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19h45

Estacionamento Mini Preço
Fanny

Aninha, desligou tudo? Já estão fechando o caixa central. — Mardonio avisou saindo do refeitório.

Peguei o celular

"Estou indo, não encosta o portão que eu vou entrar"

— Já estou pronta, só esperando um.. colega passar aqui.

Mardonio riu mexendo as sobrancelhas em malícia e se apoiou no balcão com folga.

— Colega? Acho que finalmente alguém vai desencalhar aqui!

Reviro os olhos pra ele tentada a dizer que não era nada disso mas apenas neguei com a cabeça. Não precisei dizer mais nada pois um golf adentrou o estacionamento rapidamente. Beni, de janela aberta com sua cara séria me encarou.

—Boa noite. — Cumprimentou o segurança e logo voltou seus olhos para os meus. —Vamos?

Assenti puxando a bolsa sem olhar a provável cara de tacho que Mardonio deveria estar. Até porque quem iria imaginar?

Espero entrarmos na linha verde pra finalmente dizer algo.

— Sobre o que vamos conversar?

— Você gosta do McDonald's?

Estranhei, fiquei quieta esperando que seja alguma piada até ele parar no sinaleiro.

— Eu.. gosto, eu gosto sim.

— Ótimo, vou parar no drive e a gente conversa depois de comer.

Apenas concordei, o caminho foi feito rapidamente pois ele andava como um lunático na linha verde. Só voltou a falar pra perguntar o que eu queria no drive. Foi uma sensação esquisita, não estava desconfortável..só é novidade, nem parecia real o suficiente a olho nu. Ele parou no estacionamento e já com os lanches em mãos o clima parecia até leve e descontraído , apenas o som do plástico e nossas respirações, ansiei por barulho e fiz algo que nunca imaginei e odiava que qualquer ser vivo fizesse: mexi no rádio alheio. Travei com a mão a poucos centímetros do rádio testando se sairia viva no segundo seguinte mas não houve nada então comecei a mastigar as batatas com timidez medida.

 — Eu quero ser seu amigo.— O encarei de rabo de olho engolindo três batatas sem mastigar, esperei descer tudo antes de rir baixinho, não me virei pra ver mas sabia que seus olhos estão forçados me analisando. — Não é uma brincadeira, eu quero ser seu amigo.

Equilibrei o lanche e o milkshake pra me ajeitar no banco, de forma que ficamos de frente um para o outro.

— Isso é engraçado, me lembro de ter tentado isso quando tinha sete anos e você quinze e a exata cara de horror que fez. — Debochei imitando seu retorcer de lábios e o nariz franzido o vendo revirar os olhos abaixando o cheddar McMelt.

— Você é rancorosa demais,por isso o chevette  está escondendo coisas! 

Respirei fundo enquanto seu rosto demonstrou um brilho perverso.

— Você foi maldoso agora, se vamos levar isso  a diante vai ter que treinar mais.— Avisei erguendo as sobrancelhas e ele segurou um sorriso. — Eu moro com Nathan, ele é o diretor dessa área, ele é como a Regina George lá de casa.

— Eu não sei quem é..— Tentei interromper de olhos arregalados mas ele continuou. — Como isso vai funcionar? Você disse que tem uma programação semanal.

— Você não tem um monte de amigos ricos com festas no barco?

— Não tenho muitos amigos e não gosto de barco..ou de festas. Gosto de ficar na minha, sozinho.

Bufei me sentindo desiludida, Beni Gelhorn não sabe viver.

— Tudo bem coruja solitária.

—Cada vez que você abre a boca perco dois anos de vida, e o certo é lobo solitário. 

Sorri, perdendo 50% do medo de falar, talvez essa estranha amizade seja divertida.

— Vou continuar falando, quem sabe você chegue aos 30.

Ele riu, exatamente como na balada, com seus dentes branquinhos em meio a barba bem feita. Voltei a comer as batatas menos nervosa assistindo ele comer em silêncio novamente ouvindo a caioba fm.

Tudo que eu NÃO queriaOnde histórias criam vida. Descubra agora