𝒞𝒶𝓅í𝓉𝓊𝓁𝑜 14

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Tobias

As folhas das árvores balançavam de um lado para o outro com a ventania que viera nos agraciar especialmente hoje. A cor predominante no céu era um cinza escuro apesar de ainda ser cedo, as nuvens se juntavam cada vez mais próximas uma da outra, trovões com seus sons estrondosos e inconfundíveis indicavam uma tempestade.

Dias ensolarados e quentes são muito bonitos, e excelentes para aproveitar uma piscina e uma bebida bem gelada. Mas nada se compara a dias como este. Não estava frio, mas o vento gélido fazia parecer que estava. Não estava chovendo ainda, mas apenas o cheiro de chuva iminente era suficiente para todos começarem a buscar por abrigo ou se fecharem em suas casas, seguros e secos. Eu, por outro lado, amo chuva. Me molhar por ser pego desprevenido, por exemplo, nunca fora um problema. Isso desde pequeno, mesmo que eu já tenha sido alertado inúmeras vezes do perigo de pegar um resfriado dos bravos. Me arriscar na tempestade era uma das coisas que eu sempre gostei de fazer.

Observava tudo e todos do lado de fora da casa enquanto a morena se vestia, sentada do outro lado da cama. Os carros indo e vindo, a rua estava mais agitada que de costume. Atento-me ao movimento na casa ao lado. A visão do lado de dentro não era ampla, muito menos clara, mas ainda assim era possível ver suas silhuetas andando por entre os cômodos. A janela em frente à minha estava fechada. Ficava em um nível de altura um pouco maior, por isso era impossível enxergar o chão. A cortina branca que costumava balançar durante todo o dia devido ao toque leve do vento, estava tão parada quanto o vidro que a antecedia. E ela estava assim há um tempo.

Faziam alguns dias que não a via. Era difícil de enxergar seu rosto através da vidraça meio fosca, mas as vezes podia vê-la pentear seus cabelos longos e dourados em frente a sua penteadeira, ou derrubar algo por ser bem desastrada, principalmente quando carregava muitas coisas ao mesmo tempo. Contudo, nos últimos dias, ela manteve sua cortina fechada a janela tão bem fechada quanto. Vir até aqui, ficar parado esperando que alguma brecha me deixasse ver o que estava por detrás daquele pano estúpido, era mais um ato de esperança do que qualquer outra coisa. Eu sabia que ela não estava em casa, mas ali estava eu. Patético como a um cachorro ansiando pela atenção de sua dona.


- Você está muito sério hoje, está doente?! – escuto sua voz doce e sorri ladino, me virando em sua direção


Observo-a vestir seu short rasgado e regata preta. Anna tinha uma voz aveludada e melódica, com certeza bem diferente do que você imagina quando a olha. Ao contrário de seu rosto que era simétrico, mas nem um pouco delicado. Ela tinha uma beleza única e era muito sexy. Cabelos longos, lisos e pretos, com uma mexa avermelhada que se perdia em meio aos fios escuros. Ela tinha mais piercings do que eu poderia me lembrar sem olhar bem para ela, e quase sempre estava com as unhas grandes e pontudas, pintadas em um tom vermelho escuro. Ela adorava usar muitos anéis, e quase sempre estava com um bracelete no pulso direito que escondia uma cicatriz. Uma vez me perguntei se ela tentou se machucar ou algo do tipo, e acredite quando digo que eu estava claramente preocupado. Mas a morena riu da minha cara e disse que foi só uma queimadura no escapamento de uma moto que ela estava concertando. Acrescentou ainda que eu ficava uma gracinha preocupado, acabando com toda a credibilidade e imagem de macho alfa que eu tento passar. Mesmo que seja uma completa farsa.

Ela se levanta e vem até mim. Pego um cigarro e acendo o mesmo.


- O que está pensando tanto? – cruzou os braços – Achei que depois de uma transa as pessoas ficassem mais leves e não mais chatas... – dou risada de seu comentário

Perfeitamente errado pra mimOnde histórias criam vida. Descubra agora