Quando eram mais novos, Pedro e João entraram em um acordo de que todos os verões eram deles e eles passariam o maior tempo possível juntos. A única regra era não se apegar, porque João detestava despedidas.
Ou
Aquela em que João quer que Pedro fiqu...
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Aquilo começou em uma noite meio fria de março. O outono recém chegado levava embora o calor do verão e para o cacheado, levava embora também o calor das palavras e dos toques de Tófani. João ligou para Pedro, assim, de repente. A saudade apertava seu peito, ainda que só fizesse pouco mais de um mês que Pedro tinha voltado 'pra casa. Ele atendeu após dois toques e só ouviu o silêncio.
— Jão...? Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa, gatinho? — pergunta preocupado, a voz mansa e o sotaque carregado de sempre. Pôde ouvir o outro suspirar do outro lado. Parecia um pouco aliviado.
— Tá, tá sim! Não aconteceu nada, na real. Pra falar a verdade, só me deu muita vontade de te ligar, ver como 'cê 'tá... — e eu tô com muita saudade, João pensa e de certa forma, Palhares sentia. De repente, Balbino pensa um pouco, ele nunca tinha telefonado para Pedro antes. Eles nunca tinham se falado durante o ano, João acaba um tanto receoso quando pensa melhor. — Me desculpa se eu estiver atrapalhando...
O sentimento ruim não durou muito, de qualquer forma. Foi só ouvir Tófani que todo o receio foi embora. Pedro acaba sorrindo e podia jurar ter 'ouvido' o sorriso de Romania do outro lado da linha. João nunca pensou que pudesse gostar tanto assim de um sotaque, de ouvir uma voz.
— Eu tô bem. Fico muito feliz que você tenha ligado, apesar da surpresa. Você não me incomoda nunca, João Vitor, você não é um peso. Senti saudade de ouvir tua voz, inclusive.
Como aquilo parecia tão natural para Pedro? Era o que Romania se perguntava, ele nunca tinha medo de mostrar pra João como se sentia sobre ele, sobre tudo. Já ele se sentia aterrorizado em demonstrar tanto assim, bom, pelo menos ele achava que não demonstrava. João às vezes queria ser como Pedro, tudo parecia sempre tão na medida pra ele. Para Romania tudo parecia doer de forma exacerbada. A saudade, os finais, as despedidas. Talvez fosse emocional demais.
Foi assim durante o ano todo. O telefone tocava e fazia o peito de João vibrar por já saber quem ligava, esse tipo de coisa só acontecia quando era Pedro quem ligava. Se tornou rotina, os dois esperavam todo fim de noite, de forma ansiosa, pelas ligações.
