---Eu juro que tentei voltar antes, mas vou compensar com um capítulo grandão.---
Não consigo me desvencilhar da cena de Kai tocando meu corpo daquela forma, o calor sufocante e a necessidade que meu corpo sentiu dele, mesmo que tenha se afastado de mim a algumas horas foi tão diferente de tudo que já senti na vida. Desde o tom de sua voz tranquilo ontem à noite e a gentileza de seus movimentos comigo ao nos deitarmos fez algumas paredes rígidas em meu coração finalmente criarem coragem para começar a ruir, fazendo aquela faísca de esperança tomar intensidade dentro do meu ser, ansiando por mais, ansiando por Kailan.
Me arrumo rapidamente, me arrancando de meus devaneios ao ouvir Naomi se aproximar no corredor. Mesmo com a boa noite de sono ao lado de meu senhor, ainda me sinto cansado, como se estivesse gripado, minhas articulações doem muito a dias, me fazendo imaginar que serão dias tortuosos como já aconteceu antes. Só espero que desta vez não me deixe acamado como das duas vezes anteriores, que me renderam punições severas por não estar "prestativo".
Naomi disse que é normal que novos escravos passem em médicos para garantir a saúde plena, mas Kailan quer que Adrian, e apenas ele, faça esses exames em mim hoje antes da festa.
Não tenho tempo de fazer minha mente se consumir em ansiedade antes que Naomi se aproxime de mim e segure minhas mãos, me fazendo virar para ela e olhar em seus olhos.
-Você parece bem melhor hoje, querido. – ela diz com um sorriso no rosto.
-Me sinto melhor, o Sr. Petrov me deixou dormir em sua cama. – digo enquanto sinto minhas bochechas e as pontas de minhas orelhas queimarem de vergonha.
Naomi ri.
-Oh meu bem, não há nada demais nisso, não precisa se envergonhar. Tenho certeza que Kai não ultrapassou nenhum limite seu, correto?
-Não, ele foi muito respeitoso. Dormimos a noite toda.
-Isso é ótimo. Se ele fizer algo que você não goste, por favor, me conte imediatamente que na mesma hora irei arrancar a orelha daquele garoto com um puxão.
Rimos juntos dessa vez, mas uma careta de dor passa por meu rosto por estar a tanto tempo de pé. Não é forte o suficiente para obrigar-me a sentar, mas vejo uma ruga de preocupação surgir na testa de Naomi ao notar meus olhos enchendo-se de água.
-Está sentindo dor novamente, não é? Espero que Adrian descubra o que é isso. Precisamos ir agora, querido. Ele está nos esperando.
Quando saímos da mansão, o sol está forte no céu, mas o vento refresca a pele fazendo-me respirar fundo. Entramos no banco de trás do carro que nos levará ao consultório e minha garganta se fecha.
Apesar dos bancos confortáveis, tudo é extremamente escuro, me lembrando das celas que o senhor de escravos costumava me colocar. Meu coração acelera por aliar isso ao pensamento sobre hoje a noite, se Kailan fará o mesmo ritual de meu primeiro dono, tampando minhas vias aéreas e não se importando se a coleira está ou não apertada demais.
Antes que eu sufoque com o pensamento, Naomi abre as janelas do carro e segura minha mão, enquanto puxa o ar com força, me fazendo imitá-la. Seu toque é firme em minha mão, fazendo com que me sinta seguro.
Olho para fora e vejo a cidade passando rapidamente, cheia de cores e prédios, pessoas caminhando tranquilamente pelas ruas cheias nessa hora do dia.
Paramos em frente ao hospital que Adrian trabalha. A faixada é enorme quando descemos, me mantenho de cabeça baixa enquanto caminho ao lado de Naomi, me sentindo pequeno naquele lugar. O interior é tão incrível quanto, com as paredes brancas e estofados pretos, dando um ar sofisticado ao lugar. Atravessamos alguns corredores e Naomi bate na porta com o nome de Adrian. Ele nos deixa entrar e nos sentar nas poltronas à frente de sua mesa enquanto termina de fazer algo em seu computador.
Suspiro após me sentar, mesmo a curta distância fez o latejar nas articulações de meus joelhos intensificarem, sinto a dor começar a se alastrar lentamente, juntando-se a um latejar atrás de meus olhos.
- Bom dia. – diz Adrian com um sorriso que Naomi e eu retribuímos. – É ótimo ver você de novo, Ethan. Como se sente?
- Bem, senh-Adrian. – corrijo-me rapidamente.
- Mentiroso. Ele está com dores, Adrian, de novo. – rebate Naomi, cruzando os braços como uma mãe brava. Me encolho com vergonha e Adrian respira fundo.
- Aqueles comprimidos que me pediu semana passada eram para ele? – pergunta Adrian.
- Sim, ele tem esses episódios de dores e fraqueza intensas, estão ficando piores e mais frequentes.
-Entendi, já se sentiu assim antes, Ethan?
-Algumas vezes, começou com meu outro dono, a dois anos. As vezes é tão forte que não consigo sair da cama por dias, tenho muita febre, todo o meu corpo dói e uma dor de cabeça toma conta de mim que não consigo sequer abrir os olhos, além de algumas manchas na pele. Dói todos os dias, mas na maioria do tempo consigo lidar com ela. – respondo.
-Ninguém nunca investigou o que poderia ser?
-Não exatamente, uma vez o senhor de escravos chamou um médico, mas não soube o que foi dito.
-Entendi, Ethan. Vamos fazer alguns exames e você pode ir para casa, ok?
Aceno com a cabeça e passo horas ali colhendo várias amostras de sangue, exames de imagem, entre outros. Quando voltamos para casa, a tarde já começa a apontar e me sinto com fome, mas quando a porta
do carro se abre, vejo a Sra. Petrov parada na entrada da casa com dois escravos da casa que já vi antes à seu lado.
-Você vem comigo, vou te preparar para a festa. – diz enquanto ri perversamente e sou arrastado para dentro pelos braços, em um aperto de ferro dos dois homens.
Olho rapidamente para trás com lágrimas já escorrendo pelo meu rosto em busca de ajuda e vejo Naomi parada com a mão no peito enquanto tenta me confortar dizendo que tudo vai ficar bem, embora saibamos que não vai.
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Eeeeeeeeeeeeeeita! Galera, vou escrevendo conforme a ideia vai surgindo, se quiserem dar dicas, desejos e/ou vontades do que querem na história, posso desenvolver de um jeito bacana. Ainda me ajudam com a parte criativa que só surge uma vez a cada 35 anos para mim kkkkkkkk
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Lançados à Sorte
RomanceEm um país distante, leilões de escravos são feitos livremente para as famílias mais ricas e poderosas. Os terceiros filhos das famílias pobres são dados para este tipo de prática em troca de moedas de ouro que garantem o sustento durante muitos ano...