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Fazia semanas que eu não conseguia escrever nenhum verso de nenhuma música. Tudo parecia uma merda, nada parecia bom o suficiente pra mim. Eu me olhava no espelho todas as manhãs e me sentia péssima, horrível. Nada que eu fazia me era bom o suficiente. Nada. Bom, as coisas melhoraram de dois dias pra cá, mas ainda assim...

Quando na minha quarta sessão de terapia a Dra. Collins sugeriu que eu enfrentasse minhas dores, eu acabei desenvolvendo uma compulsão nada saudável por ler comentários depreciativos ao meu respeito. Pessoas sem rosto criticavam minhas músicas, minha voz, minha importância no ramo musical, minha nacionalidade e minha aparência, e lá estava eu lendo, me deparando com vários e vários comentários xenofóbicos, absurdamente maldosos, e alguns que até mesmo diziam repudiar o fato de que eu saí com vida do sequestro, quando deveria ter morrido nele. Afinal, se até meu próprio pai morto me odiou ao ponto de criar tudo aquilo, algo de ruim eu devia ter feito, né?

Aquelas eram as mesmas pessoas sem rostos que afirmavam que eu só consegui alavancar minha carreira pelo buzz que o sequestro gerou. Se fôssemos ver pelas estatísticas, não era exatamente mentira. Afinal, minha influência na indústria musical cresceu monstruosamente depois de toda a repercussão que o sequestro teve. Também existiam aquelas pessoas que falavam que eu só consegui primeiramente criar a base da minha carreira por causa de Ryujin, do pai dela, e da influência deles. Também não era exatamente mentira, pra ser honesta.

O engraçado era que a maior parte dos comentários maldosos tinham um fundo de verdade, então eu não conseguia encontrar uma brecha pra me defender deles. Em alguns casos, eu me pegava até mesmo concordando.

Na nossa quinta sessão, a Dra. Collins notou que havia algo de errado comigo e me arrancou sobre minha recém-alimentada-compulsão com facilidade, já que aquela mulher tinha algum poder mágico capaz de ler minha mente e me arrancar tudo o que precisava saber. Sério, era absurdo.

A Doutora me pediu pra ficar longe da internet e aquele já era o quarto dia corrido desde que eu comecei a me afastar. Eu não podia negar: as coisas estavam começando a se encaixar, embora nada fosse definido ainda.

Meus pensamentos continuavam dolorosos e minha mente ainda estava inundada pela represa que transbordou dentro de mim, mas se eu aprendi algo em minhas sessões de terapia, foi que a pressa era inimiga do bem- estar, então as coisas estavam se desenrolando, mas se desenrolando devagar. Notei alguns progressos pequenos, como por exemplo, Sunghoon. Eu conseguia pensar nele sem querer chorar, o que já era um avanço. Após minha primeira visita ao cemitério, eu fui mais duas vezes. Na última ainda doeu, mas doeu um pouco menos.

Outro pequeno progresso veio em forma de noites em que eu conseguia dormir sem pensar demais, e às vezes até mesmo sem chorar. Minhas sessões com a Dra. Collins me ajudaram a compreender um pouco mais da minha própria cabeça e dos meus próprios medos, portanto dia após dia eu conseguia lidar um pouco mais com eles. É, as coisas estavam se encaminhando. Longe de estarem bem, mas estavam se encaminhando.

A represa dentro de mim continuava transbordada, com suas águas agitadas e suas ondas de dez metros que me atingiam e me afogavam de dentro pra fora, mas a cada dia e com a boa e mágica mentoria da Dra. Collins, o nível de água ia se tornando cada vez menor.

A mulher garantiu que se déssemos um passo após o outro, sem pressa e com calma, eu encontraria meu equilibrio no fim. A promessa de um final feliz era o que me mantinha prosperando.

Decidi, depois de uma boa conversa com ela, que seguiria a programação normal do meu trabalho, mesmo porque eu tinha um show no fim do próximo mês e precisava ensaiar uma música ainda sem coreografia e gravar no estúdio o áudio daquela que eu compus pra Ryujin, já que pretendia soltá-la no dia posterior ao show, onde eu a cantaria ineditamente.

Leaving My Love Behind | RYEJIOnde histórias criam vida. Descubra agora