CAPÍTULO 02

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Enquanto crescia, mais rápido internamente do que externamente, percebi que a música era algo presente na vida de todos, mas que cada um sentia ela de forma diferente. Em determinada época do meu desenvolvimento, a música começou a me chamar atenção, pois enquanto muitos da minha idade ouviam pessoas cantando sobre amor, eu sempre fui mais fascinada pelas músicas que não tinham nenhuma voz, nenhuma pessoa dizendo sobre o amor, mas não porque eu não gostava e sim porque os instrumentais sempre me fizeram sentir mais do que as palavras.

Foi quando percebi que a música era uma chave mágica que com apenas um toque podia me fazer sentir felicidade, raiva ou tristeza. Achava curioso como muitas músicas sempre falavam sobre esse tal "amor", onde ele era traído, correspondido, negado ou a ponte para a felicidade.

"Por que as pessoas cantam tanto sobre isso?" - era o que eu me perguntava. Parecia que a essência da vida estava nesse sentimento, mas eu não o conhecia.

"Se o amor é a essência da vida, eu não estou vivendo?".


Após um ano desse acontecimento, eu senti novamente minha "querida velha amiga", mas dessa vez de uma forma diferente. Nunca tinha, de fato, reparado que o amor também estava presente nas amizades, até que eu perdesse uma em específico, da minha melhor amiga. Anna e eu estávamos quase com 17 anos e não nos víamos mais com frequência, esse motivo nunca a fez perder o lugar de minha melhor amiga, mas isso não se aplicou para ela em relação a mim.

São poucas pessoas que podemos nos afastar um tempo considerativo e ainda sim, sermos nós mesmos, mas não era nosso caso. Eu a tinha ao meu lado há 6 anos e de repente me vi sozinha. Não apenas no sentido metafórico, mas também no físico, pois sempre fui refém da timidez e as poucas pessoas que conhecia foi graças ao vínculo que ela estabeleceu. A escola que antes era suportável, virou um pesadelo. Como eu disse, a tristeza sempre foi fiel a mim, e nessa época ela se mostrou mais fiel do que nunca. Era ela quem me dizia bom dia e me dava um beijo de boa noite, dia após dia, enquanto eu tentava fingir indiferença por estar trancada no banheiro da escola para ninguém suspeitar do quanto eu era sozinha. Esse episódio me fez lembrar da minha primeira ignorância reprimida, o amor se tornou raiva, e foi o que aconteceu com minha amizade.

Quando você percebe que está por si só, você tem a possibilidade de encontrar um novo amor, o que mais tarde descobri que se chamava amor-próprio. Enquanto eu estava trancada no banheiro, eu ainda tinha alguém, eu tinha a mim. Prestamos muita atenção no amor ao outro, mas esquecemos que também podemos ser esse outro. Eu fui responsável por aguentar aquele pesadelo, eu sentia o amor-próprio e a tristeza todos os dias brigando pela liderança, e ambos os sentimentos eram teimosos.

Pensando agora, é realmente engraçado. Eu precisei perder o amor de alguém para perceber que eu amava mais alguém, eu amava a mim. Por um lado, esse tal amor me fez aguentar, mas foi também por causa dele que eu precisei aguentar. Eu o via mais como um vilão, era mais uma maldição do que uma benção. E claro, após isso, eu não "gostava apenas em pensamentos" como havia decidido fazer, eu apenas não me permitia gostar de ninguém, seja de qualquer maneira.

Até que o amor me definaOnde histórias criam vida. Descubra agora