Capítulo 6

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No outro dia, depois do meu encontro, fui para o meu consultório. Uma parte de mim estava feliz por finalmente está resolvendo essa situação, outra parte está muito tensa em desvendar a verdade. Através da resposta que eu saberia o que fazer.

Passei por minhas pacientes como um vulcão. Eu não era mal educada, mas a recepção estava lotada, um barulho sem fim, não estava com paciência para gastar a minha voz. Minha secretária veio atrás de mim em passos largos.

Joguei a minha bolsa no canto juntamente com o casaco. Hoje, eu tinha escolhido
um vestido na altura das coxas e echarpe. Infelizmente, ainda estava com hematomas em meu pescoço.

- O que temos hoje, Ângela? - Perguntei a minha secretária.

- Prevenções e isto. - Ela apontou para o meu lado.

Eu não tinha percebido. Eram rosas
e champanhes. O buquê era enorme
e muito lindo. O meu dia tinha ficado consideravelmente melhor depois de ver tantas rosas em minha frente. Tinha um cartão vermelho entre elas. O peguei, e me inclinei para cheirá-las. Estavam perfumadas.

Minha secretária saiu para me dá privacidade. Igor estava querendo mesmo comprar ou fazer com que tudo desse
certo para nós. Fazia anos que o mesmo não me dava rosas. Principalmente tão belas e tão puras como essas.

Abri o cartão e li: "Renda-se, como eu me rendi.

Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.

Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. P”.

Minha boca caiu um pouco ao ler. Reler novamente. P? A única pessoa com essa inicial que eu conhecia era a Priscila. Lembro-me dessa citação, li certa vez. Era de Clarice Lispector. Renda-se... Peguei uma rosa e passei suavemente no meu rosto. Parecia que tinha um cheiro da Priscila: Doce, e embriagante.

Fiquei reflexiva. Eu sempre fui muito certa nessa vida. Nunca bebi demais ou fumei demais. Quase sempre fui muito honesta. Nunca furei uma fila. Nunca enganei ninguém - até o exato momento. Eu era a boazinha que todo mundo queria ser amigo e consequentemente, passar a perna. As poucas emoções que tive em minha vida foram nos últimos três dias em que a Priscila se fez presente nela.

Isso parecia muito horrível de se dizer. Mas era a verdade. Ser malvada um pouco,
meio que viciava. Talvez fosse isso que me encantava na Priscila... Ela me fazia quebrar os meus próprios padrões. Eu não era apenas a Carolyna, esposa de Igor quando estava com ela. Eu era a Carolyna, dona de si própria.

Eu sei que muitas pessoas acham que eu sou frágil, quebrável, uma bonequinha. Mas não, eu sei que sou mais que isso. Não sou essa personalidade de merda, totalmente submissa que aceita ser manipulada pelo marido. Não sou mesmo. Eu tenho minha vontade própria. As pessoas não me conhecem, mas irão me conhecer.

Priscila me oferecia uma vida cheia de aventuras. E se eu me aventurasse um pouco? Se Igor podia, porque eu não? Os direitos eram iguais, não?

- Sabia que você iria gostar do buquê. - A voz de Priscila encheu o meu consultório.

Olhei para ela, surpresa. Não sabia que estava em meu consultório. Estava linda. Com um rabo de cavalo e algumas madeixas caindo e emoldurando o seu rosto. Uma blusinha de ombro larga, e legging juntamente com tênis surrado.

- O que está fazendo aqui, Priscila? - Perguntei sem querer ser grossa, mas apenas para provoca-la. - Vou começar a considerar que você está me perseguindo ou me assediando.

Priscila riu, e se aproximou. Estranhei a Ângela não ter entrado toda afobada.
Geralmente, a minha secretária era bem rígida com as entradas das minhas pacientes em meu consultório. Mas bem... Priscila não era a minha paciente.

SECRET - CAPRIOnde histórias criam vida. Descubra agora