Império de Gelo • sungsun

Capítulo V

SUNGHOON

Meu cuidado para com ela era à distância, meu dom da água era usado de modo errado, invertido. Eu nem sabia se deveria fazer isso. Eu tinha medo de que me descobrissem. Nunca encontrei outro alguém com dons como os meus, que conseguissem transformar a habilidade da água para o calor. Seria isso possível apenas comigo?

Talvez Sunie fosse mesmo uma criança de muita sorte, pois tinha a mim para protegê-la do frio. Talvez eu tivesse sorte também, por tê-la como meu amuleto.

Eram tantos pensamentos.

— Olá?

Senti meu corpo paralisar por inteiro quando essa voz suave chegou aos meus ouvidos como um canto dos céus.

Levei uma mão para cobrir meu rosto com o tecido da roupa que eu usava, deixando apenas meus olhos aparentes quando me virei em direção à voz.

E era de fato Sunie. Ela não usava mais o manto, deixando às vistas seus cabelos curiosamente claros, que desciam pelos ombros num tom que ia para o vermelho. Uma criança peculiar.

— Tudo bem? — ela continuou a falar, dando um passo à frente. A expressão em sua face era de pura curiosidade, ao ponto de seus olhos estarem brilhando. — Você... Você...?

Dei um passo para trás. Teria ela percebido que eu era o Príncipe Imperial?

— Não fuja — Sunie me implorou baixo, num sopro de voz.

Dei outro passo quando ela avançou mais para perto, noutra tentativa de aproximação.
Ergui um braço, sinalizando que ela parasse de andar, enquanto a outra mão ainda cobria meu rosto com o tecido.

— Por favor, fique... eu sei que é meu amigo — ela me contou, ignorando meu sinal.

Amigo...

— Por favor... — Sunie disse ainda se movendo lentamente para frente, mas mais cautelosa.

Não, eu não era seu amigo.

— Apenas... apenas fique onde está — eu proferi as primeiras palavras em direção a ela e nunca me esquecerei. Não me esquecerei de como ela parou de andar no mesmo instante e de seus olhos procurando por qualquer coisa em minha imagem, parecendo cair em si sobre não insistir em uma conversa.

— Me desculpe — disse ela em tom baixo, quase inaudível.

Virei para o lado, saindo para longe. As poucas palavras de Sunie me causaram mal-estar.
Assim como cheguei, de repente, me retirei de lá. Eu estava tendo um dia ruim, estava entrando em um torpor desconhecido.

Meu amuleto, que tanto foi meu refúgio, agora queria ser meu amigo. Mas ele não era. Eu não era como um dos seus, pois estava numa posição superior, eu era melhor do que isso. Era um príncipe, o herdeiro do Grande Império!

A breve constatação de amizade por parte da criança me acordou sobre como ela me via, me deixando perturbado. Não éramos iguais, pois tínhamos destinos distintos um do outro, mas a realidade daquela situação tornou a amizade um caminho possível aos olhos da criança.

Não teríamos amizade alguma, pois não era minha intenção que tivesse. Eu não deveria ter sido visto por ela ainda e não queria conhecê-la. Como imaginei, uma aproximação repentina e fora de hora seria ruim, e de fato eu já sentia meus sentimentos se misturarem em balanços confusos sobre o que achava dela, se a adorava ou a repudiava.

Eu não era seu amigo. Eu não tinha amigos. Nunca tive. Não teria.

***

SUNOO