Capítulo II

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SUNGHOON 

Era a morte que tinha chegado tão perto de mim.

O choro da mulher invadia meus ouvidos, enquanto respirar se tornou tão complicado pra mim.

— Pobres crianças que morreram em vão... — uma falava entre soluços.

Eu pressionei o pequeno corpo que estava em meus braços, de repente sentindo que foi ela que me tirou a tempo de lá.

A morte...

Pessoas comuns morrem por aí o tempo todo, por acaso, num momento estão vivas e depois não estão mais. Eu teria perdido a vida agora mesmo como uma delas, sem o valor de uma morte nobre, sofrida, sem ser em nome de um bem maior como nas batalhas.

— Venha...

Eu teria morrido como um camponês comum.

— Precisamos sair daqui, Dongyoon — alguém pedia.

Eu nunca imaginaria que ser o alvo de um ataque poderia ser tão torturante para minha cabeça, até eu mesmo ser esse alvo agora.

No passado, momentos antes de morrer, meu irmão se sentia assim também?

Um tecido foi colocado sobre minha cabeça descoberta, me chamando a atenção. Vi uma das mulheres. Minha mente estava tão enevoada que eu não disse nada.

— Dongyoon, você precisa ir com seu pai — a mulher falava em minha direção, mas esse não era meu nome.

— Eles podem vir pra cá.

A morte...

Meu corpo estava estático e eu não era capaz de reagir.

Contudo, uma força maior me levou pra longe, como se as árvores se movessem. Eu andava tão desorientado que não sabia o que acontecia em minha volta.

A criança permanecia comigo e essa era a única certeza que eu tinha. Ela era meu amuleto; ela tinha salvado a minha vida. Sem dar por meus pensamentos, eu desejei nunca a deixar, pois eu queria que ela ficasse pra sempre perto de mim.

***

SUNOO

Como um verdadeiro borrão, os momentos seguintes nunca fizeram sentido ao meu imaginário. Havia luzes e aromas. E muitas vozes! Tinha também texturas e até sabores, mas tudo era desordenado.

O único resquício de coerência nesta confusão de sentidos é a certeza que eu tinha de que ele não queria me soltar. Ele poderia ter se prendido a mim a vida inteira.

***

SUNGHOON

Demoramos tempo demais pra chegar ao palácio. Tínhamos cortado o caminho por um lugar que eu não conhecia e o guarda conseguiu dois cavalos com selas.

Se haviam rebeldes em nosso caminho, eles não se atentaram quanto a mim. Ora, o tecido que fora colocado sobre mim era claramente feminino e talvez a minha baixa estatura me confundisse com uma mulher.

A pequena criança também permaneceu comigo. Eu não deixei o guarda sequer chegar perto dela.

— Alteza, entende que não pode ficar com ela, não é?

— Posso dar um jeito — respondi, convicto.

Eu estava exausto com a sucessão de fatos desastrosos daquele dia e ainda assim continuava a aquecê-la magicamente. Precisava de descanso.

Porém, ao contrário de mim, aquela em meus braços se mostrava quieta e relaxada. Não chorou em nenhum momento e pareceu esquecer a mãe.

— O senhor é sempre tão contra as regras — relembrou o homem. — Terá grandes problemas se tentar mantê-la aqui.

Império de Gelo • sungsunOnde histórias criam vida. Descubra agora