CAPÍTULO 01

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  Esta não é uma história de amor, mas ainda é sobre ele.



A ignorância é uma benção, mas sempre que precisei entender o que é o amor, ela foi uma maldição.

Já estou crescida o suficiente para entender os sentimentos que tenho desde o começo da minha vida: Felicidade, Raiva, tristeza e...?

Por enquanto, vou chamar o último sentimento de "ignorância".

Em um lar, construímos a visão do mundo a partir do que enxergamos diariamente. Para ser honesta, é até irônico esta visão, uma vez que ela se vê cega para a "ignorância". Esta foi minha visão do mundo, uma visão que nunca foi completa.

Ainda criança, criei laços fortes com a tristeza, que mais tarde apelidei carinhosamente de "querida velha amiga". Ela foi o sentimento mais forte que já havia sentido, mas além disso, ela era fiel a mim. Nunca fui esquecida por ela, mesmo nos momentos em que a felicidade tomava a frente, ela ficava na retaguarda.

- "Eu gosto de você"

- "hm...legal."

Essa foi minha primeira declaração do que eu sentia ser a "ignorância", camuflada com a palavra "gostar". Parecia que dizer a palavra "gosto" reduzia minha timidez, e de certo modo, ela reduzia. Também é certo dizer que foi a primeira vez da minha "querida velha amiga" se mostrar para mim mais intensamente.

Eu estava no começo da adolescência quando eu "gostei". O menino em questão era Liam, um amigo muito próximo, não tinha um dia em que eu não experimentasse a felicidade com ele, mas maldito seja esse "gostar" que o fiz saber. No fundo, eu não estava esperando reciprocidade, mas sim uma chance de poder compartilhar meus sentimentos, e foi ali que percebi que mesmo sendo o sentimento mais positivo possível, também trazia sentimentos negativos, também trazia a tristeza.

Após eu verbalizar o meu sentimento, ele parou de falar comigo. Para dar uma boa resumida, pouco tempo depois ele começou a namorar com uma menina de olhos azuis claros, pele branca, cabelos loiros, carismática e um sorriso lindo. Ela era linda, e era também o meu tormento, quem me caçoava todos os dias.

"Como meu amigo, a quem eu disse que gostava, começa a me ignorar e namorar quem faz bullying comigo?"

Essa pergunta que fiz a mim mesma, marcou metade da minha adolescência. E com isso, eu aprendi a "gostar" de alguém somente em meus pensamentos.

Quase 4 anos depois, voltando do intervalo de classes, eu ouço em meio ao barulho de adolescentes conversando:

-"Oi".

Subindo as escadas de volta para as salas de aula, eu escuto essas duas sílabas, mas não tinha ninguém na minha frente falando comigo, então ignorei.

- Ele está falando com você! Olha para trás. – Disse minha melhor amiga, Anna.

Me virei um pouco nas escadas e reconheci sem esforços de quem era o rosto. Era o rosto da minha primeira "ignorância".

-"Ah, Oi". – Rapidamente, continuei subindo as escadas sem dizer mais uma palavra ou olhar para trás novamente.

- "É o Liam, você não o viu, Helena? Por que não continuou o papo?"

E da mesma forma que não sabia por que minha "ignorância" há 4 anos atrás foi reprimida daquela forma, eu também não sabia como respondê-la do porquê não continuei o papo, então apenas continuei andando em silêncio.

Até que o amor me definaOnde histórias criam vida. Descubra agora