrada, olhando em todas as direções possíveis, parecendo à procura de alguma pessoa importante.

Com licença, por favor. – Disse uma mulher atrás de mim, dando um toque sutil no meu ombro para que eu a deixasse passar, ela parecia com pressa.

Desculpe. – Eu desci do trem, a vendo passar na minha frente e ir em direção ao público delirando em frente à galeria.

Ela passou por mim, com a expressão séria em seu rosto magro e olhos inexpressivos, contornados pela penumbra daquele dia comumente nublado. Era alta, devia estar na faixa de 1,70 de altura, era esguia e caminhava em passos leves e certeiros, tinha prática em caminhar todos os dias, eu arriscaria dizer.

Ela foi em direção a multidão, que assim que a avistou, a enalteceu e consagrou como se ela fosse uma deusa, quem era aquela mulher?
Minha curiosidade me despertou quando percebi que o trem havia ido embora.

Interpretei aquele sinal para ficar.

Loneliness. ' Simon Riley 'Onde histórias criam vida. Descubra agora