CAPÍTULO 05

12 4 4
                                    

Meu primeiro dia na faculdade, estava ansiosa para poder me sentir "livre" dentro de um ambiente acadêmico, coisa que era impossível na escola, como por exemplo se levantar sem pedir permissão, para ir aonde quiser.

- "Então, por que escolheram este curso?" perguntou a primeira professora, que também era a coordenadora do curso de psicologia.

"Para ajudar o próximo", "por que sou bom ouvinte", "sou bom em aconselhar"

Essas foram algumas das respostas que ouvimos. Nenhuma era a minha, pois a timidez a roubou de mim, e ali eu vi que eu era livre, mas não dos meus próprios demônios internos.

As respostas eram nobres, exalavam empatia nas palavras, mas eu não entendia porque sentia raiva. Talvez por que não disse o que queria? Talvez por que achei as respostas comuns ou ambas as coisas? Tudo que eu sabia era que eu me frustrei, em silêncio, obviamente, mas não durou muito. Algumas horas depois, tive meu primeiro intervalo na faculdade. 

Em segundos, quase como se o mundo ficasse em câmera lenta, eu lembrei dos intervalos na época da escola, do inferno que havia vivido e da diária atuação para não parecer sozinha. Quando me toquei, eu ainda estava sentada na cadeira, muitos haviam saído para o intervalo, outros ficaram em suas mesas em completo silêncio, e de fato, eu nunca fiquei tão feliz por "ouvir" o silêncio, porém mais do que isso, eu estava feliz, feliz por não precisar atuar fingindo que não que estou sozinha, pois ninguém ali estava olhando para o outro como me olhavam na escola, com certeza isso era bem melhor do que a ideia de não precisar pedir permissão para sair da classe.

Como uma boa camaleão social, eu consegui ter alguns colegas ao decorrer do primeiro bimestre do curso. Ainda prezava pelo meu precioso silêncio no horário do intervalo, mesmo as vezes havendo  pedidos para eu ir com os outros, eu ainda escolhia ficar no meu mundo silencioso, pois eu achava que isso foi um dos melhores presentes que o universo me deu.


25 de Abril

Era meu aniversário este dia, e começou comigo indo para a faculdade. Assim que entrei na classe, pouco antes do horário, entrei novamente em uma luta interna com meus demônios.

''- Parabéns!''.

Foi essa a palavra que eu ouvi de quase todos os alunos da classe, mas não era ela o problema, e sim os abraços. Eu estava fazendo 18 anos e ainda me sentia completamente paralisada quando recebia contato físico, e neste dia em específico, eu recebi de quase toda classe, vindo um por um, junto com a mesma palavra. Era a primeira vez que eu abraçava muitas pessoas de uma só vez, inclusive sendo alguns quase um total desconhecido se não fosse por eu ver todos os dias na mesma classe.

Me encontrei novamente frustrada, estavam me desejando coisas boas, e sem nenhum motivo para lembrar do meu aniversário ainda sim fizeram questão de lembrar e me desejar feliz aniversário, mas por que eu não estava gostando dos abraços? não havia nenhuma ameaça, mas eu sentia aversão, o meu corpo aguentava o máximo que podia a cada novo abraço. 

E mais uma vez, eu me culpei. 

Para mim, aquilo era ''amor'', pois eu sabia que abraços geralmente estão entrelaçados com esse sentimento, mas não era o meu caso, eu não consegui devolver esse amor que me deram, e com isso me senti ingrata, e me culpei também por isso.



Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 07 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Até que o amor me definaOnde histórias criam vida. Descubra agora