⚡6⚡

160 30 4
                                    

 Apartamento Moving Homespace - Portão

17:15

**

Oito minutos de conversa desinteressante sobre o movimento das lojas, foi sobre isso que falamos o caminho curto do estacionamento até seu apartamento. Fiquei surpresa ao saber que Beni Gelhorn não mora em uma casa gigante como a do Seu Icek, cada vez que eu achava que sabia algo ele mostrava como estava errada. 

Nem três dias conversando direito e quebrava alguns surtos sobre a riqueza da coruja solitária, o prédio é bonito e parece ser bem frequentado pois jurei que assim que passamos pelo hall de entrada senti cheiro de classe média-alta, comentei com Beni que revirou os olhos mas sorriu seguindo para o elevador e apertando o número seis. Logo avisto um corredor com mais quatro portas, entramos na primeira com um tapete impessoal preto, o apartamento é menor do que imaginei e ele mostrou tudo com atenção as minhas reações, chão de mármore preto, sofá de três lugares super confortável e uma cozinha americana pouco equipada, tapete de pelinhos pretos na sala e uma tv grande. Não pedi pra ver nada, deixando que ele mesmo me guiasse mesmo que tivesse dito que estava livre para vagar aonde quisesse. 

Eu me apaixonei pela pequena varanda, meu sorriso quase não coube no rosto vendo uma poltrona e um livro no apoio, era perfeito, uma vista bonita da cidade e da janela de um ou dois vizinhos, não deixei de me sentar olhando maravilhada pra tudo já que sempre quis uma varanda.

— Agora sim você se parece com você. — Ouvi ele dizendo, sabia que estava encostado no batente da janela francesa me olhando, não me deixei sentir vergonha, só estou curtindo um momento.

—O que quis dizer?

— Você tá sempre mais leve que seu irmão mas desde sexta te vejo como uma frustada adolescente.

— Não sei se fico irritada por me chamar de frustrada ou feliz por achar que pareço adolescente.— Balanço a cabeça pra tirar a franja do rosto e olhar melhor pra ele, com um sorriso pequeno.

— Deveria estar frustrada pelas duas coisas, parecer uma adolescente frustrada nunca é bom.— Rebateu saindo do batente enquanto eu o seguia, me sento no pequeno balcão o assistindo abrir a geladeira em busca de algo, meu sorriso ficou maior ao ver que continha smirnoff ice ele me oferece uma antes de sentar a minha frente. — Eu sei que tudo parece tenso, então vamos fazer do jeito clássico: álcool e perguntas prontas. — Bebeu um longo gole antes de voltar a me encarar, nunca reparei que seus olhos não são de um tom castanho merda como o meu, realmente bonitos. — Cor favorita?

— Isso é sério?— Questionei quase largando tudo e indo dormir na varanda bonita. Ele passou uma das mãos pela barba como em um costume refletivo do nervosismo. — Eu tenho uma pergunta melhor..— Bebi mais, testando se um tanto especifico de álcool me deixava pronta ou deveria ir além. — Aonde você lava as roupas?

Ignorei seu rosto confuso gesticulando com as mãos sobre o apartamento, não vi nenhuma máquina de lavar, nenhum varal.

— Tem uma lavanderia coletiva lá embaixo,  sou meio minimalista. — Respondeu mais baixo parecendo meio acuado por um momento mas se ajeitou na cadeira. 

E então tive outros olhos sobre o apartamento, nada muito chamativo, não tem enfeites sobre o pequeno hack ou seu sofá sem almofadas, era algo a mais que sabia dele e é legal ter acesso a essas informações. Me sentia mais confortável, mesmo que fosse uma coisa mínima me ajudou a acalmar os nervos, foi engraçado a cara que fez quando perguntei se ele tinha algo mais forte pra beber, tão logo surgiu uma garrafa José Cuervo fechada na bancada e dois copos pequenos. Ele não tem limão então decidimos pelo lado rústico da coisa virando shots observando as caretas pelo ardor da tequila, não falamos nada por muito mais tempo ouvindo minha playlist do youtube baixinho e rindo cada vez que um de nós fazemos caretas engraçadas. A garrafa já estava na metade quando reclamei da cadeira não ter apoio, ele foi rápido até o sofá e ai que descobri que era um sofá-cama, acabamos jogados cada um em um canto, meu mais novo amigo bêbado pesquisou sobre o jogo de 21 perguntas e colocou o aparelho entre nós dois pra decidirmos na pedra,papel ou tesoura, ganhei melhor de três ouvindo a voz arrastada de Beni reclamando que eu estava roubando o que é impossível, peguei seu celular e depois de ler fiz uma imitação de radiologista pra começar.

— O que você queria saber fazer muito bem?

Ele sorriu abertamente, erguendo e abaixando as sobrancelhas o que me fez rir e me ajeitar melhor pra encarar ele.

— Demonstrar melhor meus sentimentos, eu acho.

Acenei também sorridente, o álcool no sangue fazendo um bom serviço pra nós dois.

— Qual é a sua música favorita pra cantar no karaokê?

— Nenhuma porque odeio karaokê. — Revirou os olhos. — Se alguém não sabe cantar bem não deveria nunca cantar em um local público, em cima de um palco com um microfone alto!

— Resposta meio ranzinza mas tudo bem. Qual foi a coisa mais espontânea que você já fez?

Beni deitou de lado, me encarando em silencio por um instante.

— Escolher ser seu amigo.

Tentei não parecer envergonhada quando trocamos sorrisos.

— Qual seu maior prazer culpado?— Arregalei os olhos pra ele com curiosidade.— Essa sim é uma boa pergunta.

— Eu como porco e camarão.

— Ué e isso é um prazer culpado de onde?  

— Eu sou judeu, porco é sujo e camarão não conta no cardápio porque não são kosher .

Apenas aceno como se tivesse compreendido e procuro a próxima pergunta.

— Qual o fato mais interessante que você conhece?

— Bichos-preguiça fazem coco uma vez na semana. — Respondeu sem hesitar, não deixei de erguer uma das sobrancelhas duvidando se realmente é o fato mais interessante que ele conhece o que o fez bufar.—  Aproximadamente 80% dos nossos pensamentos são negativos.

— Quais são as três palavras que te descrevem?

— Praticidade, honestidade e firmeza.

Antes de ler a próxima tirei os tênis pra deitar melhor enquanto Beni buscou uma coberta enorme e dois travesseiros, pra que fique mais confortável segundo ele, concordei e nos ajeitamos melhor de forma que os dois usem a mesma coberta sem ficar grudados. Ri quando ele ofereceu que fizéssemos uma parede de travesseiro entre nós dois. Ele apagou as luzes, e pegou meu celular pra mudar de música.

— Prefere balada ou um jantar a luz de velas?

— Só tem essas duas opções?— Gemeu em descontentamento.

— Responda a pergunta.

— Jantar.

Bocejei procurando a próxima pergunta.

— O que é mais importante, felicidade ou verdade?

— É com verdade que se tem felicidade.

Soltei um longo "hm" largando seu celular entre nós dois e ele fez o mesmo com o meu abaixando a música, deitados no escuro nos olhando com sono, eu não admitiria pra ninguém mas nesse momento já me sinto segura em dizer que agora temos intimidade, ainda que pequena é o suficiente. Apaguei ouvindo The Academic- why can't we be friends.






Tudo que eu NÃO queriaOnde histórias criam vida. Descubra agora