Cap IV

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Ela não insistiu, mas me olhou desconfiada até levantar e ir embora. Sua respiração pesada, seu desapontamento voando juntamente com seus longos cabelos castanhos escuros que estavam naquele dia soltos.
_Nathaniel, não é confiável...
_Ele não é seu irmão?
_E não é confiável... falei mantendo mesmo tom sério sem expressões o que fez ela só ir sem dizer nada
Olhou para trás e me encarou com seus olhos claros como se implorasse por respostas, as quais eu não poderia dar, e sumiu aos poucos diante dos meus olhos. Ficando cada passo mais distante, respirei fundo buscando a paciência necessária e levantei indo embora também. Afinal, ficar não fazia sentido e esperar era tolice.
Mas não era um tombo que o faria desistir, e não era um par de asas e uma coroa de luz que iriam me desmotivar.
Eu não iria ficar sentado vendo ele causar atos irresponsáveis e pagar por eles mais tarde.
O confrontei logo quando cheguei e vi suas brincadeiras impunes, estava sentado em sua cama sorrindo para a tela como um verdadeiro humano medíocre daqueles que os anjos como Lúcifer se recusaram a amar. Eu realmente não o culpo, eu não sei se eu conseguiria amar todos sem distinção.
Os que só querem paz e viver tranquilamente eu abriria meus braços e protegeria de qualquer contratempo, porém aqueles que mataram ou fizeram coisas horríveis por insanidade, jamais conseguiria encara-los.
Eu sei que eu mesmo faria questão de julga-los para o fim mais justo e lento possível.
_O que quer? Você já não me derrubou hoje?
_Fiz pouco, mas eu não precisava do fio afinal você tropeça nos seus próprios pés
_Sabia que tinha sido você, o que quer? Sabe o que aqueles velhos farão se souber que usou seu poderzinho por menor que seja
_Não mais que você e suas ações contra a vida dos humanos
_Não seja ridículo, não estou usando poder só persuasão e se sua amiguinha cair é porque foi burra o bastante
_Pare de agir como um babaca, retruquei cansado já de lidar com ele e suas brincadeiras infantis
_Não me atrapalhe!
_Não faça uma guerra da qual eu vou me sujar junto
_É uma brincadeira, seu idiota! Resmungou
_Idiota? Tá sendo um verdadeiro imbecil por causa de humana patética e eu sou o idiota?
_Não tem haver com ela, nenhum humano me diz o que fazer
_Certeza? Devia repensar sobre isso na minha opinião, respondi virando as costas para sair dali o mais rápido que eu conseguisse ele fedia mediocridade
_Eu não pedi sua opinião, falou tomando a última palavra
_Não se trata de pedir, se vai fazer algo que pode me prejudicar saiba que vou me meter e se for preciso vou te impedir com minhas próprias mãos, falei voltando para o encarar firmemente nos olhos os quais se espantaram e não ousaram pronunciar nenhuma palavra sequer
Eu sabia que os humanos podiam ser influenciáveis, mas ao ponto em que um mortal domina um ser maior que ele, é algo realmente novo para mim. Deixei a humana esperta e deixei o meu suposto irmão avisado que eu não pagaria pelas burrices que iria cometer. Minha parte estava feita, não é como se eu não tivesse avisado.
Tentei no outro dia ter mais um dia rotineiro, mas ele mudou com a participação voluntária e totalmente surpreendente que jurei que não me levaria a sério. Ela estava ali, sentada em nossa mesa ao meu lado, comendo sua refeição como se fizesse isso todo dia. Como se sempre foi assim.
Não comentei o fato dela estar ali, nem questionei seus motivos para agir assim, só agi como sempre fiz todos os dias. Depois de lancharmos, levantamos e fomos caminhando lado a lado, e ela era mais uma sombra imperceptível que evitava ruídos e trocas de olhares.
Como não estava sendo barulhenta e nem tentando forçar algum tipo de diálogo entre nós , deixei que ficasse e nos seguisse se isso faria ela se sentir melhor.
