Leaving My Love Behind | RYEJI

01 | Unsaid

— Sem sexo por um ano?

— Sete meses. — Suspirei. — E sexo é o de menos.

Continuei passeando os olhos pela página virtual do iPad, repassando as últimas noticias sobre o recente julgamento de meu pai.

"Yejun Hwang, o mandante do sequestro que manteve em cárcere privado a própria filha a estrela em ascenção Hwang Yeji, e mais quatro jovens de seu circulo íntimo, ocasionando a morte de um deles, é condenado em solo americano à trinta anos de prisão."

"Depois de várias sessões interrompidas pelos advogados do ex-empresário, finalmente a juíza encarregada dá sinal verde e Yejun Hwang é condenado pelo crime de sequestro seguido de morte (...)"

— E o que seria de mais? — A voz de Mia deslizou até mim. Eu estava mais focada em ler as notícias de uma semana atrás, no entanto, e não em suas palavras

— Não ter ela aqui. — Respondi sem prestar muita atenção, ainda fitando o visor do iPad.

"Advogados lutam na justiça pra diminuir o tempo de reclusão de Yejun Hwang, ex-empresário e autor do sequestro de sua própria filha, a cantora sul-coreana Hwang Yeji."

Eu bufei, afundando o rosto na mão. Mia tomou aparelho de mim e repassou notícia por notícia com uma careta.

— Por que continua vendo isso? O julgamento foi há uma semana.

Suspirei, sentindo meu coração esmagado.

— Eles esqueceram dele. Nem sequer citam o nome. Tudo o que dizem é "morte ocasionada", ou "círculo íntimo de Hwang Yeji". "Hwang Yeji, Hwang Yeji, Hwang Yeji..."

— Essa é a mídia. — Mia deu de ombros. — Só colocam em relevância o que convém.

Eu ergui a cabeça e busquei seus olhos azuis. Ela havia jogado o iPad no sofá e tomava uma cadeira junto à mesa redonda onde eu estava. Era de frente pra abertura da sacada do apartamento, por tanto a vista lá embaixo era de tirar o fôlego.

— Sunghoon ainda é lembrado por quem o conhecia. No fim das contas, isso é o mais importante, não concorda?

Eu suspirei, um terrível de um nó travando minha garganta, mas assenti em confirmação. Fosse como fosse, meu melhor amigo nunca seria  esquecido por mim. Nunca. Nisso Mia tinha razão.

Ainda com o queixo pousado na palma aberta, eu a observei de perfil. Os cabelos pretos estavam mais curtos, batendo pouco abaixo dos ombros. Ela trajava um casaco Gucci, a mais nova marca que a patrocinava. Desde que saímos daquela ilha e as notícias se espalharam pelo mundo, oportunidades de emprego não faltaram a cair no colo dela.

— E Hyunjin ? — Perguntei, buscando em seu olhar a resposta mais sincera.

Mia deu de ombros, desviando o olhar para os prédios enfileirados do lado de fora da sacada. Podíamos ver o topo da Torre Eiffel a alguma distância de nós.

— Ele me pediu em casamento.

Eu arqueei as sobrancelhas, completamente pega de surpresa. Um sorriso curvou meus lábios.

— Sério?

Mia, no entanto, não parecia nada animada enquanto fitava de forma distraída o mundo lá fora. Estava tentando de todas as formas parecer
descontraída e emocionalmente intocável, mas eu sabia que sob toda aquela fachada sorridente, desinibida e sarcástica, haviam pedaços faltando.

— Eu recusei.

Pisquei diversas vezes, encarando seu perfil sem acreditar. Meu sorriso se dissipou rapidamente e eu limpei a garganta, ainda com a atenção
pousada nela.