Do passado ao presente - macó

Vizinhos de muro

2024, Carla Maraisa - Araguaína

- É muito estranho olhar para tudo que estou vivendo e sentindo, sentimentos que estavam guardados em algum lugar dentro que mim onde eu não conseguia e nem sentia vontade de acessá-los. Em 7 meses tudo mudou, estou apaixonada, noiva, organizando meu casamento e nesse exato momento meu noivo está dormindo com a cabeça em meu peito, logo após de fazer toda a sua sessão de cuidados com a cicatrização do meu nariz.... Estou sendo cuidada do jeitinho que sempre imaginei mas que nunca consegui viver. Fechar os olhos e relembrar a nossa história é ter a certeza que sempre nos encontramos no mesmo lugar e esperando um pelo outro, nem que a espera durasse uma vida a mais.

7 de outubro de 2002- Araguaína

Pov Maraisa

Ouvi minha mãe me acordar no banco de trás do carro enquanto meu pai já tirava as nossas malas, aquela seria a nossa nova casa, seria mais um lugar em que a gente moraria devido ao trabalho do meu pai e seria mais um lugar onde iríamos tentar a sorte para realizar o maior sonho da minha vida e da minha metade: cantar.

- Filhas me ajudem a levar as malas de vocês para os quartos - ouvi meu pai gritar de dentro da casa e então eu e minha irmã ajudamos a colocarem as malas em seus devidos lugares.
Aquela casa era de aluguel de um dos empresários da cidade, o senhor Emídio, dono de uma loja de material domésticos e meu pai havia falado que ele morava ao nosso lado, dividindo o mesmo muro. Maiara sempre muito extrovertida achou o máximo ele ter 3 filhos, pra ela seria as primeiras amizade que ela faria ali naquela cidade, e eu... bem, eu iria ficar de olho, já que fazer amizades não era o meu forte.

Ao ir mais uma vez ao carro, dessa vez para pegar o meu violão eu encontro um rapaz, que logo se apresentou como Fernando e ao ver o que eu estava nas mãos começou a puxar assunto sobre música e sertanejo, ele falava demais e eu não tava muito afim de ouvir, acho que ele seria um bom amigo para a tagarela da minha irmã.

- Maiara, tem um rapaz lá na sala, eu acho que ele é o filho do dono da casa - falei enquanto minha irmã corria para a porta tentar ver o tal rapaz e então ela logo foi conversar com ele, sob o meu olhar atento e curioso sobre o que essa doida iria falar.

- Eai, tudo bem, eu sou a Maiara- ouvi ela dizer sob o olhar confuso do rapaz, acho que ele não sabe do grande detalhe de sermos gêmeas, mas ele logo vai perceber a diferença entre a gente.
- Nossa, você são gêmeas idênticas né, que legal. Me chamo Fernando, eu moro aqui do lado e sou filho do Emídio - Ele logo então tratou de se apresentar para a minha gêmea e pelo que eu conheço da minha irmã ela não iria deixar ele em paz, muito menos depois de saber que ele também amava música.

Eles começaram a conversar e o Fernando falou que amanhã iria ter uma pescaria no rio Araguaia e que meu pai iria também e apesar de não conhecer ninguém eu iria pedir para ir com o meu pai, pescar é uma das minhas paixões, assim como montar a cavalo. Foi aí então que eu vi meu pai adentrar pela sala confirmando que todos nós iríamos na pescaria, já que minha mãe também amava pescar, aliás, isso é quase que um patrimônio da nossa família.

- A sua gêmea parece ser muito legal, mas ela é meio fechada né, e ela é muito bonita também, tomara que ela se torne minha amiga - fiquei atônita ao ouvir aquelas palavras saindo na boca do moço, ele parece ser super legal, mas a forma como ele se referiu a mim me causou um certo arrepio e ouvir ele perguntando mais sobre mim para a minha irmã me deixou curiosa pra saber o motivo dele querer saber tudo aquilo sobre mim.... Mas pensando bem, sinto que podemos nos tornar colegas ou apenas vizinhos de muro, já que temos gostos em comum.