Antes do dia realmente acabar e eu entrar em meu carro e desaparecer totalmente, ela esticou seu braço e me parou quando segurou na manga da minha blusa de frio. Parecia uma criança assustada que se perdeu de sua mãe.
Levantou seu olhar que primeiramente fitava o chão e me olhou no fundo dos olhos com uma expressão que deixava claro o quanto ela necessitava de alguma troca de palavras.
_Tudo bem? Falei soltando as palavras como um suspiro
_Você é sempre assim? Perguntou com um olhar suplicante
_Assim como?
_Calado...
_Eu já tive dias melhores
_Sabe você estava certo... Falou desviando rapidamente seu olhar
_Certo? Sobre o que? Perguntei já imaginando o que talvez poderia ser
_Sobre seu irmão, ele não é confiável! Respondeu não mostrando tanta surpresa quanto imaginei
_Como descobriu? Perguntei um pouco interessado
_Escutei uma ligação da Amber com ele dizendo que ele era medroso e não sabia fazer nada certo
_Uau, respondi nada impressionado com os humanos
_E hoje ele foi até a sala na frente da turma horas antes da professora entrar em sala, e pediu desculpas...
_O meu irmão?
_É, e falou coisas horríveis para Amber...
_Caramba, dormi demais e meu irmão foi abduzido! Espero que fiquem com a versão ruim dele, obrigada amigos verdinhos! Respondi debochando ironicamente
_É, eu entendo! É meio difícil de acreditar...
_Demais, então por isso grudou em mim hoje? Com medo de ser a próxima a ser abduzida?
_Não, por mais que eu ache que foi sincero, não dá para confiar totalmente.
_Eu concordo, respondi tentando lembrar de qualquer detalhe de diferente no café
_Obrigada por me deixar ficar perto, respondeu um pouco corada
_Eu que agradeço que queira nossa companhia, somos estranhos de acordo com as estatísticas
_Estatísticas? Perguntou confusa
_Sim os demais alunos, principalmente aqueles caras que se acham incríveis por que sabem chutar uma bola e as garotas que se acham gatas por que balançam um pompom tosco
_Saquei, então hoje não foi um bom dia e você pode ser melhor que um cara quieto dito como bad boy?
_Não entendo porquê falam que sou bad boy, será que uso preto demais?
_Eu acho, quase te confundo com meu tio Bobby que trabalha na funerária
_Seu tio Bobby é um jovem gato mau encarado?
_Não, usa preto como se fosse sua segunda pele
_Que cara de bom gosto, brinco
_Seu humor vai ser melhor amanhã?
_Não sei, tem até às 23:59 para dar alguma coisa que piore meu dia amanhã
_Será que eu posso ajudar com alguma coisa? Perguntou me olhando com um olhar de entusiasmo
_Se conseguisse prender tudo de ruim num potinho, ajudaria muito!
_Está com sono? Pergunta com um olhar um tanto ousado
_Não...
_Quer dar uma volta comigo?
_Tipo um sequestro ?
_Melhor que isso!
_Adoro aventuras, e para onde iríamos? Perguntei me deixando levar pela sua vivacidade
_Não sei, não pensei nisso..
_Então eu não volto para casa para ficar andando como um desorientado na rua com uma pessoa que mal conheço, que pode ser uma psicopata disfarçada?
_É, não é incrível? Brincou
_Tudo o que eu sempre sonhei, falei sorrindo e ela também sorria constantemente _Ok sequestradora temos carro?
_O seu? Perguntou tímida
_Você não tem carro? Minha sequestradora está precisando conseguir dinheiro com sequestros, como vou ser roubado assim, brinquei abrindo a porta do carro para a mesma que sorria
_Irei me esforçar mais da próxima, respondeu com um sorriso largo
Sua alegria era contagiante, como se a vida realmente valesse a pena, como se cada milésimo de segundo valesse o risco. Por alguns instantes não senti maldade no mundo à nossa volta, era como se tudo fosse tão emocionante.
Ela de alguma forma me fazia querer viver ali.

Os demônios que habitam em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora