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Apartamento Moving Space- Portão 

04:00

Domingo

Beni Gelhorn estava me beijando.

— Você.. 

Congelei apenas puxando ar já que uma inesperada sessão de amassos não estava nos meus planos, com os olhos arregalados e as mãos firmemente envolvidas por dentro da camiseta dele.

— Isso foi..— Devolveu também não sabendo o que dizer.

De alguma forma um alerta se acendeu automaticamente em minha mente, tirei minhas mãos dando um passo pra trás tentando criar uma nova distância entre nós, ainda sentindo um frio na barriga e a sensação gostosa de finalmente ter encaixado em alguém tanto na amizade quanto no sentimento.

Mas é ai que tá' 

— Ce me beijou! Lazarento, por quê?!

— Se ninguém explicar as coisas de forma clara você jamais vai entender nada, né não bobaiona?!— Criticou dando um passo a frente e eu mais um pra trás.

— Talvez se eu soubesse que djanho você quer as coisas fluíssem melhor! — Ele riu, de verdade, gargalhou. — Colocaram algo no seu chiclete ou decidiu dar uma chance ás drogas?

— Eu só acho engraçado você gostar de mim de volta, no começo, há meses atrás eu estive com meu pai e ele disse que sempre achou que algum dia você iria se casar com o Gabriel e simplesmente sai do escritório com o estomago tão embrulhado quanto poderia. Não faziam nem dois meses que éramos amigos e..Mesmo que eu soubesse que eu tinha começado a sentir algo a mais pensei que poderia perder você então guardei pra mim. — Ele me encarava, parecendo aliviado por dizer aquilo e não parou por ai se aproximando mais e passando uma das mãos do meu braço até segurar minha nuca. — A cada conversa, a cada saída descontraída, sessões de Harry Potter, a cada vez que dormimos juntos nesse bendito sofá eu fechava os olhos e pensava o que eu poderia fazer já que você é a melhor amiga do mundo..mas também é a pessoa pela qual eu ansiava, a pessoa dona dos meus pensamentos, a única pessoa que eu realmente queria que me visse; Não visse o "carrasco", não visse uma parede sem sentimentos. Você não só me fez pular totalmente fora da minha zona de conforto como melhorou todos os dias desde que faz parte da minha vida, eu não podia, eu não quero perder você.

Eu já o tinha visto falar bastante, mas não desse jeito tão suave. Beni tirou a mão ao me ver congelada no lugar, ele me conhece tão bem ao ponto de saber exatamente que em momentos de tensão preciso de alguns segundos antes de raciocinar. Sentei no sofá novamente pegando meu quadro e o abraçando contra o peito, enquanto me ajeito de forma confortável ele vai até a cozinha tirando o que já era tradição nessa casa; tequila. 

Segurei o sorriso nostálgico já que aquela noite foi há quase um ano atrás, abraçada ao quadro com uma mão, estiquei a outra pra alcançar a garrafa já que ele se sentou ao meu lado em silêncio.

— Jéssica sabia.— Concluí, sem perguntar, depois de um grande gole que desceu queimando a minha alma.

— Certo dia talvez um certo alguém pode ter ido até o bar, e bebido demais pra não conseguir segurar choramingos.  

Ficamos um tempo em silêncio um do lado do outro, sem ser desconfortável, apenas um pouco tensos com tudo o que foi dito e como era a hora certa de tirar tudo a limpo respirei fundo e ainda meio trêmula peguei em sua mão entrelaçando nossos dedos.

— Se gostava de mim por que caralho de asa ficou o tempo todo falando daquela..Ela não tem culpa, mas não sou a melhor no quesito sororidade entre as mulheres no momento, e eu quero mais é que ela caia no vão de uma canaleta e um ligeirão pinheirinho passe por cima. — Falei rápido e ele riu dando um aperto suave na minha mão.

— Estive esperando que você tivesse alguma reação, se eu visse ou você dissesse algo eu daria um passo a frente e te beijaria, talvez se tivesse dito antes que queria que um ônibus biarticulado passasse por cima dela nós já estáriamos juntos. — Respondeu sinceramente e dessa vez eu realmente tive que encarar bem seu rosto com minha melhor careta. — Tudo bem, esse plano soava bem melhor quando estava apenas na minha cabeça mas eu prometo que não senti nada com ela e nós nem trans-

Tampei sua boca rapidamente, negando com a cabeça e ignorando seu susto com o movimento abrupto.

— Eu já entendi, apenas vamos esquecer que essa querida existe, porque se eu ouvir mais uma atrocidade saindo dessa sua boca vou ser obrigada a quebrar a garrafa de tequila na sua cabeça!

— Ameaças á parte, estou feliz de finalmente ter dito em voz alta. Nunca soube o quanto um sentimento pode corroer por dentro, eu acho que cheguei perto de falecer umas dez vezes.

— Bem vindo ao grupo, aposto que Gabriel iria tentar me matar se eu dissesse isso perto dele.— Resmunguei passando a garrafa pra mão livre dele e me aconchegando mais ao seu lado, uma posição comum entre nós. 

— Ele esteve me provocando de propósito..certo?— Meio desconfiado se separou o suficiente pra colocar a garrafa no chão frente ao sofá e me abraçar de lado, um suspiro tranquilo que eu sempre ouvia antes de nós dois dormirmos.

— Gabriel é um maldito genial, foi ele quem me disse sobre você quando Bruno ia me bei-..me dar a gargantilha de aniversário.— Troquei tentando passar batido, olhei pro nada tendo uma vontade absurda de assobiar.

— Bruno tentou te beijar?!

É, não adiantou ter tentado passar batida então apenas acenei e usando o resto de coragem que ainda tinha em meu corpo grande e meio mole pelo álcool encaixei minha cabeça em no pescoço dele sentindo o perfume masculino que ajudei a escolher.

— O que vamos fazer agora? — Soltei baixo e ele tremeu todo parecendo segurar o riso, revirei os os olhos mordendo seu pescoço de leve só pra vê-lo paralisar um pouco.— Se disser dormir eu te mato.

— Eu quero você, era só o que eu queria desde o começo: sua amizade, seu companheirismo e todo o pacote premium de tdah e alcoolismo. Não sei se posso falar por você nesse quesito mas..Estamos juntos.— Simplificou como se não fossem meses tentando não nos fundir um no outro sem saber. 

— Estamos juntos? — Repeti pra mim mesma nem notando que disse em voz alta até ele me abraçar com mais força.

— Estamos, sou seu até que você se canse. 

Rimos e nos ajeitamos de forma que eu conseguisse deitar em seu peito e jogar uma das pernas sob as dele, um último beijo sonolento em cada canto do meu rosto enquanto eu deixava o sono tomar conta com um sentimento gostoso de realização.

Por que apesar de ser tão desacreditável no momento, era real.

Beni Gelhorn está apaixonado por mim. 

Tudo que eu NÃO queriaOnde histórias criam vida. Descubra agora